sábado, 27 de fevereiro de 2021

«O canto do Poeta» de Miguel Torga




Dia 27 de fevereiro é dia de Lua Cheia. 

Com ou sem confinamento, a Lua aí estará no céu mostrando-se completamente cheia.

Vamos ver se temos sorte de  a ver.

Nestes dias, é sempre bom lembrar o canto dum grande poeta, Miguel Torga, por exemplo.


O canto do Poeta


Tal como o camponês,

que canta a semear

A terra
Ou como tu, pastor, que cantas a bordar
A serra
de brancura,
Assim eu canto, sem me ouvir cantar,
Livre e à minha altura.

 

Miguel Torga

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Confinamento no Parque das Nações

 




Tivemos que ir ao Parque das Nações e encontrámos um fantasma do que foi a Expo de há 23 anos, quase.

Uma cidade deserta, o lince ibérico olhando triste o nada, o teleférico parado.




Apenas o Tejo azul e umas gaivotas andam na sua vida, se calhar contentes de tanto silêncio e da água toda para elas.




Esperemos o recomeço da vida.

Com sol e muito azul.



Entretanto, as grandes empresas estão fechadas, só com o porteiro ou seguranças à porta, capitalizando biliões de euros. Com os empregados em teletrabalho e o desenvolvimento do mundo digital, espera-nos um futuro de interrogações.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

«Poesia» de Sebastião da Gama

 



11ºConfinamento: somos uns heróis, à força, com pequenos intervalos de liberdade e muitos de Poesia.

Como os homens que foram à descoberta de terras desconhecidas. Nós, pelo contrário, temos de ficar em terra, sem poder ir para lado nenhum.

Resta-nos a leitura, a poesia, o sol ou a chuva, as flores ( a alguns).




POESIA
Ai deixa, deixa lá que a Poesia
no perfume das flores, no quebrar
das ondas pela praia,
na alegria
das crianças que se riem sem porquê
-deixa lá que se exprima, a Poesia.

Sebastião da Gama



segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021



 (Rio de Janeiro19 de outubro de 1913 — Rio de Janeiro, 9 de julho de 1980),


 SONETO DA FIDELIDADE

De tudo, ao meu amor serei atento
antes, e com tal zelo, e sempre e tanto
que mesmo face do maior encanto
dele se encanta mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
e sem louvor hei-de espalhar meu canto
e rir meu riso e derramar meu pranto
ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
quem sabe a morte, angústia de quem vive
quem sabe a solidão, fim de quem ama

eu possa me dizer do amor (que tive):
que não seja imortal, posto que é chama
mas que seja infinito enquanto dure.


Vinicius de Moraes, in "O Operário em Construção"

SONETO DA FIDELIDADE - COM TRIO GENIAL!
Venicius de Moraes/ Mário Pacheco - Rodrigo da Costa Félix.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

 

O poeta Eugénio de Andrade nasceu na freguesia de Póvoa de Atalaia, no Fundão, no dia 19 de Janeiro de 1923. Mudou-se para Lisboa aos dez anos devido à separação dos seus pais.

Frequentou o Liceu Passos Manuel e a Escola Técnica Machado de Castro, tendo escrito os seus primeiros poemas em 1936. Em 1938 enviou alguns desses poemas a António Botto que, gostando do que leu, o quis conhecer. Botto incentivou-o nessa senda, e em 1940, publicou o seu primeiro livro Narciso, sob o seu verdadeiro nome, que mais tarde viria a rejeitar.





As Palavras


São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?



Eugénio de Andrade, Antologia Breve, 1972.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Coisas simples do passado

 




Coisas tão simples como passear num jardim, admirar as flores que renasciam e a natureza que se renovava, são agora impossíveis. Os canteiros estão vazios.

Em fevereiro do ano passado, já havia imensas flores no nosso jardim da Portela: lírios, jarros... Agora, até a grande bananeira está toda dobrada pelos vendavais ou pelos destruidores que andam à solta por aí.




Um hábito que fazia parte do nosso quotidiano e da nossa cultura (o nosso café é o melhor do mundo) como tomar uma bica ou um cimbalino, conforme se está em Lisboa ou no Porto, é agora impossível. Fazer o café em casa em máquinas mais ou menos parecidas é uma solução, mas não é a mesma coisa. Muito menos se puder ser numa esplanada.

Sentar num banco jardim, ir a um restaurante ao ar livre, ir a uma exposição, enfim, a qualquer local de diversão ou de cultura é impossível.

E não se sabe ainda até quando, embora se tenha uma ideia.

Coisas tão pequenas e simples e que nos parecem agora tão importantes.

É preciso caminhar em frente, deixar-se as discussões inúteis , fazer-se um plano inteligente de vacinação e tudo poderá voltar ao que era dantes.

Se não continuarem a ser cometidos demasiados erros por parte de todos, políticos e todos os que se querem aproveitar e mandar, mesmo sem autoridade para tal.