sexta-feira, 18 de novembro de 2011

«Oh, não ames demasiado tempo» de W.B.Yeats




William Butler Yeats, muitas vezes apenas designado por W.B. Yeats,  nasceu em Dublin em 1865 e morreu em 1939, em França. Foi um poeta, dramaturgo e místico irlandês.
Vastamente reconhecido como um dos expoentes da poesia do séc. XX, Yeats nasceu em Dublin, onde se desenvolveu num meio culto e criativo. O seu pai foi o pintor John Butler Yeats. William também estudou arte, tanto em Dublin como em Londres. Durante as férias, a sua família costumava visitar Sligo, na região Oeste da Irlanda. As ricas tradições e as lendas do lugar influenciaram fortemente o poeta por toda a vida.
Foi galardoado com o Nobel da Literatura em 1923.

Quadro do pai de W.B.Yeats

Selecionei este poema, duma simplicidade e dum misticismo que me deslumbram.

Oh, não ames demasiado tempo


Amada, não ames demasiado tempo;
Eu amei tanto, tanto
E fui passando de moda
Como uma velha canção.

Ao longo desses anos da nossa juventude
Não podíamos distinguir
O nosso pensamento do pensamento alheio
Porque tão unidos éramos apenas um.

Mas em breve, breve instante ela mudou -
Oh, não ames demasiado tempo
Ou irás passando de moda
Como uma velha canção.


                                        W.B. Yeats, In The seven Woods (1904)

 

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

«A um jovem poeta» de Manuel António Pina



Manuel António Pina é um dos nossos mais importantes poetas e autores de livros para crianças e jovens. Com 66 anos, foi galardoado com o prémio Camões 2011. É também jornalista e  cronista do Jornal de Notícias e da Notícias Magazine. É ainda autor de peças de teatro e de livros de ficção.
Aqui fica um dos seus poemas, a todos os jovens poetas:

A um Jovem Poeta

Procura a rosa.
Onde ela estiver
estás tu fora
de ti. Procura-a em prosa, pode ser

que em prosa ela floresça
ainda, sob tanta
metáfora; pode ser, e que quando
nela te vires te reconheças

como diante de uma infância
inicial não embaciada
de nenhuma palavra
e nenhuma lembrança.

Talvez possas então
escrever sem porquê,
evidência de novo da Razão
e passagem para o que não se vê.

                           
Manuel António Pina, in "Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança"

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

«Toda a Terra...»


João José Cochofel nasceu em Coimbra em 1919 e morreu em 1982, na mesma cidade.
Licenciou-se em Coimbra em Ciências Histórico-Filosóficas, foi um dos membros mais representativos do movimento neorrealista coimbrão, concretizado no Novo Cancioneiro, foi crítico literário e também musical, mais tarde, em Lisboa.
O seu lirismo é intimista e delicado, de expressão simples e segura, com um estilo muito pessoal e de refinada sofisticação, pouco habitual nos neorrealistas.
Escolhi este poema, entre muitos que me agradavam:


Toda a Terra...
Toda a terra é
boa para viver
um outono doce
cor de liberdade,

do sol e do vento,
dos lumes da noite,
de tudo que é bom
ter por companhia,

tudo que afugente
este pesadelo
de envelhecer

com as mãos vazias
do peso secreto
de outras mãos nas minhas.


                                          João José Cochofel, in Quatro Andamentos(1966)



domingo, 6 de novembro de 2011

«Poesia» de Isabel del Toro Gomes




Poesia

Como pode alguém pensar

Ou sequer suspeitar

Que a poesia

Não tem futuro?

o futuro é a poesia ela própria.



Quando escrevo um poema

Estou só no mundo a pairar

as palavras e eu

Que dizem tudo por mim

Nada mais conta.



Quando leio um poema

É como se lesse assim

Milhões de livros

Árvores que meditam e se desfolham

Que Me oferecem o fruto maduro

Nada mais interessa.



A poesia somos todos nós

Quando olhamos os outros

E mesmo sem os amar

Os amamos com dor ou pena

E nada mais conta.

É claro que a poesia tem futuro

A poesia é o futuro.


segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Carlos Drummond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade e sua filha, Maria Julieta.

Carlos Drummond de Andrade foi um grande escritor brasileiro, que escreveu poesia, contos, crónicas e livros para crianças.
Nasceu em Itabira em 31 de Outubro de 1902, e faleceu em 1987.
Comemora-se hoje o 99º aniversário do seu nascimento, tendo a Casa Fernando Pessoa um programa de homenagem a este escritor, hoje, durante todo o dia.
Pena eu estar com gripe, gostava de ir até lá.
Em compensação, faço aqui a minha pequena homenagem a este poeta, que muito admiro:


A poesia é incomunicável.
Fique torto no seu canto.
Não ame.

Ouço dizer que há tiroteio
ao alcance do nosso corpo.
É a revolução? O amor?
Não digo nada.

Solidão, não te mereço,
pois que te consumo em vão.
Sabendo-te embora o preço,
calco teu ouro no chão.

                                                    Carlos Drummond de Andrade

«Uma Viagem à Índia» de Gonçalo M. Tavares



Gonçalo M. Tavares é um dos mais importantes escritores da sua geração. Nasceu em 1970, em Luanda, e em 2001 publicou a sua primeira obra.
Autor já de muitos livros, destacam-se Jerusalém, O Senhor Valéry, Água,Cão, Cavalo, Cabeça e, mais recentemente, o premiado, Viagem à Índia.
Acabei de ler esta obra há pouco tempo, que me pareceu muito curiosa e de leitura cativante. Mais do que um livro de ficção, considero-o um «Manual de Metafísica», em que os leitores se podem identificar com a personagem de Bloom, que procura a sabedoria e a Índia.
Sobre ela, diz Eduardo Lourenço:

Uma Viagem à Índia, com consciência aguda da sua ficcionalidade, navega e vive entre os ecos de mil textos-objetos do nosso imaginário de leitores. Como todos os grandes livros, e este é um deles.

Eis alguns excertos, escolhidos por mim:
                                                                                     

Bloom disse que de Lisboa partira
e em viagem estava para a Índia. No outro lado do mundo
procurava uma alegria nova
ou, se possível, várias.
                                         (Canto I)


O futuro vem aí como o pastor que guarda o
seu rebanho lento, isto é: não vem,
atrasa-se, gera impaciência nas coisas que existem.
Certos acontecimentos, é certo, podem aumentar
dois ou três andares à vida. Mas nada de mais.
Toda a matéria tem futuro,
e mesmo a memória particular é, neste particular-particular,
matéria a ter em conta. a memória tem futuro,
eis uma ideia nada pessimista.

                                              (Canto II)

Procurou o Espírito na viagem à Índia
encontrou a matéria que já conhecia.

                                             (Canto X)

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

«Fim do dia» de Isabel del Toro Gomes


Fim do dia

O dia termina e despede-se

Esvaindo-se em sangue

E a noite nasce lentamente

Do fogo ateado pelo sol

No horizonte

nos corpos dos homens

e dos bichos exangues.