segunda-feira, 26 de março de 2012

Antonio Tabucchi, um italiano apaixonado por Fernando Pessoa e por Portugal


Antonio Tabucchi morreu aos sessenta e oitos anos em Lisboa, ontem, 25 de março, após uma longa doença.
Nascido em Vecchiano, em Itália, em 24 de setembro de 1943, Tabucchi é autor de livros como "O Tempo Envelhece Depressa", "Afirma Pereira", "Está Ficando Tarde Demais" e "Tristano Morre".
Tabucchi estava internado no hospital da Cruz Vermelha. Segundo a mulher do escritor, Maria José Lancastre, o enterro acontecerá na próxima quinta-feira na capital portuguesa.
Filho único de um vendedor de cavalos, Tabucchi, estudou Filologia Românica e, a partir de 1962, Literatura em Paris, onde descobriu o poeta Fernando Pessoa ao ler a tradução para o francês de um de seus poemas.
O entusiasmo com a descoberta  levou-o a estudar o idioma e a cultura de Portugal, que se tornou sua segunda pátria. Tabucchi estudou Literatura Portuguesa na Universidade de Siena e redigiu uma tese sobre o "Surrealismo em Portugal". Apaixonado por Pessoa, traduziu toda sua obra para o italiano, ao lado da mulher, que conheceu em Portugal.
Vários romances de Tabucchi foram adaptados para o cinema, como "Noturno Indiano" (prémio Médicis estrangeiro, 1987), por Alain Corneau, e "Afirma Pereira", por Roberto Faenza, com Marcello Mastroianni como protagonista, o que contribuiu para o sucesso da obra.
A Casa Fernando Pessoa vai homenagear Antonio Tabucchi realizando no próximo dia 2 de abril, a partir das 10.30, uma maratona de leitura integral do "Requiem", que será gravada para que possa ser acessível para os invisuais.

Aqui fica o link para quem quiser recordar o filme «Afirma Pereira». Ler e ver as obras de Tabucchi é a melhor homenagem que podemos fazer a alguém a quem a cultura portuguesa muito deve. 


quinta-feira, 22 de março de 2012

«Pensar» de Vergílio Ferreira



Muito conteúdo neste livro de Vergílio Ferreira ( para nos pôr a pensar e repensar!
Parece que anda um pouco esquecido, este grande escritor e filósofo...
Porquê? Como ele diz, não há razão para coisa nenhuma neste mundo, pelo que não ficaria o autor nada admirado.Mas não nos calaremos!

...Como em toda a obra de arte. Porque em toda ela o que em nós fica não é bem o que lá está, mas a alma que a fez ser e fica a ressoar em nós, mesmo quando já lhe esquecemos o motivo. Todo o destino humano se insere entre o «porquê» e o «para quê». Mas esses limites são os de uma liberdade que deseja cumprir-se.
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Resta apenas o que nos resta e é a evidência de que a vida humana é uma razão bastante na sua ausência de razão, para toda a falência de razões...............................................................
Não há pergunta sobre o para quê de uma flor que lhe tire o encantamento. O sentido do ser é o ser. E se nos calássemos?

                                           Vergílio Ferreira , «Pensar»

quarta-feira, 21 de março de 2012

Dia Mundial da Poesia 2012

Hoje é o Dia com mais comemorações: Dia da Poesia, Dia da Árvore e da Floresta...
Felizmente que os sindicatos não o escolheram também para dia de Greve Geral, que será amanhã, pois isso não era nada poético. 
Nem se podiam realizar as múltiplas actividades que vão por esse país fora em prol da Poesia, que nunca se viu tão festejada e engalanada. À medida que a crise aumenta e nos deixa numa penúria cada vez maior, mais poetas nascem do chão. Como as árvores, daí ser comemorado no mesmo Dia, a Poesia e a Árvore. Portugal é uma Floresta de Poetas e não é por acaso.
Aqui ficam algumas ideias para quem quiser sair de casa. Para os outros, basta lerem um poema confortavelmente sentados no sofá. Hoje e de vez em quando, pois não devia haver dia nenhum sem poesia.
 

Nos 16 municípios da Área Metropolitana do Porto, entre eles, S. João da Madeira, Trofa e Matosinhos, pelas 11:00, realiza-se um "estendal poético metropolitano" constituído por poemas selecionados pelos diferentes concelhos. Em São João da Madeira, a partir das 13:00, em vários restaurantes da cidade serão lidos poemas.
Também em Setúbal haverá um "Estendal da Poesia" com a possibilidade de cada um deixar um poema escrito. Nesta cidade, onde nasceu o poeta Barbosa du Bocage, inicia-se, às 10:00, uma maratona de leitura de poemas para crianças, adolescentes, e jovens adultos que culmina às 21:00 com a leitura na Biblioteca Pública pela presidente da Câmara Municipal, Maria das Dores Meira, e pelos presidentes das juntas de freguesia sadinas, antecedendo o encontro com o poeta António Osório.
A Maratona de Poesia, que se realiza pelo segundo ano, termina às 22:30 com a atuação do coro TuttienCantus. Na maratona participam os jornalistas Helena Sousa Freitas, da Lusa, e Luís Humberto Teixeira, ex-diretor do jornal O Sul, e ainda os atores Céu Campos, Carlos Rodrigues, José Nobre e Fernando Guerreiro.
Em Gondomar, na Biblioteca Municipal, é apresentado o livro "Uma casa junto do mar", de J. A. Nunes Carneiro, pelo vereador Fernando Paulo, seguindo-se "Leituras Poéticas", coordenadas por Maria de Lurdes dos Anjos.
O Centro Dramático de Viana do Castelo encena o recital "Poesis Mundi" com a participação da Orquestra Som da Rua, projeto educativo da Casa da Música, do Porto, no Teatro Sá de Miranda, às 21:00.

No Centro Cultural de Belém, o Dia Mundial da Poesia comemora-se no dia 24 de Março. Por ser sábado, ou por tendência de andar em contra-mão? Vá-se lá saber!
O programa é, como sempre, recheado de atividades e bastante interessante. Porque o dia da Poesia é todos os dias, acho que sim!
Aqui fica o link para verem o programa:
http://www.ccb.pt/sites/ccb/pt-PT/Programacao/Literatura/Pages/Diamundialdapoesia2012.aspx



terça-feira, 20 de março de 2012

«Males de Anto» de António Nobre



Coimbra é certamente uma das cidades portuguesas por onde passaram e viveram mais escritores e homens de cultura. José Afonso, Miguel Torga, Artur Paredes, pai de Carlos Paredes, António Nobre, entre muitos muitos outros.
Nas minhas últimas e recentes deambulações pela cidade, deparei com a Torre de Anto, construção de origem medieval que fazia parte da antiga cerca de Coimbra, situada na Rua de Sobre-Ribas,que ficou famosa por aí ter residido, quando estudante, o poeta que lhe deu o nome e que a cantou nos seus versos.
António Nobre (1867/1900) aí terá vivido tempos de mocidade repletos de bons e maus momentos, embevecido certamente pela belíssima e vasta paisagem que daí se avista sobre a cidade e sobre o Mondego.
«Males de Anto» é um poema escrito no Seixo, para onde António Nobre se deslocou depois de abandonar o curso de Direito, em Coimbra, com a saúde muito abalada e cheio de desgostos.
Vergílio Ferreira diz no seu livro «Pensar» que António Nobre era um daqueles poetas que algumas pessoas liam e iam a correr para a casa de banho chorar. Era bom que isso continuasse a acontecer, ou que voltasse a acontecer. Sinal que o Homem ainda seria capaz de ler e de sentir alguma emoção com aquilo que lê, nos alvores deste terceiro e embrutecido milénio que nos calhou em sorte.

I
A ares numa aldeia

Quando cheguei aqui, Santo Deus! como eu vinha!
Nem mesmo sei dizer que doença era a minha,
Porque eram todas, eu sei lá! desde o Ódio ao Tédio.
Moléstias d' Alma para as quais não há remédio.
Nada compunha! Nada, nada. Que tormento!
Dir-se-ia acaso que perdera o meu talento:
No entanto, às vezes, os meus versos gastos, velhos,
Convulsionavam-nos relãmpagos vermelhos,
Que eram, bem o sentia, instantes de Camões!
Sei de cor e salteado as minhas aflições:
Quis partir , professar num convento de Itália, 
Ir pelo Mundo, com os pés numa sandália...
(...)

       
                                                                                      António Nobre, Só
Torre de Anto, Coimbra






terça-feira, 13 de março de 2012

«Balada do Outono» de José Afonso



Nesta casa morou José Afonso em Coimbra e nela poderá ter sido composta a Balada do Outono, quem sabe! Esta é a primeira composição verdadeiramente da autoria de José Afonso, nos seus tempos de Coimbra, que talvez se  devesse antes chamar Balada do Rio, pois fala-nos das águas do rio Mondego, a que a gíria estudantil coimbrã chama «Basófias», devido ao carácter caprichoso da subida e descida das suas águas.
José Afonso intitulou as suas primeiras canções de baladas, para as distinguir do chamado »Fado de Coimbra», que começara a cantar desde os tempos de estudante do liceu D. João III, nos anos 40.
José Afonso fez a composição, mas faltava-lhe o título. Parece que terá pensado em designá-la inicialmente por BALADA DO RIO (MONDEGO). Em troca de ideias com o Dr. António Menano, José Afonso seguiu a sugestão de Balada do Outono. A sua própria ideia teria sido melhor, a meu ver, já que o próprio poeta se apresenta como alguém que convoca a presença ou exige o silêncio das águas das fontes, das ribeiras e dos rios na sua eterna viagem para o mar. Foi gravada pela 1ª vez nos inícios dos anos 60.
Quanto à casa onde viveu José Afonso em Coimbra, que se encontra bem cuidada na parte da frente, é de estranhar que esteja a parede lateral em mau estado, precisamente onde está o painel comemorativo. Alguém deveria cuidar melhor das nossas memórias!


 

segunda-feira, 12 de março de 2012

«Canto Jovem» de José Afonso

Para todos os estudantes das escolas portuguesas que estão a passar por todo o tipo de dificuldades, aqui fica o Canto Jovem (ou Moço) de estudantes de outros tempos, que muito sofreram também.
Foi escrito por José Afonso para ser cantado pelos estudantes universitários que o autor conheceu numa digressão para que foi convidado. Destina-se a ser interpretado como música coral por duzentos figurantes de ambos os sexos e de todas as proveniências e condições.



Canto Jovem (Moço)
Somos filhos da madrugada
Pelas praias do mar nos vamos
À procura de quem nos traga
Verde oliva de flor no ramo
Navegámos de vaga em vaga
Não soubemos de dor nem mágoa
Pelas praias do mar nos vamos
À procura da manhã clara

Lá do cimo duma montanha
Acendemos uma fogueira
Para não se apagar a chama
Que dá vida na noite inteira
Mensageira pomba chamada
Companheira da madrugada
Quando a noite vier que venha
Lá do cimo duma montanha

Onde o vento cortou amarras
Largaremos pela noite fora
Onde há sempre uma boa estrela
Noite e dia ao romper da aurora
Vira a proa minha galera
Que a vitória já não espera
Fresca brisa moira encantada
Vira a proa da minha barca.