quarta-feira, 7 de julho de 2010
Matilde Rosa Araújo
Boa noite, passarinho
-Boa noite, passarinho,
Onde é que tu vais dormir?
-Vou dormir num ramo verde
Com o luar a luzir.
-Boa noite, passarinho,
Onde é que tu vais sonhar?
-Vou sonhar no bosque verde
Tão verde à luz do luar.
-Boa noite, passarinho,
Estás cansado de voar?
-Escondo a cabeça na asa
E já posso descansar.
-Boa noite, passarinho,
Não dormes dentro de casa?
-Se eu poiso num ramo verde
-E o lençol é a minha asa?
-Boa noite, passarinho,
Qual é o teu candeeiro?
-São os olhos amarelos
Do mocho do candeeiro.
-Boa noite, passarinho...
Um soninho descansado...
-Quando acordar de manhã,
Vou cantar ao teu telhado!
Matilde Rosa Araújo (Mistérios)
No dia seguinte à tua morte, lembro-te como aquela escritora de olhos doces, de voz terna e cheia de uma bondade vinda do amor à natureza, aos pequenos seres e às pequenas coisas. De coração do tamanho de uma criança.
Boa noite, Matilde, descansa no teu ramo verde e dorme um soninho descansado, o teu canto ficará para sempre a lembrar-nos de ti.
domingo, 4 de julho de 2010
«Citações e Pensamentos» de Agostinho da Silva
Aqui ficam alguns dos pensamentos deste homem e filósofo, que sabia «pensar» e que teve a sabedoria de dizer que «O homem não nasceu para trabalhar, nasceu para criar.»
Escola- Todas as nossas escolas são escolas de guerra, pelo recrutamento, porque só queremos os mais aptos ou aqueles que julgamos mais aptos, pela disciplina do curso e do comportamento, e pelo nosso objectivo de, no final dos estudos, os repartirmos por armas. (Espiral).
Educação- Por muito cuidado que se tenha, educar é podar; deixar crescer com toda a força o ramo que nos agrada. (Espólio)
-A publicidade é uma fábrica de perfeitos fregueses, ávidos e estúpidos; a educação, que lhe é paralela, fabrica cidadãos servis e crentes. (Espólio)
Elogio- Tudo o que os outros me elogiam foi o fácil; foi o complicado e o misterioso tudo o que eles ignoram ou censuram. (Espólio)
domingo, 27 de junho de 2010
Cartas Sem Moral Nenhuma
Catedral de Sevilha
Neste ano em que se comemora o centenário da República, resolvi dedicar algum tempo à obra de Manuel Teixeira Gomes, 7º Presidente da 1ª República, entre 1923 a 1925, cargo a que renunciou para se dedicar à produção literária (ou para fugir à enorme perturbação política e social da época?).
Comecei por ler o romance «Maria Adelaide», única obra deste autor que tinha em casa, e achei-o tão dIferente e original em relação ao seu tempo que resolvi ler mais qualquer coisa. Daí até encontrar numa feira do livro «As cartas sem moral nenhuma», foi um passo. A Bertrand editou as obras completas deste autor há alguns anos e é fácil encontrá-las a bom preço.
Foi um daqueles casos em que o título do livro nos agrada, mas depois não corresponde em nada àquilo que esperávamos. Embora nalgumas cartas o autor relate acontecimentos divertidos e interessantes para o estudo do meio socio-cultural da época (este é um dos grandes interesses que pode oferecer a correspondência), rapidamente me começou a enfastiar a sua linguagem muito rebuscada e difícil. Confesso que já não tenho paciência nem tempo para livros difíceis.
Mas como todas as cartas iniciais eram escritas de Sevilha, terra natal de meu avô materno e padrinho, Mariano de seu nome, de quem guardo gratas recordações de infância (eu era a sua «jóinha»), lá continuei a ler. Deste modo, fiquei a saber mais algumas coisas de Sevilha, dos seus costumes e da sua catedral, a maior de Espanha, que já visitei mas não recordo quase nada (só me lembro de subir à torre e ver Sevilha a meus pés, emocionada por aí ter começado, algures, este ramo da minha família).
Para quem tenha paciência e curiosidade, vale a pena ler. Pela sua ironia sarcástica, principalmente. Como neste excerto:
«Hoje cantava-se una infindável missa de pontifical a que assistiam inúmeros cavalheiros de oficial importância, esses inconfundíveis aspirantes a estadistas que em Espanha se distinguem dos outros mortais pelo seu perfil de chocolateira - com o bico invertido - e são ultradecorativos.»
domingo, 20 de junho de 2010
Cem anos de Solidão
No dia do adeus a Saramago, terminei finalmente a obra de outro prémio Nobel, «Cem anos de solidão», de Gabriel García Márquez, seis anos mais novo que Saramago. 421 páginas para mim é muito, e se consegui chegar ao fim é sinal que o livro me interessou, não obstante a sua estrutura em círculo ou em espiral que nunca mais acaba. Mas Gabriel García Márquez é na realidade um grande escritor, cujo realismo me interessa mais do que o seu Realismo Fantástico. Ao escrever a história da Família Buendía como «...uma engrenagem de repetições irreparáveis, uma roda giratória que teria seguido às voltas até à eternidade, não fosse o desgaste progressivo e irremediável do eixo.» (pág. 400), o autor acaba por fazer a história do mundo e de todos os homens. Incluindo dele próprio, pois há muito de autobiográfico nesta obra (como sempre, aliás).
A roda do mundo continua a girar, implacável, por enquanto, determinando os dias e a hora de nascer e de morrer.
sábado, 15 de maio de 2010
terça-feira, 4 de maio de 2010
«Cem anos de Solidão»
Criei este blogue para falar de livros, os meus (ainda agora comecei) e os dos outros autores, claro!
Ando agora a ler um livro que há muito queria ler: Cem anos de solidão, de Gabriel García Marquez. Mal conhecia este autor, só tinha lido uns contos dele, estou agora a descobri-lo.
Na contra-capa, o próprio diz:
...Descobri, ao acordar, que tinha maduro no coração, o romance de amor que havia ansiado escrever há tantos anos.
Como é curioso! Ressalvando as devidas distâncias de um dos maiores escritores do nosso tempo, ou mesmo de sempre, acho que o mesmo está a acontecer comigo. Será que um dia conseguirei escrever o tal romance que está a amadurecer dentro de mim? Será que atingirei esse estado de maturidade?
quinta-feira, 29 de abril de 2010
Carlitos, o Corajoso
Ainda não vos apresentei o meu segundo livro: Carlitos, o Corajoso.
Já deve estar à venda em todo o lado, Continente, Modelo, Fnac, Almedina, Bulhosa, Bertrand....
É um conto sobre a vida difícil de um menino que não teve a sorte de nascer num berço de ouro, mas que tem a sorte de ser «artista», de ter um talento dentro dele, que preenche a sua vida e lhe vai dando coragem e força para as adversidades do dia-a-dia. A família e o amor que os une tornam Carlitos e os irmãos uns seres felizes e vencedores, quando no final o pai consegue sobreviver à doença e continuam todos juntos.
Há quem diga que todos os livros são auto-biográficos, ou têm algo de nós. Concordo plenamente. Tudo o que escrevo é a expressão mais simples de tudo o que vivi e senti.
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