quinta-feira, 3 de abril de 2025

«Os jacarandás» de Eugénio de Andrade

 Aviso a todos os que não respeitam a natureza, desprovidos de toda e qualquer cidadania ecológica, habituados que estão a desfrutar o mundo que os rodeia a seu belo prazer e interesse material:

POR CIMA DOS JACARANDÁS NINGUÉM PASSARÁ!

Tal como todos nós, Eugénio de Andrade também se deixou fascinar pelos jacarandás de Lisboa.

"São eles que anunciam o verão.
Não sei doutra glória, doutro
paraíso: à sua entrada os jacarandás
estão em flor, um de cada lado.
E um sorriso, tranquila morada,
à minha espera.
O espaço a toda a roda
multiplica os seus espelhos, abre
varandas para o mar.
É como nos sonhos mais pueris:
posso voar quase rente
às nuvens altas – irmão dos pássaros –,
perder-me no ar."


Pode ser uma imagem de 1 pessoa, jacarandá e a árvore
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domingo, 30 de março de 2025

«Tree» Alfred Joyce Kilmer

 


A Paineira, a árvore mais bela que o destino me presenteou quando visitei a ilha de S. Miguel, nos Açores.

Parafraseando o poeta, penso que jamais verei uma árvore tão bela quanto um poema.



Tree


Penso que jamais verei

poema tão belo quanto uma árvore.

Uma árvore cuja boca faminta está colada
contra o seio doce e abundante da terra;

Uma árvore que olha para Deus o dia inteiro
e levanta seus braços folhudos para rezar;

Uma árvore que no verão pode vestir
Um ninho de sabiás em seu cabelo;

Em cujo colo a neve se deitou;
Que vive intimamente com a chuva.

Poemas são feitos por bobos como eu,
Mas somente Deus pode uma árvore fazer.

Alfred Joyce Kilmer
(Tradução de Walter Whitton Harris)







quarta-feira, 19 de março de 2025

Dia do pai, 19 de Março

 




Assim mesmo era o meu pai, um dia fomos à praia só os dois, eu era muito pequena e fiquei espantada a olhar para tudo.

Ele disse-me para eu ir dar uma volta, fui e perdi-me.

Fiquei a saber como o mundo era grande, não chorei e passado algum tempo lá me encontraram, a brincar na areia molhada.

Ele teve de mergulhar muitas vezes para aprender o que era a dureza da vida e eu segui-lhe as passadas.
Claro que tivemos alguma sorte !!!


«Estava na praia com o meu pai, e ele me pediu para ver se a temperatura da água estava boa.
Ela estava com cinco anos, e ficou contente de poder ajudar; foi até a beira da água e molhou os seus pés.
"Coloquei os pés, está fria", disse para ele.
O pai pegou-a no colo, caminhou com ela até a beira do mar, e sem qualquer aviso, atirou-a dentro da água.
Ela levou um susto, mas depois ficou contente com a brincadeira.
"Como está a água?" perguntou o pai.
"Está gostosa", respondeu.
"Então, daqui pra frente, quando você quiser saber alguma coisa, mergulhe nela".

Paulo Coelho

 Eugénio de Andrade, o poeta dos poetas, e o cheiro a madressilva, que a Primavera vem aí (a natureza tem os seus mistérios...).




Coração Habitado


Aqui estão as mãos.
São os mais belos sinais da terra.
Os anjos nascem aqui:
frescos, matinais, quase de orvalho,
de coração alegre e povoado.
Ponho nelas a minha boca,
respiro o sangue, o seu rumor branco,
aqueço-as por dentro, abandonadas
nas minhas, as pequenas mãos do mundo.
Alguns pensam que são as mãos de deus
— eu sei que são as mãos de um homem,
trémulas barcaças onde a água,
a tristeza e as quatro estações
penetram, indiferentemente.
Não lhes toquem: são amor e bondade.
Mais ainda: cheiram a madressilva.
São o primeiro homem, a primeira mulher.
E amanhece.


Eugénio de Andrade, in "Até Amanhã"

sexta-feira, 14 de março de 2025

Carvalhal do Pombo, a nossa aldeia

 





A «nossa» aldeia é esta, virada para a serra azul (serra d'Aire e Candeeiros), Carvalhal do Pombo.


«Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer.»



Trecho de "O Guardador de Rebanhos", Alberto Caeiro


quinta-feira, 13 de março de 2025

«Poema dos Pês»

 


Poema dos Pês (se tudo pode ser um poema...)


Poema
de palavras
Perfumadas
pombas a voar
pétalas a cair nos jardins
pintainhos a nascer
Patos nos lagos
Patetas enamorados
Procurando o Sol
Primaveril e eu criança no meu
Parque aos saltos
Paris com
Pontes sobre o Sena
Pintores com os seus quadros
Potenciais compradores
Palrando e regateando
Portugal dos artistas
Poetas
Pessoas que choram
Pessoas que riem
Pessoas que falam falam
Papagaios que palram
Poemas que acabam em coisa nenhuma
Ponto final
Parágrafo.

Maria Isabel (13 maio 2025)

terça-feira, 11 de março de 2025

 



Relembrando a aldeia da minha avó materna, Germana, que nunca conheci (morreu nova) a não ser por fotos.

Era de Escalos de Baixo, distrito de Castelo Branco. Fui lá um dia, mas só me resta esta foto. Tenho de lá voltar, para ouvir o s sinos.

🙂
Ó sino da minha aldeia
Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.
E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.
Por mais que me tanjas perto,
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho,
Soas-me na alma distante.
A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.
Fernando Pessoa