O lago sempre azul
Era um lago muito azul de Verão ou de Inverno, onde a
água era sempre desta cor quer houvesse sol ou não, o que é um mistério para
nós, os homens. Nós sabemos que a água reflecte a luz que entra nela e que lhe
vai mudando a cor. Às vezes fica cinzenta, quando há muitas nuvens, outras
verde e até castanha, enfim, de muitas e variadas cores.
Mas para os bichos que aí viviam não era mistério
nenhum, pois estavam tão habituados a ver o lago sempre azul que não
estranhavam. Até no Outono e no Inverno, quando as árvores do bosque dormiam o
seu longo sono e perdiam as folhas todas
(sim porque as árvores também hibernam, não são só alguns bichos, como os
ursos, os esquilos e muitos mais) e tudo ficava menos verde, o lago continuava
sempre azul.
Aí se passavam coisas extraordinárias. Os bichos
tinham nomes, falavam e tinham sentimentos como nós, tal como nas antigas
fábulas.
Então, esta história também é uma fábula, pensam
vocês! Pois é, se calhar é!
No lago sempre azul vivia a libelinha Bélinha, sempre
às voltas e reviravoltas por cima das águas. Procurava qualquer coisa, se
calhar alimento, se calhar só queria ver o mundo lá de cima, olhar cá para
baixo e ver os peixes a nadar, a nadar, nas águas transparentes e azuis, já se
sabe!
Certo dia, quando andava na sua ronda, viu lá de cima
uma folhinha a navegar com um caracol em cima. E pensou:
«Os caracóis não sabem nadar, isto não é normal!»
E perguntou-lhe:
-Ouve lá, como é que foste aí parar e quem és tu?
-Sou o Joel e estava ali à beira do lago a roer esta
folha, distraí-me, a folha foi deslizando e quando reparei já estava dentro de
água. Não tive culpa, isto pode acontecer a qualquer um, não?
-Está bem, não te irrites, senão ainda é pior!
-Pois é, é fácil de dizer!
-Vamos pensar numa solução, espera aí!
E a libelinha Bélinha deu umas reviravoltas por cima
do caracol Joel, que se sentia cada vez mais infeliz e se afastava cada vez
mais da margem.
-Olha ali vem a rã Adriana. Talvez ela nos possa
ajudar.
A rã Adriana andava aos pulos por cima das folhas dos
nenúfares, que ali nasciam presos ao fundo do lago e que davam belas flores
amarelas e cor-de-rosa. Sem ver o pobre do caracol que andava a navegar por
ali, deu um salto tal, que quase o ia deitando pela borda fora.
-Cuidado, ó sua desastrada! – protestou logo o Joel.
Não estás a ver que eu estou aqui aflito?
-E o que é que andas por aqui a fazer, pensas que és
um barco ou um peixe, é?
-Olha, se fosse a ti, estava caladinha! Isto pode
acontecer a qualquer um, está bem?
-Ainda por cima és refilão! Está mas é tu caladinho e
quietinho, senão ainda cais.
Estavam eles neste debate de ideias, quando a
Libelinha Bélinha teve uma ideia.
-Sabem uma coisa? Já descobri! Tu que és uma rã
saltitona e forte, tu é que podes levar o Joel nas tuas costas até à margem! -
disse muito feliz a libelinha Bélinha, porque era muito amiga dos outros bichos
todos e gostava sempre de ajudar.
O mesmo não pensava a rã Adriana.
-Eu, andar a servir de transporte público a esse
caracol refilão? Não me faltava mais nada! Tenho outra ideia.
-Então qual é? – perguntou Joel já desconfiado.
- Com a fome com que eu estou, meto-te mas é na minha
barriguinha e fico almoçada.
O pobre do caracol Joel quase que ia tendo uma coisa
má, que é como quem diz, ia morrendo de susto.
A Libelinha Bélinha claro que interveio logo naquela
discussão.
-Calma, meninos, calma! A falar é que a gente se
entende! Tenho outra ideia maravilhosa.
A rã e o caracol olharam para ela, suspensos.
-Se tu deres boleia ao Joel até à margem e não lhe
fizeres mal, eu levo-te depois nas minhas asas a dar uma voltinha aqui pelo
bosque. Que tal?
-E tu consegues levar-me nas tuas asas? – perguntou a
rã Adriana, muito desconfiada.
-Ah, sim, com umas asas tão grandes como as minhas,
posso levar-te à vontade. Não parecem, mas são muito fortes.
Ainda desconfiada, a rã lá se resignou a fazer de
barco. O caracol Joel lá conseguiu subir com os seus vagares para as costas da
rã Adriana, que já estava a perder a paciência. Agarrou-se bem, como faz nas
folhas e nos caules das plantas com a sua cola-tudo, a rã deu uns saltinhos e
logo logo estava outra vez em terra, são e salvo.
-Ufa! Estou safo! Obrigado e até à próxima - despediu-se
o caracol Joel, ainda a refilar com as riscas da sua casota.
Depois, foi a vez da rã Adriana viajar nas belas asas
transparentes da libelinha Bélinha. Quando se viu lá em cima, nem queria
acreditar! Ver assim o seu lago sempre azul lá do céu era fantástico! Parecia
tudo mais pequenino, as flores, as árvores, as pedras onde costumava estender-se
ao sol pareciam agora pedrinhas de brincar. Era mesmo giro!
E assim acaba a nossa história.
A Libelinha Bélinha continua nas suas voltas e
reviravoltas, sempre pronta a ajudar.
O caracol Joel continua refilão, mas nunca mais foi
imprudente, agora tem muito mais cuidado por onde anda.
A rã Adriana continua aos saltos, a querer comer tudo
quanto encontra, é a sua natureza, mas no fundo, no fundo, ficou muito feliz
por ter praticado pela primeira vez uma boa acção.
E por estas coisas todas é que este lago é sempre azul, afinal!
Maria Isabel