sexta-feira, 3 de maio de 2013

«O ano sabático» de João Tordo





João Tordo é dos novos escritores portugueses o meu preferido, como já disse aqui, a propósito de outras obras dele.
Li o seu último romance, O Ano Sabático, e concordo plenamente com as ótimas críticas que tem recebido.
António-Pedro Vasconcelos, escreveu no Sol: Um enorme romancista que nos redime do horror, como os grandes mestres, pela força misteriosa da escrita.
Este é um romance que se lê duma penada, que cativa o interesse do leitor do princípio ao fim, numa escrita espontânea, cheia de vida e atenta aos mistérios da condição humana. E cheio de apontamentos autobiográficos, o que confirma a regra.

Nunca escrevi nenhum que fosse inteiramente falso - todos eles, creio, têm grande parte de verdade, utilizando a ficção como catapulta. Mas nunca escrevi um livro que fosse tão verdadeiro como este, nem que exigisse tanto de mim. A memória, como se sabe, é uma coisa dolorosa.

                                              João Tordo. O Ano Sabático 

 
  

quarta-feira, 1 de maio de 2013

«1º de Maio de 2013» de Isabel del Toro Gomes









Dia do trabalho por Tarcila Amaral

 
1º de Maio 2013

 
Este país que eu amo
E onde um dia nasci
É vida e é morte
Luz e sombras de terror
É amor e é ódio
Alegria e muita dor
É beleza e trevas

Mas será sempre
O país que eu amo
Onde os meus filhos nasceram
Onde os meus avós morreram
E onde haverá dia após dia
Alguém que luta nas ruas
E faz ouvir a sua voz
Contra aqueles que disseram
Nós somos os senhores do mundo.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

«25 de abril 2013» de Isabel del Toro Gomes






 
25 de abril 2013
O futuro saiu à rua
Por uma manhã soalheira
Silenciosa e monótona
As crianças desfilaram
À sua maneira
Com a sua alegria habitual
Como se não houvesse fome
Nem desemprego



Mas lá bem do fundo
As suas vozes mil
Revoltaram-se e gritaram
«Este mundo está doente
Nós vamos tratar dele
Nós também somos gente
Nós sabemos …
Tanta coisa que nós sabemos»


O futuro saiu à rua
Lembrando que abril
Será sempre o abril de toda a gente! 



segunda-feira, 22 de abril de 2013

Provérbios sobre o Silêncio


  


Gosto muito de provérbios, pois gosto.
Embora alguns deles já estejam desactualizados.
Mas muitos continuam a ser duma sabedoria eterna. 
É bom continuar a lembrá-los. E a ficar em silêncio!


O silêncio é uma virtude quando nos evita dizer ou ouvir tolices

O silêncio é a virtude dos fracos

O silêncio, é a retórica dos amantes

A palavra é tempo; o silêncio, eternidade

Bom silêncio vale mais que má pergunta    

O silêncio é o maior dos martírios; nunca os santos se calaram.

O silêncio é a alma do negócio

 "Arrependo-me muitas vezes de ter falado, nunca de me ter calado."

 O silêncio é às vezes mais eloquente que os discursos

O silêncio é de ouro

 O silêncio também fala

Silêncio não significa esquecimento

Apenas o silêncio é grande, tudo o mais é debilidade.
 
 Nada faz realçar mais a autoridade do que o silêncio, esplendor dos fortes e refúgio dos fracos

 Arrependo-me muitas vezes de ter falado, nunca de me ter calado."

domingo, 21 de abril de 2013

«Passeamos pela vida» de Isabel del Toro Gomes







 Passeamos pela vida


Passeamos juntos, enfim
Pelas arribas, pela praia sem fim
Pisamos juntos as rochas
A areia molhada
Olhamos juntos os céus
A neblina, o mar
E pensamos ao olhar
O amor devia ser assim
Azul, denso e eterno
Como o mar, a neblina e o céu.




quinta-feira, 18 de abril de 2013

«Noite de cães» de Álvaro Guerra





Havia um comerciante libanês que tinha uma loja no «mato» e o armazém cheio de mancarra e a mancarra determinava a vida e a morte dos homens, no «mato».

Pede amendoins, «Oui, des cacauettes». Não há. Pensando bem, ele nem sequer gostava muito de mancarra-amendoins-cacahuettes, ele apenas sente vontade de se ouvir numa alusão vaga à importância dessa coisa sem importância que é algures o pão e a fome.
Ah, como a memória está ainda fresca!
Agora ele não quer esquecer o que são a Fé eo Império ou em que é que se transformaram ou, afinal, que não se transformaram senão naquilo que sempre foram.

                 Álvaro Guerra, Noite de cães, in O Disfarce

 

 


Deixando de lado as referências político-sociais do excerto deste imprescindível livro de Álvaro Guerra, centrei-me unicamente na alusão aos amendoins que na Guiné dos anos da Guerra Colonial era conhecida por «mancarra» (não sei se se mantém esta magnífica denominação) e ao facto de um libanês ter uma loja no meio do mato e no meio da guerra.
Já tinha lido algumas obras sobre as excentricidades e os episódios «anedóticos» desta guerra, que devem acontecer em todas as guerras, mas estes dois factos deixaram-me ainda surpreendida.
O homem é capaz de tudo em situações últimas de sobrevivência,sem dúvida. Aqui fica mais um exemplo. 

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Fernando Pessoa


Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas (...)

                                                             Álvaro de Campos


Pertenço a um género de portugueses que depois de estar a Índia descoberta ficaram sem trabalho.
                                                              Fernando Pessoa



Neste momento em que tanta gente se encontra sem trabalho e em que outros se engordam à custa deles e se aumentam a si próprios descaradamente, ou não se privam de privilégios e mordomias para ajudar o seu país, é pertinente lembrar esta frase de Fernando Pessoa e interrogarmo-nos que outras Índias é que vamos agora descobrir para sair desta crise.