O Angolano Que comprou Lisboa (por metade do preço)
de Kafaf Epalanga
Este é um livro que cativa logo pelo título, com chamada de atenção para as palavras angolano e Lisboa, tendo pelo meio o apelativo verbo comprar, ainda por cima no pretérito perfeito do indicativo, e que realmente vem a mostrar-se até mais interessante do que poderíamos pensar.
Os belos telhados de Lisboa, mencionados e admirados pelo autor (com o Tejo ao fundo)
Kalaf Epalanga (nome também sonante para o público em geral, e mais ainda para os que viveram em Angola) revela-se-nos como um homem-jovem que domina várias artes performativas (escrita e música) , bem como um jovem-homem que sabe bastante da arte de viver, principalmente quando recém-chegado a uma cidade desconhecida, o que é deveras raro, nos tempos que correm (mesmo em pessoas com mais idade do que Kalaf).
Interessa muito também para nós, lisboetas, o facto de ele ter escolhido ficar a viver nesta cidade, que ele diz ser a mais africana da Europa.
O que é uma coisa importantíssima de se saber, para todos os que gostam do seu país e das suas cidades, pois a diversidade sociocultural é um dos factores mais importantes para um país tão antigo e que tem vindo a empobrecer cada vez mais, como Portugal.
Morrer por morrer, que Portugal não morra já!
Que os angolanos, guineenses, caboverdeanos e todos os outros que viajam até Lisboa e nela decidem ficar, virados para o azul da sua luz e do seu rio , permitam que ela se vá prolongando no tempo e no espaço, resistindo à acção destruidora dos seus implacáveis governantes e caterpílares.
Foi neste livro de crónicas que recolhi muitas informações sobre Angola e os angolanos, a sua maneira de viver e de contornar os problemas decorrentes da precária existência do dia-a-dia, traço que me parece aliás comum aos dois povos, que contactaram e se influenciaram mutuamente, por força das circunstâncias históricas.
Foi neste livro que aprendi que as múcuas são o fruto do imbomdeiro, que têm muita vitamina e que fazem um ótimo sumo. Aprendi sobre a Kizomba, o Kuduro, o banho de caneca e muitas coisas mais.
A ler (muito)!
Mas como olhar para a história do Velho Continente e da sua relação com a África negra sem acordar sentimentos de culpa e toda a negação que geralmente associamos ao embaraço e que se manifesta com actos defensivos e justificações naif? Soluções que combatam injustiças não nascem, de palavras. As mudanças só serão efectivas quando acreditarmos que só o amor nos salvará, pretos e brancos. O racismo não se combate com discursos demagógicos, nem por decreto; combate-se com amor.
Kalaf E., Fernando in O Angolano que Comprou Lisboa (por metade do preço)
Imbondeiro