quinta-feira, 17 de setembro de 2020

«Música no lago» de Isabel del Toro Gomes















Chuva a meio de Setembro, tempo de vindimas e de tantos outros trabalhos rurais, pode não ser do agrado de todos.

Mas que ela é necessária num ano de seca como foi este 2020, é verdade.

A Terra fica de certeza agradecida, por isso nós devemos também agradecer em nome do nosso Planeta.


Música no lago

 

Pingos de chuva

Despertam o lago

E o jardim

É chuva de verão.

 

Há alvoroço e confusão

Corridas passos apressados

Baloiços vazios.

 

Todos se refugiam

Debaixo dos telheiros

Tlim tlim tlim

E fica-se a ouvir assim

A chuva cristalina  de verão.

 

Há música no lago

E em mim.

 

Isabel del Toro Gomes




sábado, 12 de setembro de 2020

«Os pequenos seres» de Isabel del Toro Gomes

 




Quem não repara nos pequenos seres

Nunca se conhecerá a si próprio

Nem aos outros



Todos têm a sua beleza

Um segredo qualquer

Que nos ajuda a perceber o universo



Levei tempo a aprender

Agora olho com olhos de ver

E ao fim de tantos anos fico a saber

Que somos uma entre 200 mil galáxias

Quem se pode julgar mais importante

Mais forte, mais poderoso ?






quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Miradouro da Penha de França


Se há miradouro difícil de alcançar, este é um deles.
Subir por aquela colina acima, mesmo de carro, é um verdadeiro tormento.
Mas, de repente, ele aparece, ao lado da Igreja da Penha de França.


Estes são locais e monumentos cheios de História e de estórias, que só alguns conhecem...
O panorama sobre Lisboa vale, no entanto, o esforço para ir até este miradouro, a poucos quilómetros da Praça do Chile.


Do Miradouro da Penha de França, vê-se o Mar da Palha ao longe mas muito mais ainda o mar de telhados de Lisboa, com as suas chaminés, as suas mansardas e as suas lucarnas.


Por esta Penha algures nasceu o meu pai, talvez até tenha sido batizado na bela Igreja que lá das alturas nos convida a entrar. O tempo vai apagando os traços, mas estes teimam em ficar.



sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Jardim dos Moinhos de Santana



Mais um espaço verde para caminhar e com dois moinhos de vento atraiu logo a minha atenção.
Ontem fomos até lá e gostei, embora os equipamentos (esplanada, parque infantil, casas de banho...estejam encerrados ainda devido à pandemia) estejam todos fechados e não haja aquela alegria de crianças a brincar, pessoas a tomar o seu café e a conversar, a passear.


É a tristeza que se vai derramando aos poucos nas nossas vidas, mas o sol agora brilha e ainda voltará a brilhar por mais algum tempo.


«Lisboa menina e moça », como dizem os versos cantados por Carlos do Carmo lá está banhada pelo Tejo, bem azul , numa vista panorâmica donde se pode avistar até o Cristo Rei e a Ponte 25 de Abril bem ao fundo.


Vale a pena levar binóculos (se tiverem) e máquina fotográfica.
Ouvem-se e vêem-se bastantes pássaros, encontrando eu logo à entrada um belo rabi-ruivo.



Eram daqueles moinhos, cerca de 100 noutros tempos, que eram moídos os cereais para abastecer a cidade de Lisboa.
Nesses tempos, todos tinham de fazer o seu pão ou ir comprar a farinha para o fazer.
Os moleiros e os burrinhos que carregavam os fardos eram tão essenciais como os nossos supermercados agora.



Os Moinhos de Santana foram edificados, em meados do século XVIII, na Serra de Monsanto, para as freiras Dominicanas Irlandesas do Convento do Bom Sucesso.
São actualmente, em Lisboa, os únicos testemunhos perfeitamente preservados da importante actividade moageira desenvolvida por dezenas de moinhos em toda a zona ocidental da cidade, responsável pelo abastecimento de farinha.





segunda-feira, 24 de agosto de 2020

«No entardecer dos dias de verão» de Alberto Caeiro



No Entardecer dos Dias de Verão

No entardecer dos dias de Verão, às vezes,
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece
Que passa, um momento, uma leve brisa...
Mas as árvores permanecem imóveis
Em todas as folhas das suas folhas
E os nossos sentidos tiveram uma ilusão,
Tiveram a ilusão do que lhes agradaria...
Ah, os sentidos, os doentes que vêem e ouvem!
Fôssemos nós como devíamos ser
E não haveria em nós necessidade de ilusão ...
Bastar-nos-ia sentir com clareza e vida
E nem repararmos para que há sentidos ...
Mas graças a Deus que há imperfeição no Mundo
Porque a imperfeição é uma cousa,
E haver gente que erra é original,
E haver gente doente torna o Mundo engraçado.
Se não houvesse imperfeição, havia uma cousa a menos,
E deve haver muita cousa
Para termos muito que ver e ouvir ...

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XLI"


sábado, 15 de agosto de 2020

Nenúfares e jacintos



Lótus (ou nenúfares) é o símbolo da expansão espiritual, do sagrado, do puro (no budismo e noutras religiões)).


No Jardim Amália Rodrigues, em Lisboa, estão maravilhosos, nas suas várias cores : brancos, cor-de-rosa claro ou escuro e amarelos.


A combinação com o lilás e altura dos jacintos de água é perfeita.

Por cima deles voam libelinhas vermelhas, raras de se verem, e na água há uma biodiversidade interessante para se observar: rãs, peixes de várias cores e tartarugas (uma delas trepou por um nenúfar acima e deu várias dentadas numa folha).

Com a vista sobre a cidade de Lisboa e o Tejo ao fundo, é um jardim e um recanto a revisitar sempre que se puder.




sábado, 8 de agosto de 2020

Soneto 116 de William Shakespeare




William Shakespeare   1564 - 1616



Soneto 116 de William Shakespeare


De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça: amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera
Ou se vacila ao mínimo temor.


Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante
Cujo valor se ignora, lá na altura.


Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfanje não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,


Antes se afirma, para a eternidade.
Se isto é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou