Palácio Cabral, em frente à escola
A antiga Escola Comercial D. Maria I, situada no Largo Dr. António de Sousa de Macedo, ao fundo da Calçada do Combro, é talvez a escola com a história mais longa e mais original de todas as escolas.
Palácio dos condes de Mesquitela, porta brasonada
Depois de ter sido a Escola Rodrigues Sampaio, depois de ter formado gerações de meninas para os vários trabalhos do comércio e afins, dactilógrafas, contabilistas, secretárias, empregadas de escritório... ( os rapazes eram «deportados» para o vizinho Passos Manuel, ainda por cima à noite, para evitar contactos), depois de anos e anos de abandono, a escola virou ... Hotel.
Palácio Cabral, em frente à escola, actualmente
Foi nesta escola que estudou o meu pai (por coincidência), e onde eu comecei em 1975 a minha carreira de professora, com apenas 21 anos, em tempos conturbados de revoluções e contra-revoluções.
Aí passei 4 anos que nunca esqueci, dando aulas a adultos ( dos 20 aos 70 anos) à noite, e a adolescentes durante o dia, numa escola já muito velhinha mas que me fascinava.
Pormenor do Palácio Cabral
Chovia dentro de algumas salas, havia uma bela e pequena capela, algumas aulas eram dadas numa espécie de «sótão» para onde se subia por umas escadas estreitas, na sala de professores havia uma mesa enorme comprida onde todos se sentavam à volta, como se fosse a Távola Redonda (rectangular, neste caso).
Excursão de antigos alunos e alunas
Enfim, tudo era diferente do que eu poderia imaginar que fosse uma escola, e tudo se tornava uma verdadeira aventura.
Como se isto fosse pouco, como aquele espaço era pequeno para tantos alunos, íamos também dar algumas aulas num antigo palácio mesmo em frente , o Palácio Cabral, também arrendado pelo Ministério da Educação. Aí passaram-se coisas incríveis, agradáveis e desagradáveis, como sempre. Os alunos do 7º ano tinham doze ou treze anos, andavam por lá aos pulos e aquilo abanava tudo, pum pum pum, não tinham pátio de recreio e tinham de brincar lá dentro. Nem quero imaginar como seria se fossem destas crianças de agora, tinham deitado o palácio abaixo, pela certa!
O que nos valia, a alunos e professores, era ter a paragem dos elétricos mesmo em frente ao portão de baixo (havia dois portões), na Calçada do Combro, quando não a subíamos e descíamos a pé. Ainda o elétrico 28 não era tão célebre, já nós o usávamos todos os dias!
E assim foi passando o tempo...Hoje recordo a Escola D. Maria com comoção, onde me estreei como professora, onde conheci alguns dos melhores alunos e amigos da minha vida. Fantásticas pessoas, que trabalhavam o dia todo e estudavam com afinco à noite, às vezes com muito sono e cansaço.
Assim, valia a pena ensinar.
Agora, a escola D. Maria virou Hotel. Ou apartamentos de luxo, caríssimos, o que vai dar ao mesmo.
Ficou para sempre na memória de muitos e a sua longa e pitoresca história só quem passou por lá a conhece, já que os turistas ou residentes actuais não a vão saber nunca!