quarta-feira, 14 de agosto de 2013

«Música no lago» de Isabel del Toro Gomes







Música no lago

Pingos de chuva
Despertam o lago
E o jardim
É chuva de verão.

Há alvoroço e confusão
Corridas passos apressados
Baloiços vazios.

Todos se refugiam
Debaixo dos telheiros
Tlim tlim tlim
E fica-se a ouvir assim
A chuva cristalina  de verão.

Há música no lago
E em mim.

                                                      Isabel del Toro Gomes

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

«O mistério das Catedrais» de Fulcanelli




Os domínios do mistério
prometem
as mais belas experiências.
                                                                    Einstein



Edificadas pelos frimasons medievais para assegurar a transmissão dos símbolos e da doutrina hermética, as nossas grandes catedrais exerceram, desde a sua aparição, marcada influência em numerosos exemplares mais modestos da arquitectura civil ou religiosa.

                                           «O mistério das Catedrais» de Fulcanelli
                                              



Catedrais, igrejas grandes ou pequenas, templos de toda a espécie exercem sobre a maioria dos humanos um fascínio que muitas vezes não sabem explicar. 
Existe nelas mais do que o silêncio, a tranquilidade, a beleza, a arte, sem dúvida.
Existem nelas muitos mistérios que não dominamos nem conhecemos, mas eles atraem-nos irresistivelmente. E então entramos...    

      

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Kolossós



 

Uma árvore desta envergadura entra-nos pelo olhar a 1ª vez que a vemos, deixa-nos admirados, que árvore enorme, sentamo-nos até debaixo dela à espera de alguém, olhamos olhamos e depois... esquecemo-nos dela
Começa a fazer parte do nosso quotidiano.


Como os carros que passam, as pessoas, os cães, a relva, as flores.
Mas não devia ser assim. 
Árvores que já viveram cem anos ou mais, que assistiram a tanta coisa, viram nascer e morrer, velhas quintas que desapareceram para dar lugar à civilização, namoros que se fizeram à sua sombra, poemas que se escreveram, livros que se leram, gente que se sentou ao pé dela pensando na vida, sonhando, esperando... 


Tanta coisa...árvores assim merecem mais.
Dedico-lhe assim este post, uma simples homenagem à sua beleza e grandiosidade.
Como não sei o seu nome, fica a ser Kolossós, por agora. 
Se alguém souber, agradeço que me diga.
Fica na Portela de Sacavém e espero que por lá continue por muito tempo mais. 
Nos tempos que correm, em que tudo pode mudar em menos de um dia, ela lembra-nos que a mudança é feita de permanência.




domingo, 28 de julho de 2013

Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa)

 Álvaro de Campos
 




Grandes são os desertos, e tudo é deserto.



http://youtu.be/46kilOmMCEU?list=RD46kilOmMCEU

O  poema Ai Margarida, do heterónimo de Fernando Pessoa, Álvaro de Campos, é maravilhosamente cantado por Camané. Aqui fica o seu registo.

Ai, Margarida

Ai, Margarida,
Se eu te desse a minha vida,
Que farias tu com ela?
Tirava os brincos do prego,
Casava c’um homem cego
E ia morar para a Estrela.




Mas, Margarida,
Se eu te desse a minha vida,
Que diria tua mãe?
(Ela conhece-me a fundo.)
Que há muito parvo no mundo,
E que eras parvo também.
E, Margarida,
Se eu te desse a minha vida,
No sentido de morrer? 
Eu iria ao teu enterro,
Mas achava que era um erro
Querer amar sem viver.
Mas, Margarida,
Se este dar-te a minha vida
Não fosse senão poesia? 
Então, filho, nada feito.
Fica tudo sem efeito.
Nesta casa não se fia.

Comunicado pelo Engenheiro Naval Sr. Álvaro de Campos, em estado de inconsciência alcoólica.


                                              
                                               Campo de margaridas, Olhos de Água
 

sábado, 27 de julho de 2013

«Não me peças sorrisos» de Agostinho Neto

Agostinho Neto e sua mulher, Maria Eugénia
 
Agostinho Neto (1922/1979)

Relembrando Agostinho Neto, que também foi poeta.


Não me peças sorrisos


Não me exijas glórias que ainda transpiro
os ais
dos feridos nas batalhas

Não me exijas glórias
que sou eu o soldado desconhecido
da Humanidade

As honras cabem aos generais
A minha glória
é tudo o que padeço
e que sofri
Os meus sorrisos
tudo o que chorei

Nem sorrisos nem glória
Apenas um rosto duro
de quem constrói a estrada
por que há-de caminhar
pedra após pedra
em terreno difícil

Um rosto triste
pelo tanto esforço perdido
-esforço dos tenazes que se cansam
à tarde
depois do trabalho

Uma cabeça sem louros
porque não me encontro por ora
no catálogo das glórias humanas

Não me descobri na vida
e selvas desbravadas
escondem os caminhos
por que hei-de passar

Mas hei-de encontrá-los
e segui-los
seja qual for o preço

Então 
num novo catálogo
mostrar-te-ei o meu rosto
coroado de ramos de palmeira

E terei para ti
os sorrisos que me pedes.

                                                     Agostinho Neto

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Jean Paul Sartre







O que interessa (...) é o que os homens fazem daquilo que fizeram deles.


                                                                                   Jean Paul Sartre



Concordo e partilho este pensamento de Sartre.
Não interessa o que dizem de nós, mas o que fazem de nós. 
E depois, o que nós somos capazes de fazer com isso.
Aplica-se a todos os tempos e a todas as pessoas!

segunda-feira, 22 de julho de 2013

«As portas que Abril abriu» de José Carlos Ary dos Santos




 Ainda há quem se lembre de Ary dos Santos, e da poesia de Ary dos Santos. Parece mentira mas é verdade!
Por muito que custe a alguns mercenários e à gente medíocre e inculta que por aí anda no poder, fazendo todos os possíveis por apagar o passado recente e a História, nada nem ninguém irá conseguir fechar as portas que Abril abriu. Pela simples razão que a História não se apaga nunca. E ela está sempre do lado dos justos e das pessoas que fazem este País dia a dia, corajosamente.

As Portas Que Abril Abriu

(...)
Foi então que abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.

Disse a primeira palavra 
na madrugada serena
um poeta que cantava
o povo é quem mais ordena.

(...)


Dizia soldado amigo
meu camarada e irmão
este povo está contigo
nascemos do mesmo chão
trazemos a mesma chama
temos a mesma ração
dormimos na mesma cama
comendo do mesmo pão.
Camarada e meu amigo
soldadinho ou capitão
este povo está contigo
a malta dá-te razão.

                                                      José Carlos Ary dos Santos