quarta-feira, 17 de junho de 2015

Poesia na Ericeira


                                                                                               Ericeira


D' entre os homens, o Poeta é o que vive mais próximo dos animais e dos deuses.
 
Mar da Ericeira
 
O Poeta e o Herói são dois milagres; contradizem a Natureza, como duas pedras que voassem.
 
 
Poeta quer dizer Possesso. Não devemos confundir os artistas do verso com os criadores de Poesia. Os primeiros interessam apenas à Literatura, ao passo que os segundos têm um interesse vital e universal, como uma flor ou uma estrela.
 
                                       Teixeira de Pascoaes

domingo, 24 de maio de 2015

«Regresso ao Gerês» de Maria Isabel


 
Regresso imaginante ao Gerês
Regressamos ao Gerês
Neste domingo ventoso

Lá ficaram os trilhos
Das verdes montanhas
Que calcorreámos sem cessar

Lá ficaram os bancos de pedra
As fontes as cascatas as lagoas translúcidas
Que refrescaram os nossos corpos
E saciaram a nossa sede
 
Aqui estamos nós de novo
Neste domingo saudoso.
Maria Isabel
 
 

 



 

 

 



quinta-feira, 21 de maio de 2015

«Ode à alegria» de Friedrich Schiller


 
Ode à Alegria


Alegria bebem todos os seres
No seio da Natureza:
Todos os bons, todos os maus,
Seguem seu rastro de rosas.
Ela nos deu beijos e vinho e
Um amigo leal até à morte;
Deu força para a vida aos mais humildes
E ao querubim que se ergue diante de Deus!



Parte do verso da Ode à Alegria, de Friedrich Schiller, utilizado por Ludwig van Beethoven, na sua Nona Sinfonia.
 
A União Europeia, nos tempos em que ainda se chamava CEE, adoptou estes versos  de Schiller e esta música de Beethoven, para o seu próprio hino.
Era muitas vezes tocada em diversas ocasiões protocolares, ouvia-se constantemente.
Agora, nunca mais a ouvi. Sinal de que a UE mudou? De que já não se bate pelos mesmos ideais de alegria, de lealdade, de amizade?
Muita coisa mudou, certamente. Mas a alegria de viver juntos numa Europa unida não devia ter mudado!
Aqui fica a nota, para que não seja esquecido o Hino à Alegria.

www.youtube.com/watch?v=nTJ1bL1_TLQ

terça-feira, 19 de maio de 2015

Finok, nos Olivais Sul



Um dia destes, ao passar na 2ª circular, fui surpreendida por uma grande pintura mural num prédio dos Olivais Sul, que pertence à minha memória de vida.
Que giro, pensei eu.
E pensar que passava por ali tantas vezes, na minha infância e adolescência, a caminho da paragem do autocarro, ou a caminho de casa.
 
 
 
Eram uns prédios de gente humilde, que tinha sido realojada no bairro dos Olivais, perto do prédio onde eu vivia (para gente menos pobre),e como este fica mesmo virado para a estrada principal, foi o feliz contemplado.
Um prédio de gente pobre dos Olivais, que neste momento será talvez menos pobre (sublinhe-se o talvez), que devido à arte de Finok, ficou agora mais bonito. E o bairro mais alegre.
 
 
Arte sim, porque este é um bom exemplo de arte urbana.
Oxalá que se façam mais pinturas destas, e que perdurem por muito tempo. Já agora, que os prédios (estes e outros) sejam repintados por inteiro, que estão uma desgraça.
 
 
 
Vermelho e verde, as cores escolhidas por Finok, porque gosta de pintar com elas, explica o artista.
Descendente de japonês com espanhol e nascido nos Estados Unidos, ele próprio uma miscelânea de raças e nacionalidades.
Uma boa miscelânea e uma boa «misturada», sem sombra de dúvida.
 
 
 
Parabéns à Câmara de Lisboa, aos Olivais Sul o meu bairro, e ao Finok, artista do mundo. Devem continuar!
 
 
 

sábado, 16 de maio de 2015

«Nos meus olhos o mar» de Maria Isabel

 
Nos meus olhos o mar

Da minha janela

Sonho que vejo o mar

É um mar sempre azul

Um mar sempre a brilhar

Não é um mar sombrio

Não é um mar amargo


É a imagem da vida

A espuma branca a pairar

Nos meus olhos e no ar.

 
Não é um mar esquecido

Que mata a nossa memória

É o mar infindo do amor

 
É o espanto de tanta beleza

Que brilha nos olhos e na alma

Da minha janela

Sonho... e vejo o mar.

                          Maria Isabel


 
                                                                                     
 

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Figueira da Foz- tonalidades

                           
                                                            
Forte de Santa Catarina
 
 
CANÇÃO DA FIGUEIRA DA FOZ

Figueira,

Figueira da Foz

Das finas areias

Berço de sereias

Procurando abrigo.

Estrelas, doiradas estrelas

Enfeitam o Mar

Que pede a chorar

Para casar contigo.


Figueira, e à noite o luar,

Deita-se a teu lado

A fazer ciúmes

Ao teu namorado.


E a Serra, que te adora e deseja,

Também sofre com a luz do Sol

Que te abraça e te beija.

 António Sousa Freitas / Nóbrega e Sousa
 
mercado
 



 

domingo, 3 de maio de 2015

Para a minha mãe

 
 
A minha mãe, Dolores
 
Um ano depois
Apenas um ano
E já um ano!
Para a minha mãe, Dolores
Sempre viva no meu pensamento
E no meu coração partido
Ainda pela sua ausência,
Uma rosa de duas cores.
O rosa,
Porque era a cor
De que ela gostava.
O amarelo
Por que era a minha
Cor preferida.
Sempre juntas
Como nesta rosa.
Espero que cheguem até onde ela está.
 
                                                        Da tua filha Maria Isabel 
 
 

sábado, 2 de maio de 2015

«Uma Rapariga Da Sua Idade» de Márcio Laranjeira


Uma rapariga da sua Idade, um bom filme  de um talentoso realizador português da sua idade, que merece todo o apoio.
 
Parabéns a Márcio Laranjeira e a todos os participantes neste projecto, gostei muito, valeram a pena todos os vossos esforços.
 
Parabéns aos actores (a Mariana tem tudo para ser uma grande actriz) e a todos os que colaboraram nesta obra.
 
 O público nunca se engana, não se esqueçam! E obrigada!
 
 

sexta-feira, 1 de maio de 2015

A leiteira


Primavera, 2015.
O calor tem sido pouco, o sol escasso. Daí, a bela moça leiteira ter montado a banca num local sem arvoredo, perto do Rossio. E o leite escorria escorria, fazendo as admirações de todos.
Tudo corria normalmente, quando, repentinamente, o sol começou a brilhar e a escaldar. A moça leiteira já suava por todos os poros. Teve de se mexer, de estender os músculos, pois o sol não se compadecia.
Os turistas, esses, emergiram que nem caracóis por tudo quanto era sítio, deslumbrados com aquele calor tropical tão repentino.
Acho que ninguém deve ter reparado que a mulher estátua se mexeu, mas eu vi muito bem, ao longe, o seu desespero, a abanar o corpo e os braços.
Malditas nuvens, porque se sumiram assim sem pré-aviso??!!
Depois, não sei o que aconteceu, também eu tive de ir embora.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

«O grito»

 
 
O Grito
 
1893
Edward Munch
Pôr do sol
Oslo
Desespero
Angústia
Perda
Doença
Morte
Sempre?
Não sei se sempre
Ou quase nunca!
 
                                      Fim
 
 
Dia 24 de abril 2015
Véspera da comemoração da Revolução dos Cravos
Vermelhos
Agora murchos
E só me apetece gritar, gritar,
Ir gritando até ao fim do mundo!
 
 


domingo, 19 de abril de 2015

Praia da Formosa, Santa Cruz - Torres Vedras

 
 
Praia da Formosa
 
Muitos anos passados, a nostalgia dos invernos, outonos e  primaveras com sol, com pés na areia e longos passeios com  cheiro de mar, levou-me de volta à Praia Formosa, em Santa Cruz.
Por enquanto só em pensamento, mas lá irei em breve, pronta para reviver momentos inesquecíveis.
 

 
Quem lhe pôs o nome, Formosa, não se enganou. É mesmo formosa, elegante na sua pequena faixa de areia plantada ao fundo das arribas, rodeada de rochedos grandiosos por todos os lados.


 
Ali há de tudo, para todos os gostos: uma grande escadaria (descer é fácil, mas a subida torna-se eterna, embora nos vamos distraindo com a vista em volta), com plataformas, bancos em pedra e toldos às riscas vermelhas para ficar mesmo ali, a tomar banhos de sol ou, simplesmente, a descansar; a rampa do crocodilo (se ali houvesse crocodilos eles adorariam ficar ali ao sol, de certeza), para os que preferem a pedra à areia; rochas altaneiras para os pescadores; marés baixas onde se formam pequenas piscinas naturais que fazem as delícias das crianças de todas as idades, e onde se podiam ver pequenos peixes, búzios, caranguejos, ouriços, toda a bicharada do mar; bolas de Berlim, bolinhos de todos os géneros e gelados dos vendedores de praia; até casas de banho. Não falta nada.
 

 E, para culminar, o mais belo rochedo, o do Guincho, com um arco enorme por baixo, onde se podia nadar quando a maré baixava, em água límpida e transparente, com muitas algas.
 

 Como estará agora a praia Formosa? Será que a areia ainda volta lá no fim do inverno? Será que a poluição do progresso e desenvolvimento ainda não a derrubou?
Tenho de lá voltar em breve, quando o frio deste tremendo e feio ano de 2015 me permitir.
 
 
 

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Jardim da Fundação Gulbenkian - um paraíso com segredo


 
Jardim da Gulbenkian
 
O  Jardim da sede da Fundação Calouste Gulbenkian foi implantado no antigo Parque  de Santa Gertrudes, concebido pelo jardineiro suíço Jacob Weiss em 1866-70. Foi  construído, nesse período, um lago como elemento central e dinamizador do parque,  mantido no projecto do século XX para a Gulbenkian.
 
 
Localizado no coração dum dos centros de negócios da cidade de Lisboa (Avenida de Berna - São Sebastião da Pedreira), este moderno jardim cobre quase 8 hectares e foi desenhado por António Viana Barreto em 1957, tendo tido a colaboração de Gonçalo Ribeiro Teles nos anos sessenta e constitui um marco incontornável da arquitectura  paisagista portuguesa contemporânea.
 

 
O jardim organiza-se em diferentes espaços  e ambiências, que se vão sucedendo com subtileza através dos caminhos, por  vezes atravessando percursos de água. A flora é plantada recriando paisagens  portuguesas, pontuadas por esculturas modernas.
 
 
 
Um anfiteatro permite  actividades ao ar livre e acolhe um ciclo de música jazz em Agosto. 
 
 
Os que tiveram a sorte de aí assistir a espectáculos de dança, nos tempos em que a companhia do  Ballet Gulbenkian ainda existia (foi extinta pela esposa de Azeredo Perdigão há dez anos, precisamente), lembram-se de que os bailarinos entravam e saíam por um túnel, com uma abertura ali perto do anfiteatro.
 
 
O que não sabiam (nem muitos sabem agora), é que, por baixo dos jardins, passam alguns túneis, que foram construídos por altura da construção deste magnífico espaço. Com que intenções? Não sei, confesso, mas penso que dariam muito jeito como refúgio, em caso de necessidade.
Um mistério por desvendar, do próprio Calouste Gulbenkian, talvez.
 
 
É um belo e fresco refúgio com um lago, riacho, terraços ajardinados, trilhos por entre arvoredo e até um anfiteatro ao ar livre onde, nas noites mais quentes, se podem ver concertos e espectáculos.
 

 
O conjunto formado pelos edifícios da Fundação Calouste Gulbenkian (sede, museu e auditório), plenamente integrados nos seus jardins, são uma referência mundial da arquitectura do século XX.
 
Em 2005 iniciou-se uma renovação e reformulação dos espaços verdes, obra a cargo de Gonçalo Ribeiro Teles, que muito admiro por este se ter lembrado de fazer uns pequenos lagos destinados a atrair as aves migratórias, que vendo os reflexos da água, desceriam para aí descansar. Uma ideia genial e de louvar, não sei se bem aproveitada ou não por muitas aves que sobrevoam os céus de Lisboa, mas de muito agrado, de certeza, de pombos, pardais e melros.
 
Aqui deixo algumas das minhas impressões fotográficas desta primavera de 2015, dedicada desta vez às pequenas flores campestres, porque o pequeno pode ser grande e bonito também.
 
 
 
 

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Manoel de Oliveira


Manoel de Oliveira (Porto, 11 de Dezembro 1908- Porto, 2 de abril 2015)

Manoel de Oliveira morreu há alguns dias apenas,  mais precisamente na quinta-feira antes do Domingo de Páscoa.
Depois de uma longa vida, sempre produtiva, e de ser autor de 32 longas metragens, o Mestre do Cinema Português morreu. Ninguém esperava, pois todos os que chegam a uma tão provecta idade, são considerados «à partida», imortais.
Mas ninguém é imortal, de facto, só a sua obra o pode ser.
E a obra de Manoel de Oliveira é já uma grande obra, que irá ser passada e mostrada por «todo o sempre», possivelmente.
Porque o merece, sem dúvida.



Fui ao cinema ver alguns filmes de Manoel de Oliveira, não obstante a sua duração (o meu «assento» ainda o permitia). Agora, já era mais difícil, o tempo passou por mim de forma diferente de Oliveira, pelos vistos.



Vi e revi a sua 1ª longa metragem de ficção, Aniki-Bobó, filmado em plena 1º Guerra Mundial e no auge do regime de Salazar, 1942.
É um filme memorável, que se tornou um clássico, não obstante a má recepção que teve na altura.
Impressionava-me sobretudo a liberdade de que gozavam aquelas crianças pobres e desprotegidas, a ternura com que nos são apresentadas, o binómio candura da infância versus maldade do mundo,  todo o ambiente criado à sua volta.
Revelava um realizador cheio de emoções que queria transmitir, desperto para a realidade que o rodeava, conhecedor do que fazia. Ainda hoje esse filme  me continua a impressionar.

Relembro a magia daquela lengalenga das crianças:
Aniki Bebé,
Aniki Bobó
Passarinho Totó
Birimbau,
cavaquinho
Salmonão,
Sacristão
Eu sou polícia,
tu és ladrão
Eu não quero ser ladrão
Tenho medo à prisão
Aniki Bebé
Aniki Bobó

Manoel de Oliveira continua presente, através dos seus filmes e dos seus personagens, e será sempre lembrado.


O Cahiers du Cinéma vai dedicar-lhe o seu próximo número, e aguardamos com curiosidade o filme que ele deixou para ser mostrado apenas após a sua morte: Visita ou memórias e confissões (1982). 
A sua exibição será feita "nas próximas semanas", disse o diretor da Cinemateca, José Manuel Costa.