quarta-feira, 1 de junho de 2011

«Sonho de criança» de Isabel del Toro Gomes

Hoje, Dia da Criança, um poema para aquelas que não podem ter infância!
    


Sonho de criança
               

Sonho...

Uma criança que brinca

Uma bola no ar

Um papagaio a voar

Um barco à vela ao fundo

Uma concha na areia

Um pensamento profundo

Que leva uma sereia

A um palácio

No fundo do mar.


terça-feira, 31 de maio de 2011

Sabedoria Ameríndia



A Oração não chega para o Guerreiro Interior.
Precisa de transformar as palavras em montanha, em lago,
Em rio ou em cavalos selvagens.
Tal como ele, tens de aprender a criar a realidade
A partir dos teus desejos.
Só assim as palavras «felicidade»,
Quietude, paz de espírito
Se transformarão em paisagens da alma.
E tu poderás habitar realmente
Um Mundo Novo.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Saber ou imaginação?

A imaginação
É mais importante
Do que o saber.


                                                                     Einstein (1879-1955)

O saber e a imaginação têm de ser complementares, são os dois importantes e vitais. Ou só restarão ruínas!

terça-feira, 24 de maio de 2011

«No Boquilobo» de Isabel del Toro Gomes


No Boquilobo
As águas invadiram as terras
As garças chegaram de longe
O rio espraiou-se à vontade
Como se tudo fosse dele agora
Patos grasnam voam reproduzem-se
Peixes percorrem felizes
Todo o lago manso dum azul translúcido
E por baixo de tudo isso
Bem lá no fundo lamacento
Continuam a viver
As raízes das árvores
E a lutar
As almas dos homens.

domingo, 22 de maio de 2011

«Húmus» de Raul Brandão



Raul Brandão nasceu em 1867, na Foz do Douro, e morreu em 1930, em Lisboa. É um dos poucos autores iniciados na corrente simbolista que não se dedicou à poesia, o que é realmente estranho.
«Húmus» foi escrito em 1917 e confirmou o escritor como modernizador da ficção portuguesa. Neste romance que mais parece um diário, o autor  reflete de forma atormentada os grandes temas da alma humana: a culpa, o bem e o mal, a angústia existencial, a vida e a morte, Deus.
Embora estes sejam temas importantíssimos para o leitor em geral, que levam à reflexão e ao enriquecimento pessoal e humano, este não é um dos livros que mais me agradaram, pelo seu tom demasiado pessimista e lúgrube mesmo.
No entanto, quero salientar algumas linhas, de grande beleza e profundidade:

Em lugar do uso de palavras fazia isto melhor com o emprego de dois tons - cinzento e oiro: uma nódoa que se entranha noutra nódoa. O sonho turva a vila como a primavera toca neste charco só lodo e azul: tinge-o e revolve-o.
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O hábito tem profundidades de légua.
A princípio olham-se desconfiados, com medo uns dos outros. Sem dúvida gostam de viver mais um século, mais dois séculos, mas não sabem ainda que emprego hão-de dar à existência. Não se lhes dava mesmo de morrer com tanto que continuassem a jogar o gamão no infinito. O que lhes custa mais a perder não é a vida, são os hábitos.

                                                                      in «Húmus»




terça-feira, 17 de maio de 2011

Lygia Fagundes Telles




Lygia Fagundes Telles, importante escritora brasileira e amiga de Clarice Lispector, «deu» uma entrevista a Alexandra Lucas Coelho. que foi publicada na revista «Pública» do passado domingo. Digo «deu», porque de facto ela não tinha tempo para a entrevista, supostamente por ter de ir para a fisioterapia. Mas simpaticamente, como só os grandes homens e mulheres sabem ser, apresentou-lhe uma série de perguntas e respostas num papel, acabando no entanto à conversa com a entrevistadora, que lhe captou as atenções.
No alto dos seus magníficos 88 anos, a «mais amada escritora viva no Brasil», diz coisas que só a sabedoria podem dizer. Diz-se dela na entrevista:
«O mistério de Lygia F.Telles é como um coração tão claro toca no coração mais escuro.»
Do seu «encontro» com um motoqueiro que ela pensava que a ia atacar e roubar, ela diz:

...Mas de repente viu naquele encontro o nó da escrita: medo e paixão. O motoqueiro era o seu leitor.

E sobre as dificuldades de se ser escritora no passado (tal como no presente, talvez já mais apaziguadas, conforme os locais e os tempos), diz a escritora:

Sofri muito, muito, no começo da carreira. As pessoas não acreditavam. Mulher era para casar, ser rainha da casa, no máximo tocar piano.
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Meu segundo marido tinha uma frase muito boa quando eu me queixava: «Seu problema é real ou existencial? Real, eu resolvo, te levo no médico. Mas desespero, dor, luta, esperança, frustração, medo da morte, aí você resolve em seus textos».

Era um homem sábio também, este segundo marido!
Outro facto interessante, contado por Lygia:

...Jorge Luís Borges, sentado a um canto depois de uma homenagem em S.Paulo, sussurrou a Lygia que sonhar era tudo, e para provar contou a história de um amigo que se matara porque deixara de sonhar.

Pois eu acredito, deixar de sonhar é perder o sentido belo da vida!
E mais adiante, diz:

Ou ainda Sartre e Beauvoir, que levaram Lygia a esta ideia: «A imortalidade seria a morte da própria vida. Só a ideia de que vamos morrer um dia, só essa ideia pode fazer a nossa existência mais feliz.»

E eu que tenho uma «relação» péssima com a ideia da morte, como quase todos os mortais, fiquei entusiasmadíssima: que bom, fico feliz por saber que vou morrer um dia!
No entanto, acho outra máxima ainda mais importante: enquanto a morte não vem, aproveita o dia! Muito bem aproveitado, mesmo!