sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

 

O poeta Eugénio de Andrade nasceu na freguesia de Póvoa de Atalaia, no Fundão, no dia 19 de Janeiro de 1923. Mudou-se para Lisboa aos dez anos devido à separação dos seus pais.

Frequentou o Liceu Passos Manuel e a Escola Técnica Machado de Castro, tendo escrito os seus primeiros poemas em 1936. Em 1938 enviou alguns desses poemas a António Botto que, gostando do que leu, o quis conhecer. Botto incentivou-o nessa senda, e em 1940, publicou o seu primeiro livro Narciso, sob o seu verdadeiro nome, que mais tarde viria a rejeitar.





As Palavras


São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?



Eugénio de Andrade, Antologia Breve, 1972.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Coisas simples do passado

 




Coisas tão simples como passear num jardim, admirar as flores que renasciam e a natureza que se renovava, são agora impossíveis. Os canteiros estão vazios.

Em fevereiro do ano passado, já havia imensas flores no nosso jardim da Portela: lírios, jarros... Agora, até a grande bananeira está toda dobrada pelos vendavais ou pelos destruidores que andam à solta por aí.




Um hábito que fazia parte do nosso quotidiano e da nossa cultura (o nosso café é o melhor do mundo) como tomar uma bica ou um cimbalino, conforme se está em Lisboa ou no Porto, é agora impossível. Fazer o café em casa em máquinas mais ou menos parecidas é uma solução, mas não é a mesma coisa. Muito menos se puder ser numa esplanada.

Sentar num banco jardim, ir a um restaurante ao ar livre, ir a uma exposição, enfim, a qualquer local de diversão ou de cultura é impossível.

E não se sabe ainda até quando, embora se tenha uma ideia.

Coisas tão pequenas e simples e que nos parecem agora tão importantes.

É preciso caminhar em frente, deixar-se as discussões inúteis , fazer-se um plano inteligente de vacinação e tudo poderá voltar ao que era dantes.

Se não continuarem a ser cometidos demasiados erros por parte de todos, políticos e todos os que se querem aproveitar e mandar, mesmo sem autoridade para tal.







domingo, 31 de janeiro de 2021

31 de Janeiro, Dia Mundial do Mágico



31 de Janeiro é o Dia Mundial do Mágico.


E estamos mesmo a precisar da magia dos cientistas e de todos.

Será que as vacinas prometidas e já a ser aplicadas farão mesmo esse milagre?

Entretanto, precisamos também da magia duma bela paisagem, do mar, do campo... Recorro muitas vezes às fotos do lugares por onde andei e onde fui feliz.




O que os olhos veem e os ouvidos ouvem, a mente acredita. (Harry Houdini)


Minha mente é a chave que me liberta. (Harry Houdini)


O mágico é aquele que faz as pessoas sonhar e acreditar no impossível.






sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Recordações e memórias em tempos de confinamento



A memória pode ser uma forma de sobrevivência, pois através dela aprendemos como os nossos pais, avós...viveram, sofreram e sobreviveram. Ela aumenta também a hormona do amor e da felicidade, por isso nestes tempos duros todos se recordam de factos e pessoas que foram tão importantes para nós.



Não é só nostalgia, como alguns mais jovens pensam, é mais do que isso. E quando se junta a memória da pedra (esta fonte do palácio da Vila em Sintra ali permanece há séculos) e dos lugares é melhor ainda.

Na 1ª foto vê-se a minha mãe muito jovem e o meu avô Mariano, um verdadeiro andaluz de Sevilha.






terça-feira, 26 de janeiro de 2021

 



E assim tudo começou.

Num jardim perto de casa, este pequenino ninho continua agarrado ao ramo escolhido para ser construído e para ser o lar e a continuação da espécie dos pássaros que o fizeram. E com sucesso, porque há já vários anos que lá está.

Pequeno mas firme.




O pequeno ninho cá continua

Há vários anos, é um segredo

Nenhuma tempestade o destruiu

Ninguém o viu ou derrubou

Foi obra feita com amor

O aconchego da pequenina ave

Que tremendo, enfim voou.





sábado, 23 de janeiro de 2021

 "Nós temos de conseguir uma resposta e direção contrária à covid-19, ter respeito pelos outros e acatar essas instruções [de prevenção], tão simples", dadas pelas autoridades de saúde, disse o autor à Lusa.

O escritor moçambicano cumpre hoje o 10.º dia de isolamento domiciliar, desde que foi diagnosticado positivo para o novo coronavírus, apresentando-se com sintomas leves, entre cansaço e dores musculares.

Mia Couto alertou para as implicações "profundíssimas" da covid-19 a nível social, económico e humano, além da saúde, considerando que a doença "empurra para uma situação de agonia, solidão e abandono".

"Quando me comunicaram, o medo que me assaltou foi o de um tipo de morte solitária, foi essa a construção que fiz", contou Mia Couto.

"Nós já temos vacina. Chama-se máscara, chama-se distanciamento. Portanto, temos as vacinas que serão, até daqui a alguns meses, a nossa arma principal", declarou (à Lusa).



Mia Couto, que fique bem porque é necessário junto de nós.


O Espelho

Esse que em mim envelhece
assomou ao espelho
a tentar mostrar que sou eu.
Os outros de mim,
fingindo desconhecer a imagem,
deixaram-me a sós, perplexo,
com meu súbito reflexo.
A idade é isto: o peso da luz
com que nos vemos.

No livro “Idades Cidades Divindades


Felizmente, no dia 27 de Janeiro, fomos informados que Mia Couto já se encontra recuperado.
Uma grande notícia.


quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

«Afinal a melhor maneira de viajar é sentir» de Álvaro de Campos

 Tempo de pensar cada dia como uma viagem.

Imagem insólita do Chiado.


«Afinal a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.»
Álvaro de Campos