Aqui está uma das vantagens de se ler livros: ontem à noite, ao ler o livro de Álvaro Guerra (magnífico escritor), Razões de Coração, Romance de paixões acontecidas em Mafra ocupada pelos franceses no ano de 1808 (magnífico livro e um documento imperdível sobre a invasão francesa por terras de Portugal), descobri o nome e a história do forte da Ericeira, por onde já várias vezes passeei, não sabendo nada sobre ele, pois nada consta no local.
Quando Álvaro Guerra menciona o Forte de Milreus, pus a cabeça a trabalhar e relacionei o nome de Mil Regos (nome do Parque de Campismo da Ericeira), descobrindo «a pólvora»: era este o nome do forte por onde eu tantas vezes passeei. Eureka!
Estas são as informações principais sobre este forte, de longa e interessante história:
O Forte de São Pedro da Ericeira, também conhecido como Forte de Mil Regos, Forte de Milreu ou Forte da Ericeira, localiza-se na povoação da Ericeira, no concelho de Mafra, distrito de Lisboa, em Portugal.
É o último remanescente dos poucos fortes erguidos à época da Restauração da Independência, para defesa daquele trecho do litoral. Destinava-se a controlar o
acesso marítimo à Ericeira pelo setor norte e, ao mesmo tempo, prevenir
qualquer tentativa de desembarque na baía vizinha, formada pela praia de
Ribeira de Ilhas.
Em 1735, o forte contava com sete peças de artilharia.
Danificado pelas fortes intempéries registadas na região em 1751,
procedeu-se à reconstrução de alguns elementos estruturais, cuja
estabilidade foi seriamente agravada pelo terramoto de 1755, entrando o
forte em processo de ruína.
No início do século XIX a 3 de Janeiro de 1819, o governador do forte e a Câmara solicitaram auxílio ao soberano, visando a reconstrução do cais, desmoronado por ação do mar.
No contexto da Guerra Civil Portuguesa (1828-1834), foi reparado entre 1831 e 1832,
sendo utilizado pelas forças miguelistas. Entretanto, em meados do
século recaiu outra vez em abandono, levando a que por requerimento
endereçado em 1871
ao Ministro da Guerra, fosse solicitada a utilização de algumas das
suas lajes no restauro e construção dos anexos da igreja de São Pedro da
Ericeira, o que foi prontamente anuído, enquanto que, na década de 1880, foi recolhida a artilharia remanescente.
Em 1891, a Guarda Fiscal instalou-se nas dependências do Forte da Ericeira e na antiga Casa do Governador, anexa ao mesmo, utilizada à época como escola para meninas. Nesse período, em 1896, tendo desabado parte da muralha do forte, o orçamento para os reparos devidos elevou-se a 35 contos de réis.
No início do século XX, o antigo forte foi reequipado de artilharia por determinação de D. Manuel II (1908-1910).
Novamente abandonado, em 1940, foi reedificada a muralha subjacente, passando o imóvel a ser tutelado pelo Ministério das Finanças. Nesse período, em 1945, foram feitos projetos pela Junta de Turismo da Ericeira, contemplando a adaptação do antigo forte a miradouro, a instalação de uma casa de chá e o estabelecimento de uma pousada.
Classificado como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto 129/77, publicado em 29 de Setembro de 1977, o forte apenas foi objeto de conservação na década de 1980, quando a DGEMN procedeu à reconstrução da muralha e do pavimento do terraço.
Atualmente conservam-se os seus espaços mais importantes: a bateria,
formada por uma ampla esplanada voltada para o mar, a casa-forte, pelo
lado de terra, com compartimentos abobadados.
Pergunto-me a mim mesma, como é que é possível que um monumento com esta importância histórica esteja hoje sem uma placa sequer de identificação, pois a Ericeira é um local de muito turismo e o Forte facilmente visitável, por um caminho de terra.
Excelentíssimos senhores da Câmara de Mafra ou quem de direito: por favor, mandem fazer uma placa para este monumento e ponham-no bem visível. Não levem a mal, é um conselho de uma amiga da Ericeira e dos monumentos, mesmo dos esquecidos.