quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019


Lisboa à noite


Gostava de ser capaz

De contar a minha vida.

Mas ao ver naquela rua

Uma pobre velha sentada

No banco frio, à noite, curvada,

Com a sua vida guardada

Dentro de uns tantos sacos

Resolvi encerrar a minha também

Nas linhas deste poema.

Digo apenas que tanto não sofri

Mas como aquela velha detestei

O mundo em que vivi

Ao percorrer as ruas, à noite,

Desta  Lisboa antiga e abandonada.

                                               18 Dez/95








segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

«O Fogo e o Vento» de Susanna Tamaro








Aqui há tempos, falava eu com um amigo médico, natural de Xangai, acerca da loucura dos regimes alimentares que invadiram o Ocidente. No vazio das observâncias de fé, o respeito pela dieta passou a ser a única religião. Uma religião tirânica, obsessiva, anti-social, em que a «terra prometida» 
e a felicidade de uma saúde perfeita. «Não farão mal, perguntei-lhe, essas «dietas» devocionais», que, de um dia para o outro, levam as pessoas a comer coisas que nem sequer sabiam que existiam, privando-se de sabores deliciosos?
Mal?- respondeu ele. Fazem pessimamente. A boa comida, a comida que nos faz sentir bem, é a que comemos em crianças e nos fez crescer. Graças à sua memória, o corpo procura sempre esses sabores.

Não sei se o tal médico tinha razão, eu acho que sim. Peço, no entanto desculpa, àqueles cujos sabores da infância ou da juventude, não foram muito apreciados.

Em todo o caso, regimes não é comigo, pelo menos no Inverno.
Quando o bom tempo chegar, logo se vê…
Se emagrecer um pouco, ótimo, se não emagrecer, paciência.









quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

«Pose e Variações no tempo de Rodin»



No Museu Calouste Gulbenkian estão expostas esculturas de Rodin e de outros escultores do seu tempo (sé. XIX) até ao dia 4 de Fevereiro.
São esculturas de grande beleza, e ficam aqui registadas algumas delas, para fazer despontar ainda mais a curiosidade de quem as possa vir observar (só restam alguns dias).






«A eterna Primavera» de Rodin (bronze) 

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Felicidade - Pensamentos e Pinturas


Grava isto no teu coração:
todos os dias são o melhor dia do ano.
                                  Ralph Waldo Emerson (1803-1882)



Só há um caminho para a felicidade,
e que é não nos preocuparmos com coisas
que ultrapassam o poder da nossa vontade.
                               Epicteto (séc.1)


                      O Baile no Moulin de la Galette de Renoir   

sábado, 12 de janeiro de 2019

«A Alma do Mundo» de Susana Tamaro



Susana Tamaro  é uma escritora italiana, nasceu em Trieste em 12 de Dezembro de 1951.

Foi criada pela avó materna após a separação dos pais, Anna e Giovanni. Cresceu escutando as histórias que o avô lhe contava sobre as duas terríveis guerras mundiais que devastaram a região. 

Em 1963 deu início aos seus estudos primários na escola local, dividida em duas secções, uma masculina e a outra feminina. Terminou o ensino secundário em Trieste.

Em 1977 inicia o seu trabalho no cinema, como assistente do cineasta Salvatore Samperi. Na década de 80 trabalhou para a televisão italiana. Susanna Tamaro aponta 1978 como o ano em que começou a escrever. Terminou o primeiro livro Illmitz, que não foi publicado, em 1978. Também os seus seguintes trabalhos foram declinados. Só em 1989 saiu o seu primeiro livro sob o título La testa tra le nuvole (Com a cabeça nas nuvens). Dois anos depois, em 1991, publicou a obra Per voce sola (Para uma voz só), pela qual recebeu elogios do próprio Federico Fellini. O seu primeiro livro infantil, Cuori di ciccia (O cavaleiro Lua Cheia), saiu em 1992. Seguiu-se a obra Và dove ti porta il cuore (Vai aonde te leva o coração), o livro italiano de maior sucesso do século XX. 

O seu livro mais célebre é Vai Aonde Te Leva o Coração (Và dove ti porta il cuore)
É também autora do romance Com a cabeça nas nuvens.

Acabei ontem de ler A Alma do Mundo desta escritora. Esta obra lê-se com um interesse crescente, mas tem de se ler devagar (eu li-o muito devagar), porque cada palavra, cada frase é tão rica de conteúdo, são tantos os significados de cada significante (em termos linguísticos), que temos de «digerir» bem cada página, cada capítulo.
Os últimos capítulos, em que o personagem principal passa os seus últimos dias num convento, sozinho com uma freira idosa, e onde o seu amigo Andrea se tinha enforcado, atingem uma tristeza pungente. Essa freira tinha-lhe dado uma folha de papel para ele ler no seu funeral. Era uma oração simples de S. Francisco:

Perdoando, é-se perdoado. Morrendo, ressuscita-se para a verdadeira vida.

Este é um livro sobre a vida e a morte, a sobrevivência em tempo de guerra, o amor e a amizade, a raiva e o ódio, a fidelidade/ infelidade, os sentimentos religiosos,  os sentimentos humanos … sobre o Homem enfim. 






sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Natal 2018






Todos os anos há um dia especial a que chamamos dia de Natal, o dia 25 de Dezembro, perto do solstício de inverno (22 de dezembro).
Os pais contam às crianças que há muito muito tempo, num país longínquo, numa noite muito escura, apareceu um anjo a uns pastores que lhes disse que seguissem uma estrela muito brilhante.
Essa estrela indicava que tinha nascido um menino chamado Jesus, em Belém, que estava deitado numa manjedoira. E que esse menino tinha vindo ao mundo para nos salvar.

O resto da história não a vou contar, pois é longa e complicada.

O facto é que todos os anos, que já são muitos, me interrogo nesta época natalícia, para que nasceu esse menino Jesus na realidade, já que os problemas neste mundo não melhoram nada, a pobreza aumenta, as guerras continuam devastando o nosso planeta, há cada vez mais violência.

O Natal de 2018 infelizmente não vai ser melhor do que os anteriores, os falsos brilhos e o desperdício continuam.
Para que nasceu um dia esse menino chamado Jesus, afinal?
Para convencer as crianças que têm de se portar bem para receberem muitos brinquedos? 
Não seria melhor dizer-lhes que foi para tornar o nosso mundo melhor, mais justo, mais digno para todos, com menos desperdício, menos poluição?




Natal 2018

As árvores já brilham
Cheias de estrelas de Natal
Bolas douradas, verdes e vermelhas
Grinaldas de todas as cores
Cobrem as fachadas e as montras
E as pessoas fazem compras
De objectos estranhos
Tablets, computadores cheios de teclas
Qualquer coisa que tenha um écran
Onde aparecem coisas estranhas
E onde se podem receber ou enviar palavras
Que deixaram de ter sentido
Que são códigos estranhos
Para muitos enigmas indecifráveis.



Nos dias seguintes tudo se desvanece
As guerras continuam
Há protestos e violência
E nas ruas dantes iluminadas
Erguem-se agora  novos muros.














segunda-feira, 10 de setembro de 2018

«Déjeuner du matin» de Jacques Prévert


Jacques Prévert foi um grande poeta francês do séc.XX(1900-1977).
A sua 1ª colectânea de poesia, Paroles (1946) teve desde logo um grande sucesso, graças à sua linguagem familiar, sentido de humor, defesa da liberdade e jogos com palavras, do agrado do público em geral.
Alguns dos seus poemas passaram a ser estudados em todas as escolas francesas do mundo, nos Cursos de Letras, etc.
Além de poeta, Jacques Prévert criou e escreveu os roteiros e diálogos de grandes filmes franceses, de sátira  aos costumes e ao clero, realizados  em sua maioria por Jean Renoir e Marcel Carné.

Foi ainda compositor, tendo a canção Les Feuilles Mortes ficado universalmente famosa na interpretação de Yves Montand (e de muitos outros cantores).


https://www.youtube.com/watch?v=Xo1C6E7jbPw




Nos meus tempos idos de estudante,  comecei a ler os poemas de Jacques Prévert, que me encantavam pela sua simplicidade de expressão e de forma e , ao mesmo tempo, profundidade de emoções que transmitiam.
Um dos que nunca esqueci, é o famoso


Déjeuner du matin
 



Il a mis  le café
dans la tasse
Il a mis le lait
Dans la tasse de café
Il a mis le sucre
Dans le café au lait
Avec le petit cuiller
Il a tourné
Il a bu le café au lait
Et il a reposé la tasse
Sans me parler
Il a alumé
Une cigarrette
Il a fait des ronds
Avec la fumée
Il a mis des cendres
Dans le cendrier
Sans me parler
Sans me regarder
Il s'est levé
Il a mis
Son chapeau sur la tête
Il a mis
Son manteau de pluie
Parce qu'il pleuvait
Il est parti
Sous la pluie
Sans une parole
Sans me regarder
Et moi j'ai pris
Ma tête dans ma main
Et j'ai pleuré.

O poema declamado pelo próprio Jacques Prévert: