sábado, 11 de janeiro de 2020

«Medronheiro» de Fernando Reis Luis


Em Monchique, deve haver muitos medronheiros, pois encontrei um poema de Fernando Reis Luis, composto especialmente para ser cantado pelo Grupo Coral da Confraria do Medronho «Os Medronheiros».

Esta bela serra carrega o peso dos incêndios de verão que anualmente ocorrem, mas geralmente a floresta rapidamente recupera e é ideal para caminhadas num mar de montanhas, a poucos quilómetros das praias do Atlântico.
Ainda me falta fazer estes percursos, há sempre mais viagens, há sempre mais mundo para ver.



No local mesmo onde moro, a caminho de Moscavide, existem vários medronheiros que só há pouco tempo descobri.
Os seu frutos são lindos, falta-me ver as suas flores brancas e as borboletas do medronheiro, verdadeiras maravilhas de cores vivas.


tem flores branquinhas
este medronheiro
com muitas folhinhas
todo o ano inteiro.
Refrão
é verde, amarelo
é fruto de sonho
redondo tão belo
vermelho o medronho.
2 - sem folhas nem ramos
no cesto lá ponho
e juntos cantamos
ao lindo medronho.
3 - de encostas a pique
nos campos da serra
a bela Monchique
é a nossa terra.
4 - e o tempo passado
numa cura lenta
o mosto é dourado
enquanto fermenta.
5 - aromas já lega
na dorna dormindo
no frio da adega
o março vem vindo.
6 -fogueira que arde
sob o alambique
de noite e de tarde
em toda a Monchique.
7 - no cântaro corre
e fico risonho
quando ele escorre
já puro medronho.
8 - o pão com choriça
também nos atesta
depois desta liça
que venha a festa.
Fernando Reis Luís
(Monchique)
Canção criada para o Grupo Coral da Confraria do Medronho "Os Monchiqueiros"



quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

«Boa Noite» de Sidónio Muralha



Sidónio Muralha (Lisboa, 29 de julho de 1920 - Curitiba, 8 de dezembro de 1982) foi um escritor português
Escreveu poesia, prosa (ficção e ensaio), bem como literatura infantil, género no qual mais se notabilizou. 
Este é um dos seus mais simples poemas, sobre a zebra, «o cavalo às riscas».

Boa Noite
A zebra quis
ir passear
mas a infeliz
foi para a cama

-teve de se deitar
porque estava de pijama.

In  Portugal

Um outro poema seu foi musicado e cantado por Manuel Freire, «Pequenos deuses caseiros», que podem ouvir no link seguinte:

https://www.youtube.com/watch?v=FWhaAAmTuSY


terça-feira, 7 de janeiro de 2020

«O cacilheiro» de Ary dos Santos e Paulo de Carvalho

Verdadeiro hino ao barco que levava milhares de pessoas de Lisboa para a banda de lá, e vice-versa, atravessando o rio Tejo por vezes calmo, outras com ondas agitadas e bastantes solavancos, são estes versos de Ary dos Santos, musicados por Paulo de Carvalho e cantados por Carlos do Carmo. E, como previu o poeta, o cacilheiro foi embora, substituído por barcos mais modernos (mas nem sempre melhores) e o Tejo ficou mais triste.





O Cacilheiro

Música: Paulo de Carvalho
Letra: Ary dos Santos


Lá vai no Mar da Palha o Cacilheiro,
comboio de Lisboa sobre a água:
Cacilhas e Seixal, Montijo mais Barreiro.
Pouco Tejo, pouco Tejo e muita mágoa.

Na Ponte passam carros e turistas
iguais a todos que há no mundo inteiro,
mas, embora mais caras, a Ponte não tem vistas
como as dos peitoris do Cacilheiro.

Leva namorados, marujos,
soldados e trabalhadores,
e parte dum cais
que cheira a jornais,
morangos e flores.
Regressa contente,
levou muita gente
e nunca se cansa.
Parece um barquinho
lançado no Tejo
por uma criança.

Num carreirinho aberto pela espuma,
la vai o Cacilheiro, Tejo à solta,
e as ruas de Lisboa, sem ter pressa nenhuma,
tiraram um bilhete de ida e volta.

Alfama, Madragoa, Bairro Alto,
tu cá-tu lá num barco de brincar.
Metade de Lisboa à espera do asfalto,
e já meia saudade a navegar.

Leva namorados, marujos,
soldados e trabalhadores,
e parte dum cais
que cheira a jornais,
morangos e flores.
Regressa contente,
levou muita gente
e nunca se cansa.
Parece um barquinho
lançado no Tejo
por uma criança.

Se um dia o Cacilheiro for embora,
fica mais triste o coração da água,
e o povo de Lisboa dirá, como quem chora,
pouco Tejo, pouco Tejo e muita mágoa.

https://www.youtube.com/watch?v=mnAojJcUm_Q

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Jardim da Estrela e Lapa




Depois de uma época festiva agitada, lá fomos na manhã de domingo, a seguir ao Natal e Ano Novo, até ao Jardim da Estrela, tomar o café e matar saudades das árvores, pois flores agora há poucas.

João de Deus

O sol mostrou-se benigno e amenizou o frio, que era bastante.



Agora, com as árvores completamente despidas, a paisagem é outra, tudo se vê com mais nitidez.



As estátuas ganham mais relevância, e olham-se como se fosse a primeira vez que as descobríamos.

 da Preguiça ou O Despertar, O Cavador, João de Deus, etc. 

A Preguiça ou O Despertar


O Cavador

E até à Lapa é um pulo, para ver os palacetes e casas antigas, que ao  caírem deram lugar ao novo luxo.


quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

2020 - A pobreza continua


Em Portugal, um em cada cinco portugueses é pobre. 
Vai ser mais um ano de dificuldades para a população em geral (excepto banqueiros que continuam à solta, políticos corruptos, americanos ricos e chineses que compram tudo e se safam bem dos impostos). 
Mas somos o País da Esperança e esta é a última a morrer (o quadro é de Sorolla, da sua fase realista).
Uma das que tem de partir de novo e deixar o seu país é a minha filha, que lá vai amanhã de autocarro até à Alemanha durante dois dias e duas noites, deixando um lugar vazio na casa e muita saudade no coração.
Boa viagem filha, até breve!!





terça-feira, 31 de dezembro de 2019



Feliz Ano de 2020 com saúde para nós e para o nosso Planeta.
Lutemos pela sustentabilidade em todos os momentos das nossas vidas e comecemos pela passagem de Ano, mostrando aos que nos governam que não precisamos de Fogos de Artifício Gigantes, em que cada cidade rivaliza com a vizinha, provocando desperdício de verbas que nunca há para as necessidades do país e dos mais desprotegidos, provocando mais aquecimento global e pobreza.
Precisamos sim de medidas realistas e imediatas, mais justiça social e mais protecção às vítimas das guerras, da pobreza e da violência.




sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

«O Homem das Castanhas» de Ary dos Santos



Com o frio, sabem sempre bem umas castanhas quentes, assadas pelos vendedores ambulantes nos seus carrinhos com assadores de barro, agora substituídos por alumínio, que felizmente já estão melhor na vida, pois o negócio sai mais rendoso com os muitos turistas e a dúzia da castanha assada já se paga bem: 2 euros e meio este ano.
Por mim, não me queixo do preço, porque ter o trabalho de as assar em casa é impossível por agora, o braço não o permite. 
E é sempre diferente comê-las na rua, tirando-as bem quentes dum cartucho de papel e saboreá-las lentamente.
Em casa tem a vantagem de serem acompanhadas com jeropiga, uma ótima  bebida também para aquecer os corações.
Este poema de Ary dos Santos expressa bem o que representa na paisagem das cidades esta figura popular, e é interpretado com a voz magnífica de Carlos do Carmo, que este ano completou oitenta anos de vida.


«Apregoa pedaços de alegria,
e à noite vai dormir com a tristeza.»


O Homem das Castanhas

Na Praça da Figueira,
ou no Jardim da Estrela,
num fogareiro aceso é que ele arde.
Ao canto do Outono, à esquina do Inverno,
O Homem Das Castanhas é eterno.
Não tem eira nem beira, nem guarida,
e apregoa como um desafio.
É um cartucho pardo a sua vida,
e, se não mata a fome, mata o frio.
Um carro que se empurra,
um chapéu esburacado,
no peito uma castanha que não arde.
Tem a chuva nos olhos e tem o ar cansado
o homem que apregoa ao fim da tarde.
Ao pé dum candeeiro acaba o dia,
voz rouca com o travo da pobreza.
Apregoa pedaços de alegria,
e à noite vai dormir com a tristeza.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais calor p'ra casa.
A mágoa que transporta a miséria…




https://www.youtube.com/watch?v=1PN0zy0XaOQ