sábado, 11 de abril de 2020

«As palavras mal soam» de Isabel del Toro Gomes



No 30º dia de Quarentena devido ao Covid 19 e à beira de um ataque de nervos, pois a situação sanitária e o nº de mortos em Portugal continua assustadora e a respectiva sanidade mental é cada vez mais difícil de manter, aqui fica mais um excerto de um poema meu. 
Foi escrito noutras circunstâncias de angústia, mas adapta-se às actuais.


As palavras mal soam
Na minha memória
Longínquas e esquecidas
Qual viajante peregrino
Em busca do seu caminho
Por entre as urzes perdidas.

Isabel del Toro Gomes



terça-feira, 7 de abril de 2020

«Dia tristonho e cinzento» de Isabel del Toro Gomes



Dia tristonho e cinzento.
Mesmo assim mais um dia de vida com poesia. 
Com uma cesta de flores deslumbrantes, oferecidas pelo marido num dia.

Dia tristonho e cinzento
Onde foram parar
Os dias felizes de outrora?
Nada deles parece restar
Para além das belas paisagens
Dos postais ilustrados.
E de nós só parece ter ficado
Este pobre retrato desarticulado.





domingo, 5 de abril de 2020

«Film» de Adolfo Casais Monteiro



Adolfo Vítor Casais Monteiro  (Porto, 4 de Julho de 1908 - São Paulo, 23 de Julho/24 de Julho de 1972)  foi um poeta, tradutor, crítico e novelista português. 


Esperemos que as nuvens passem, como diz Adolfo Casais Monteiro neste poema. Hão-de passar .
Nada será como dantes, faltarão muitos que foram vítimas desta pandemia, mas as noites continuarão a suceder-se aos dias, a alegria voltará como nos anos 20 depois da 2ª Guerra Mundial, os vivos continuarão a tarefa iniciada pelos pais e pelos mortos.
Como nos filmes.




Film
Asas...Tanta coisa me fugiu!
Caminhos, entreabertas onde
espaço que não os becos?
Tantas fogueiras acesas
havia na minha vida...
Brancura. Nada se prende
nas malhas que se romperam.
E todavia, há ainda os horizontes!
Espero que as nuvens passem.

Adolfo Casais Monteiro
«Poesias Completas»




sábado, 4 de abril de 2020

«Ilha do Pessegueiro» de Isabel del Toro Gomes



Ilha do Pessegueiro


Nesta ilha - paraíso

Já não há nenhum pessegueiro



De dia

Apenas aves

Céu e paisagem



À noite

Promessas de mil estrelas e astros

Sobre o mar



Aí volvemos

Ao princípio dos tempos

Somos Adão e Eva



Comemos maçãs
Corremos saltamos

Somos companheiros

Inseparáveis e felizes.

Isabel del Toro Gomes
23 de Julho 2005


terça-feira, 31 de março de 2020

«Sonhos» de Isabel del Toro Gomes


«A neve» de Isabel d.T.Gomes

Hoje, último dia do mês de Março deste fatídico ano de 2020, foi-se o sol e veio o frio, a chuva e a neve.
Para nos deixar ainda mais tristes e desmoralizados.
Como se costuma dizer:  «Não há mal que venha só».
Resta-nos a esperança, como sempre.


Sonhos

Toda a gente podia
Ouvir os pássaros a cantar
Nos campos ou até nas cidades...
Mas só alguns os ouvem.
Toda a gente podia
Observar a forma das nuvens
Admirar uma flor
Refrescar-se à sombra duma árvore
Correr na areia da praia
Sentir o sol, passear à chuva...
Todos nós podíamos versejar
Sobre as coisas simples da vida
Transformar as tristezas em rimas
E as alegrias em poemas.






domingo, 29 de março de 2020

«Eu sou Yoga» de Susan Verde



Muitas crianças já praticavam yoga antes da crise do Covid 19, para tranquilizar a mente e o corpo.
Esta é uma prática que está cada vez mais divulgada, entre adultos, jovens e crianças.
Recomendo este livro:
«Eu sou yoga» de Susan Verde, Editor: Nascente
Para todos.
Um livro muito bonito que aborda como o yoga e algumas posturas podem ajudar a se acalmar e ver o mundo de outra forma.
Além disso os desenhos são muito bem feitos.

sábado, 28 de março de 2020

»La solitude» , Leo Ferré



Léo Ferré 

(Mónaco, 24 de Agosto de 1916 / Castellina in Chianti, Itália 14 de Julho de 1993)


Solidão em tempo de pandemia do Covid-19.
Duas semanas em casa, sem perspectiva de quantas mais serão.
A grande voz de Leo Ferré.
A França em sofrimento.
E quase todos os outros países da Europa, muitos no Mundo inteiro.

La Solitude
Léo Ferré

Je suis d'un autre pays que le vôtre, d'un autre quartier, d'une autre solitude
Je m'invente aujourd'hui des chemins de traverse
Je ne suis plus d'chez vous
J'attends des mutants
Biologiquement je m'arrange avec l'idée que je me fais de la biologie
Je pisse, j'éjacule, je pleure
Il est de toute première instance que nous façonnions nos idées comme s'il s'agissait d'objets manufacturés
Je suis prêt à vous procurer les moules
Mais
La solitude
Les moules sont d'une texture nouvelle, je vous avertis
Ils ont été coulés demain matin
Si vous n'avez pas dès ce jour, le sentiment relatif de votre durée, il est inutile de vous transmettre
Il est inutile de regarder devant vous car devant c'est derrière, la nuit c'est le jour
Et
La solitude
La solitude
La solitude
Il…
La solitude
La solitude
Le désespoir est une forme supérieure de la critique
Pour le moment, nous l'appellerons "bonheur", les mots que vous employez n'étant plus "les mots"
Mais une sorte de conduit à travers lesquels les analphabètes se font bonne conscience
Mais
La solitude
La solitude
La solitude, la solitude
La solitude
La solitude
Le Code civil nous en parlerons plus tard
Pour le moment, j'voudrais codifier l'incodifiable
J'voudrais mesurer vos danaïdes démocraties
Je voudrais m'insérer dans le vide absolu et devenir le non-dit
Le non-avenu, le non-vierge par manque de lucidité
La lucidité se tient dans mon froc
Dans mon froc









https://www.youtube.com/watch?v=QRMJngZ6G5A&feature=share&fbclid=IwAR0ASVvw4MW9qpv6XARJl5CGQrxrdGQsfOLbZuA10TKqNXGfc8q_tjjC1dE