Da minha língua vê-se o mar.
Beirão, o universo de Vergílio Ferreira, como o de Aquilino, é rude e voluntaristicamente repassado de emoção sufocada, mortos sem sepultura na alma, infância apenas desaparecida do outro lado do mesmo muro. «A ternura é o mais difícil e enternecemo-nos tanto. Que é que me comove? Como uma árvore, às vezes penso, o homem pode subir alto, mas as raízes não sobem. Estão na terra, para sempre, junto da infância e dos mortos».
Eduardo Lourenço, in Prefácio de Alegria Breve
Expressão tão simples e bela da verdade da vida!
O nosso corpo vai crescendo em direção ao céu, mas o coração fica para sempre junto às nossas raízes, à nossa origem, ao início do mundo que é a infância. E os mortos nunca nos largam, são sempre um começar de novo.