terça-feira, 10 de junho de 2014

« O Amor em tempos de cólera» de Grabiel Garcia Marquez


O Amor em Tempos de Cólera de Gabriel Garcia Marquez é um grande romance (371 páginas) de amor em que o autor prova que este sentimento é (e será sempre, digo eu) o grande motivo da vida universal, a energia maior que nos faz levantar todos os dias, capaz de vencer todos os obstáculos, nem que leve uma vida inteira.
 
A chama que temos de acender logo de manhã, e manter iluminada ao longo do dia. Contra tudo e contra todos!



O mesmo acontece com os manatins, esses belos e redondos animais que povoavam o rio Amazonas e alguns rios da América Latina!!



Até serem abatidos um a um, numa fúria criminosa dos caçadores que os matam a tiro, até ao extermínio quase total...


A união destes dois temas, o elogio do amor e a defesa da natureza, fazem deste livro um bom motivo para lhe dedicarmos muitas horas das nossas vidas.
 

quinta-feira, 29 de maio de 2014

«Um rosto na cidade» de David Mourão-Ferreira




Sempre a poesia e os poetas, que nos salvam do efémero caótico do dia a dia a que nos querem condenar.
E as cidades que eles nos evocam, como Veneza (cidade a emergir da terra), Sevilha ou, noutra escala,  Aveiro,  também bela e pitoresca com os seus barcos e canais.
Os rostos, esses, continuam a passar pelas cidades, mas sem risos.
 
 
David de Jesus Mourão-Ferreira (1927/ 1996) 
 
 
 Veneza e as suas gôngolas
 
Um rosto na cidade



Um rosto   Uma cidade  
Um rosto sem nevoeiro
Acordas de manhã no golfo do meu ombro
E vem contigo a luz dos campi de Veneza
com a laguna ao longe e gôndolas na sombra
Um rosto   Uma cidade a espreguiçar-se ao vento
Luz de canais em torno   E de canais por dentro

Um rosto   Uma cidade  
E um rasto se adivinha
no riso de uma rua   à esquina de uma ruga
Nem vejo a tua boca   Um pátio de Sevilha
agradece em Agosto a chegada da chuva
Um rosto   Uma cidade a emergir da terra
Luz de pátio molhado   E de água na cisterna

                                                               David Mourão-Ferreira, in Matura Idade




Aveiro
De dia e à noite, com os seus  barcos moliceiros - 2004
 

sábado, 17 de maio de 2014

«É preciso avisar toda a gente...»



João Apolinário (Belas, Sintra, 1924 — Marvão, 1988) foi um poeta e jornalista português.
Combateu o fascismo tanto em Portugal como no Brasil, durante o tempo que aí esteve exilado. 
Colaborou em inúmeras publicações importantes nos dois países. É, no entanto, mais conhecido pelos seus poemas , musicados pelo filho João Ricardo e apresentados pelo conjunto Secos e Molhados.

Publicou ainda os livros Primavera de Estrelas, Apátridas, AmorfazerAmor, Poemas Cívicos e Eco Humus Homem Lógico, entre outros. Retornou a Portugal em 1975, após a Revolução dos Cravos. João Apolinário morreu a 22 de outubro de 1988, na pequena vila portuguesa de Marvão.
 
 
 
                              Urgente... Mais flores

É preciso avisar toda a gente
Dar notícia, informar, prevenir
Que por cada flor estrangulada
Há milhões de sementes a florir.

É preciso avisar toda a gente
Segregar a palavra e a senha
Engrossar a verdade corrente
De uma força que nada detenha.

É preciso avisar toda a gente
Que há fogo no meio da floresta
E que os mortos apontam em frente
O caminho da esperança que resta
É preciso avisar toda a gente
Transmitindo este morse de dores
É preciso, imperioso e urgente
Mais flores, mais flores, mais flores.
 
 
                              João Apolinário
 
 


sábado, 10 de maio de 2014

Abuso de poder e de liberdade


                                                                Luis de Stau Monteiro



Estava a ler a peça de teatro «Guerra Santa» de Luis de Stau Monteiro, que critica a ditadura de Salazar e a guerra colonial, quando,de repente, se fez luz e entendi finalmente o que se passou no nosso país nos últimos anos, principalmente nos da governação do XIX governo Constitucional.

É simples: houve alguns sujeitos mal formados que se aproveitaram das liberdades conquistadas pelo 25 de Abril, apropriaram-se de todos os direitos em seu próprio proveito e abusaram da própria Liberdade, que lhes foi fraternalmente concedida, para destruir um país.
Uns escalrachos, em última análise, ou seja, ervas daninhas e parasitas.




 
E ainda se dão ao desplante de dizer mal da Revolução de Abril de 74, ou de quem participou nela.
 
É por isso é que é bom ler!! 


quarta-feira, 30 de abril de 2014

«Liberdade»

 
 
 
Liberdade
 
Só merece a liberdade e a vida aquele que as conquista a cada instante.
 
                                                                  Goethe, Fausto
 


domingo, 27 de abril de 2014

«Auto-retrato com a musa» de Vasco Graça Moura

                                                           

Vasco Graça Moura nasceu na Foz do Douro, Porto, a 3 de Janeiro de 1942; e faleceu em Lisboa, a 27 de Abril de 2014.
Hoje foi o dia do adeus ao poeta, a um dos mais importantes vultos da literatura e da cultura portuguesas, e ao defensor incontestável da integridade da língua portuguesa.
Aqui ficaremos nós, os amantes como ele da nossa língua, para continuarmos a sua luta.

Formou-se pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, em 1966.  Depois de ter exercido
advocacia, desempenhou vários cargos públicos.
Foi colaborador de jornais, revistas e de canais de televisão. Tem muitas das suas obras traduzidas para italiano, francês, alemão, sueco e espanhol. É autor de numerosos ensaios, alguns deles premiados, e de excelentes  traduções literárias.

Foi distinguido com vários prémios, entre os quais o Prémio Pessoa (1995), o Prémio de Poesia do PEN Clube (1997) e o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa em Lisboa de Escritores (1999). Em 1997 foi-lhe atribuída a Medalha de Ouro da Cidade de Florença, pelas suas traduções de Dante. Em 2004, ganha a Coroa de Ouro do Festival de Poesia de Struga (Macedônia), sendo o primeiro poeta português a ser distinguido com este galardão. Foi membro efetivo da Académie Européenne de Poésie (Luxemburgo).


                                                      Auto-retrato com a musa
          
          
            1.
           
           
            vejo-me ao espelho: a cara
            severa dos sessenta,
            alguns cabelos brancos,
            os óculos por vezes
            já mais embaciados.
           
            sobrancelhas espessas,
            nariz nem muito ou pouco,
            sinal na face esquerda,
            golpe breve no queixo
            (andanças da gilette).
           
            ia a passar fumando
            mais uma cigarrilha
            medindo em tempo e cinza
            coisas atrás de mim.
            que coisas? tantas coisas,
           
            palavras e objectos,
            sentimentos, paisagens.
            também pessoas, claro,
            e desfocagens, tudo
            o que assim se mistura
           
            e se entrevê no espelho,
            tingindo as suas águas
            de um dúbio maneirismo
            a que hoje cedo. e fico
            feito de tinta e feio.
           
           
            2
           
           
            quem amo o que é que pode
            fazer deste retrato?
            nem sabê-lo de cor,
            nem tê-lo encaixilhado,
            nem guardá-lo num livro,
           
            nem rasgá-lo ou queimá-lo,
            mas pode pôr-se ao lado
            e ter prazer ou pena
            por nos achar parecidos
            ou não achar. quem amo
           
            não fica desenhado,
            fica dentro de mim
            e é quando mais me apago
            e deixo de me ver
            e apenas me confundo,
            amador transformado
            na própria coisa amada
            por muito imaginar.
            assim nem john ashberry,
            nem o parmegianino,
           
            nem espelho convexo,
            nem mesmo auto-retrato.
            só uma sombra que é
            na sombra de quem amo
            provavelmente a minha.
           
           
            3
           
           
            quem amo tem cabelos
            castanhos e castanhos
            os olhos, o nariz
            direito, a boca doce.
            em mais ninguém conheço
           
            tal porte do pescoço
            nem tão esguias mãos
            com aro de safira,
            nem tanta luz tão húmida
            que sai do seu olhar,
           
            nem riso tão contente,
            contido e comovente,
            nem tão discretos gestos,
            nem corpo tão macio
            quem amo tem feições
           
            de uma beleza grave
            e música na alma
            flutua nas volutas
            de um madrigal antigo
            em ondas de ternura.
           
            é quando eu sinto a musa
            pousando no meu ombro
            sua cabeça, assim
            me enredo horas a fio
            e fico a magicar.
          
                                              
                              
           

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Uma nova flor em abril de 1974



40 anos dos cravos de abril



Hoje, comemoram-se os 40 anos do 25 de abril.
Este ano tudo se torna muito mais dramático e constrangedor, pois os portugueses estão mergulhados numa profunda crise financeira, ditada pelas forças mundiais do capitalismo e pela actual União Europeia, que as defendem e as promovem, baixando os salários e aumentando os impostos das classes trabalhadoras em geral e da classe média em particular.
Por isso, as preocupações dos portugueses são mais que muitas quanto ao seu futuro e dos seus filhos, e pouca a energia para festejar ou comemorar alegremente este dia da libertação do fascismo, como em muitos outros anos anteriores.
O que é bizarro, ou talvez não, é que também eu comemoro 40 anos de conhecimento mútuo e de convívio diário com o colega de curso que se tornaria o marido e companheiro de todos os dias. Foi uns dias depois deste memorável dia de abril de 1974 que nos conhecemos a sério, pois só nos conhecíamos de vista até aí.
As aulas na Faculdade de Letras foram então interrompidas, como em todos os estabelecimentos de ensino do país, seguindo-se meses de euforia, confusão, de farniente e de tardes passadas em cafés, esplanadas ou no Itau de Entrecampos, como foi o nosso caso. As minhas amigas e eu numa mesa, ele noutra ao pé.
Começámos a ver-nos e a encontrarmo-nos por ali, no mesmo sítio, até que metemos conversa e tudo se desenrolou como estava escrito là haut. Era o nosso destino! Ou alguns pós mágicos que nos caíram em cima, lançados por algum Cupido desenvergonhado!

Nessa altura éramos jovens, pois éramos, apenas 19 anos e uma enorme vontade de liberdade, de falar uns com os outros, de nos ajudarmos, de nos apaixonarmos. Foi amor à 1º vista, nessa altura, tiro e queda. Tudo o propiciava. Foi bonito. Casámos passados 6 meses, começámos a viver juntos até hoje em Novembro de 1974.

Por isso, a comemoração desta data é para mim tão especial. Foi com ela e através dela que se iniciou a minha vida de adulta.

Tantas recordações, tanta coisa nova que experimentei, tanta coisa que aconteceu.

 Éramos jovens, a malta era jovem, pois era!!

E Isso nunca mais vai acontecer, tenho a certeza.
Mesmo tendo nascido uma flor nova em Portugal, o cravo vermelho, como diz Geoges Moustaki no seu fado tropical.