terça-feira, 25 de setembro de 2012

«Espaço do invisível 2» de Vergílio Ferreira



 
Não há criança nenhuma que não goste de palhaços e de circo! Até muitos adultos gostam, como eu!
Esta personagem ridícula e cómica, pobre ou rico, faz parte do nosso imaginário individual ou coletivo.
Achei surpreendente a afirmação de Vergílio Ferreira neste seu livro, Espaço do invisível 2, quando afirma que o Palhaço era um lugar-comum da arte dos primeiros cinquenta anos do século vinte, que fascinava os escritores, os poetas e outros artistas. Basta lembrar O Palhaço Verde de Matilde Rosa Araújo, entre muitos outras obras.
O Palhaço é sempre um símbolo de imensas coisas, mas é sobretudo uma pessoa de carne e osso que faz rir os outros, mesmo sem ter vontade nenhuma, um homem (ou mulher) que trabalha duramente no circo, que representa a alegria, a vontade de viver e de ultrapassar as dificuldades com uma sonora gargalhada, até de si mesmo. 
Deve ser muito difícil ser palhaço nos dias que correm, por isso ainda os devemos admirar mais.
Eu admiro-os ao ponto de ter começado há vários anos uma coleção de palhaços, de todas as formas e feitios.
Se calhar por ter nascido nos anos cinquenta do século XX! De qualquer maneira, sempre me atrairam.
Aqui fica esta pequena homenagem ao Palhaço.
 


São sobretudo os palhaços, que centram a sua tragédia na própria alegria que dão aos outros. O palhaço é um lugar-comum da arte deste meio século. Ele fascina como símbolo do contraste entre a verdade trágica da vida e a plenitude que se lhe sonha. Ele fascina ainda porque reincarna o Cristo que se condena para que os outros se salvem. Variedade do poeta, do artista, que chama a si os pecados do mundo para que os pecadores se redimam, o palhaço é em tragédia na obra de Raul Brandão o que as velhas são em comédia.

                      Vergílio Ferreira, No Limiar de um mundo, Raul Brandão, in Espaço do Invisível 2

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

«Monangambé», por Lura



Mesmo os que nunca estiveram em África conheciam a bela canção interpretada por Rui Mingas, que fala dos Monangabé, os negros de Angola que eram contratados para as roças longe de sua casa e de suas terras natais. E que aí trabalhavam e sofriam para sobreviver. História antiga e de sempre, afinal!
Escolhi a interpretação de Lura pela sua voz lindíssima e por ser uma versão menos conhecida, talvez.
António Jacinto é o poeta que escreveu a letra e que transmitiu magistralmente o sofrimento das gentes angolanas.


http://www.youtube.com/watch?v=NtwuSSxEmFk




 Monangambé

Naquela roça grande
não tem chuva
é o suor do meu rosto
que rega as plantações;
Naquela roça grande
tem café maduro
e aquele vermelho-cereja
são gotas do meu sangue
feitas seiva.

O café vai ser torrado
pisado, torturado,
vai ficar negro,
negro da cor do contratado.
Negro da cor do contratado!

Perguntem às aves que cantam,
aos regatos de alegre serpentear
e ao vento forte do sertão:

Quem se levanta cedo?
quem vai à tonga?
Quem traz pela estrada longa
a tipóia ou o cacho de dendém?
Quem capina e em paga recebe desdém
fuba podre, peixe podre,
panos ruins, cinquenta angolares
"porrada se refilares"?

Quem?
Quem faz o milho crescer
e os laranjais florescer?
- Quem?
Quem dá dinheiro para o patrão comprar
máquinas, carros, senhoras
e cabeças de pretos para os motores?

Quem faz o branco prosperar,
ter barriga grande
- ter dinheiro?
- Quem?

E as aves que cantam,
os regatos de alegre serpentear
e o vento forte do sertão
responderão:

- "Monangambééé..."

Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras
Deixem-me beber maruvo
e esquecer diluído
nas minhas bebedeiras

- "Monangambéé...'"

António Jacinto(Poemas, 1961)

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Isabel Silvestre

  
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjiwjk9WSVtj5Q2YyQ-y7ML6WHlsP8_1p1TkGuy3dvhKn8SsJS1fRHelbuE-W5PHb-H02iIUhmsNM_Mhhqtf_EimuV2ZRguSSr2ewBSKVgdXdUO4s02F8ppVE9stbXZXsZorIWy6CyyKLwn/+silvestre.jpg

 http://www.youtube.com/watch?v=4BHdvDYyCVA


Posso dizer que gosto de todas as canções de Isabel Silvestre, mas toca-me profundamente este tema que nos fala dos trabalhos do campo, das angústias e tristezas do nosso povo que sofreu e continua a sofrer, que ela canta magistralmente com a sua voz simultaneamente doce e agreste.


Isabel Silvestre é uma cantora popular do grupo Cantares de Manhouce, trazida ao grande público pela mão de Rui Reininho (GNR), através da "Pronúncia do Norte", uma das faixas do "Rock In Rio Douro".

Professora do Ensino Primário, foi Isabel Silvestre que fundou em 1978 o Grupo Cantares e Trajes de Manhouce. 
Outras participaçõe de Isabel Silveste incluem nomes como Sérgio Godinho, Mão Morta, Madredeus e Delfins (no disco de homenagem à personalidade de António Variações). 
Participou ainda no CD Bom Jesus - Alegria dos Homens, produzido na Ilha da Madeira, com música popular religiosa. Com a Banda Futrica participou numa versão de Menino do Bairro Negro, incluída no disco Com Zeca No Coração, de 2007. 
Em 2006 lançou o álbum Cantar Além.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Manuel Hermínio Monteiro





 Manuel Hermínio Monteiro nasceu em Vila Real, a 10 de setembro de 1952. Faria hoje 60 anos.
Relembramo-lo aqui, não só como editor, impulsionador da cultura em Portugal mas sobretudo como grande dinamizador da poesia.
Uma das suas últimas iniciativas neste âmbito foi a antologia Rosa do Mundo 2001 Poemas para o Futuro. Esta obra, lançada pela Assírio & Alvim em parceria com a Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura, reúne em cerca de 2000 páginas uma coleção de 2001 poesias de todo o mundo e de todas as épocas. Editada em maio de 2001, acabou por funcionar como um legado de Hermínio Monteiro, que viria a falecer a 3 de junho desse mesmo ano.




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sexta-feira, 7 de setembro de 2012

«Rio Gerês» de Isabel del Toro Gomes








Rio Gerês

Águas límpidas e sonoras

Daquele mágico rio Gerês

Quando dentro de ti

O Homem seu corpo mergulhou 

Dentro dele o amor nasceu

E sua alma se transfigurou.



sábado, 1 de setembro de 2012

«Serrubico bico bico»



Um dia destes encontrei num livro a seguinte expressão, que me transportou até aos tempos da infância:

Serrubico mandanico, quem te deu tamanho bico?

Lembrava-me vagamente de qualquer coisa parecida, que no tal livro se referia a alguém que era mandão e muito palrador, tirei eu a conclusão, pelo contexto frásico.
Pesquisei as palavras «serrubico» e «mandanico» em dois dicio-nários, nada encontrei, claro.
Estas palavras fazem parte do imaginário popular e de cantilenas da infância, que têm várias formas, e que alguns de nós cantarolámos na escola ou nas nossas brincadeiras.
O que achei curioso é que se podem aplicar a muitos que andam por aí a querer mandar e que não mandam nada. São todos uns Serrubicos Mandanicos!



Serrubico bico bico
Quem te deu tamanho bico?
Foi a velha borralheira
Que andava pela ribeira
A apanhar ovos de perdiz
Pr'as meninas do juiz.
Os cavalos a correr
E as meninas a aprender
Qual será a mais bonita
Que se há-de recolher?

Crenças populares

http://farm4.staticflickr.com/3550/3480577176_7a47428a42_z.jpg 

Será que dá resultado? 
Pelo sim pelo não, vou experimentar que bem preciso.

Ar vejo,
Lua vejo,
Estrela vejo:
O mal do meu corpo
P'ra trás das costas o despejo.


                                                                  Trindade Coelho, Abyssus Abyssum