Para ti meu amor
Fui ao mercado dos pássaros
e comprei pássaros
e comprei flores
para ti
meu amor
e comprei cadeias
e andei à tua procura
meu amor
Para ti meu amor
Fui ao mercado dos pássaros
e comprei pássaros
https://www.youtube.com/watch?v=xu-KeQROjEM
Frutos
Pêssegos, peras, laranjas,
morangos, cerejas, figos,
maçãs, melão, melancia,
ó música de meus sentidos,
pura delícia da língua;
deixai-me agora falar
do fruto que me fascina,
pelo sabor, pela cor,
pelo aroma das sílabas:
tangerina, tangerina.
Eugénio de Andrade
Neste domingo de Março, cheio de sol mas ainda frio, mais um poema de Miguel Torga, de grande beleza e inspiração na natureza.
Para nos animar e lembrar que a vida é o que temos de melhor, bem como a esperança.
Bucólica
A vida é feita de nadas;
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas
Pelo vento;
De casas de moradia
Caiadas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais;
De poeira;
De ver esta maravilha:
Meu Pai a erguer uma videira
Como uma Mãe que faz a trança à filha.
TORGA, M., Diário, 1941.
Visão cosmológica do Universo
Como tudo é prodigioso
E mágico na natureza
Que renasce em cada madrugada
Como tudo me deslumbra
Do nascer ao pôr do sol
Que marca o tempo que passa
Sem darmos por ele passar
Como se fosse uma surpresa
A eternidade dum minuto
Que pode durar séculos,
Milhões, bilhões de anos
Uma vida inteira que se traduz
Num pequeno nada que se renova
Um minuto de felicidade
Três ou quatro palavras por dizer
Como é tudo prodigioso
E trágico por natureza
No nosso imenso universo.
Dia 27 de fevereiro é dia de Lua Cheia.
Com ou sem confinamento, a Lua aí estará no céu mostrando-se completamente cheia.
Vamos ver se temos sorte de a ver.
Nestes dias, é sempre bom lembrar o canto dum grande poeta, Miguel Torga, por exemplo.
O canto do Poeta
Tal como o camponês,
que canta a semear
A terraOu como tu, pastor, que cantas a bordarA serrade brancura,Assim eu canto, sem me ouvir cantar,Livre e à minha altura.
Tivemos que ir ao Parque das Nações e encontrámos um fantasma do que foi a Expo de há 23 anos, quase.
Uma cidade deserta, o lince ibérico olhando triste o nada, o teleférico parado.
Apenas o Tejo azul e umas gaivotas andam na sua vida, se calhar contentes de tanto silêncio e da água toda para elas.
Esperemos o recomeço da vida.
Com sol e muito azul.
Entretanto, as grandes empresas estão fechadas, só com o porteiro ou seguranças à porta, capitalizando biliões de euros. Com os empregados em teletrabalho e o desenvolvimento do mundo digital, espera-nos um futuro de interrogações.