Pepetela, pseudónimo de Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, nasceu em 1941 em Benguela e é um dos mais importantes escritores angolanos. Recebeu o Prémio Camões em 1997, confirmando o seu lugar de destaque na literatura lusófona.
Neste livro, Pepetela faz uma crítica mordaz ao abuso de poder e aos sistemas de governo totalitários disfarçados de democracia, usando um sentido de humor inteligente, em que qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.
A ideia de colocar um presidente-ditador defunto no seu velório, num enorme salão cheio de flores, a ver todos os que lá vão (as suas várias mulheres e filhos…) e a recordar toda a sua vida, é uma ideia de génio que agarra o leitor logo ao primeiro parágrafo.
O ditador está morto, mas vê, ouve e pensa.
Somos de uma terra de mistérios, mas há limites.
Uma ideia estranha me martelava o cérebro morto ou quase. Porque ainda me fazia certa confusão estar morto, saber disso e pensar, o que foge a toda a racionalidade. Se o mundo fosse como sempre pensámos, esquecendo ou desconhecendo a tal outra dimensão.
(…)
Os ladrões tecem sempre muitos laços e escondem-nos bem, já devia o Maquiavel ter explicado aos pretendentes a políticos.
(capítulo nove).