quarta-feira, 29 de agosto de 2018

«Livro» de Luisa Ducla Soares

                                                           quadro de James Tissot


Para algumas pessoas os livros são objectos imprescindíveis, sem os quais não conseguem viver.
Ler um livro (ou uma revista, jornal…) é a melhor forma de ocuparem o seu tempo livre, é uma descoberta, uma aventura, um mistério, uma conversa com alguém.
Mesmo no tempo presente, em que é possível ler um livro ou um jornal noutros suportes (telemóvel, tablet…) há pessoas que não substituem o livro de capa e folhas por um ser virtual, como se fosse «algo invisível» que anda por aí e que só alguns podem ler.
Eu sou uma dessas pessoas, eram a minha companhia quando era criança e jovem, a família era pequena, restavam-me os livros. E porque gostava mesmo de ler e de aprender coisas novas.
Não entrando em debates sobre se o livro-objecto vai ou não ser substituído pelo livro-virtual, aqui fica este pequeno poema de Luisa Ducla Soares, que diz tanto em tão poucas palavras.

Livro
Livro
Um amigo
Para falar comigo
Um navio
Para viajar
Um jardim
Para brincar
Uma escola 
Para levar 
debaixo do braço.
Livro
Um amigo
Para falar comigo.

Luisa Ducla Soares, Poemas da Mentira e da Verdade








segunda-feira, 16 de julho de 2018

«Lisboa Lisboa» de Isabel delToro Gomes


Mais um poema à minha cidade natal.


Lisboa Lisboa 

nas ruas
nas calçadas

nas lojas
nos cafés

nas praças
nos jardins

tudo é música
das conversas adiadas
das máquinas ruidosas
dos pássaros e das cotovias




 
na cidade toda
nas pessoas que se enamoram

que correm
que compram

que trabalham
que lutam

tudo é música
do Tejo batendo nas rochas
dos cacilheiros que apitam
das gaivotas que gritam



é assim Lisboa dia e noite 

que não acaba nem começa

é assim a cidade do grande rio

e do mais belo pôr-do-sol.





sábado, 14 de julho de 2018

Pablo Neruda


Pablo Neruda, grande poeta chileno nascido em 1904, é considerado um dos mais importantes poetas da língua castelhana do século XX.
Foi cônsul do Chile em Espanha de 1934 a 1938 , e no México.
Recebeu o Nobel da Literatura em 1971.
Em 2016, foi lançado o filme «Neruda», que aborda aspectos da vida política do poeta no final da década de 1940, e na perseguição que sofreu por motivos políticos.
Neste filme, dirigido por Pablo Larraín, Neruda foi interpretado por Luis Gnecco.

Do seu livro Vinte poemas de amor e Uma canção desesperada, aqui fica um dos poemas de que mais gostei (é difícil a escolha), por entrelaçar intimamente aquilo que o poeta sente - tristeza, sentimento de perda, recordação da amada  num passado longínquo - com elementos da natureza - o poente/crepúsculo.


10. Também este crepúsculo…

Também este crepúsculo nós perdemos.
Ninguém nos viu hoje à tarde de mãos dadas
enquanto a noite azul caía sobre o mundo.

Olhei da minha janela
a festa do poente nas encostas ao longe.

Às vezes como uma moeda
acendia-se um pedaço de sol nas minhas mãos.

Eu recordava-te com a alma apertada
por essa tristeza que tu me conheces.

Onde estavas então?
Entre que gente?
Dizendo que palavras?
Porque vem até mim todo o amor de repente
quando me sinto triste, e te sinto tão longe?

Caiu o livro em que sempre pegamos ao crepúsculo,
e como um cão ferido rodou a minha capa aos pés.

Sempre, sempre te afastas pela tarde
Para onde o crepúsculo corre apagando estátuas.


Pablo Neruda, Vinte poemas de amor e Uma canção desesperada, Publicações D. Quixote



sexta-feira, 29 de junho de 2018





Num dia de Verão sem sol, relembro este poema de outros tempos, que continua actual e a falar das emoções que sinto ainda hoje.
Sol, natureza, a água límpida e azul do mar, uma simples flor, é quanto basta para me sentir feliz.



Sol sobre o corpo



Eu só quero este sol

Este calor que me envolve o corpo

E me beija a boca

E me afaga a pele.

Eu só quero este sol

Para me aquecer por dentro

Quando tudo me faltar

E eu desaparecer por fim

Quero este sol

Só este sol sobre mim.                 

                                                                18 Set./95




segunda-feira, 25 de junho de 2018

Manhã de Verão na cidade de Lisboa



Hoje fiz um pequeno passeio pela manhã na Baixa de Lisboa e pela beira-rio, do Terreiro do Paço à Ribeira das Naus.

Estava uma manhã esplendorosa de sol, do rio Tejo vinha um ventinho refrescante, convidando à permanência junto dele e à sua contemplação.
Os turistas eram muitos, como é óbvio, aproveitando a manhã, o sol, a praia, as esplanadas.

Eis as minhas descobertas, em dia de Mundial de Futebol 2018 (Portugal-Irão) e de férias de Verão:


Arena no Terreiro do Paço



Cais das Colunas e pequena praia

Um par de namorados à beira rio

Estátuas de pedra com bandeira portuguesa
O artista das estátuas de pedra

O Tejo no Cais das Colunas


Monumento Almada no Cais das Colunas
Café-esplanada na Ribeira das Naus




terça-feira, 5 de junho de 2018



O mês de Junho deste ano está deveras frio para o habitual e a chuva tem caído em quantidade nalgumas zonas do país.
Nada de muito agradável para os humanos, que esperam desesperados pelo verão ou por uma temperatura mais amena, mas bom para a natureza que se apresenta verdejante e esplendorosa.
Então, lembrei-me do maravilhoso poema de Luis de Camões, cantado pelo grande e saudoso José Afonso (Zeca Afonso). 

https://www.youtube.com/watch?v=WgZTWZligHE




Verdes são os campos

Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.



Luis de Camões






sábado, 26 de maio de 2018

Presidente Allende





O único presidente que falou sobre os direitos da mulher foi Allende in «A aventura de Miguel Littin clandestino no Chile» de Gabriel Garcia Marquez (2011).

Este é um livro que nos conta mais sobre o Chile dos tempos da ditadura de Pinochet do que muitos outros, sem ser um livro de História.
A aventura de Miguel Littin clandestino no Chile»  conta-nos, de uma forma magistral e comovente, a verdadeira história de um realizador chileno (Miguel Littin)  que, expulso do seu país há 12 anos, volta clandestino com quatro equipas de filmagem para fazer uma reportagem sobre o seu país. 


Gabriel Garcia Marquez transcreve o que Miguel Littin lhe contou, reconstituindo as seis semanas desta aventura íntima e comovedora de um chileno que quer mostrar ao mundo como era o seu país nesses tempos , bem como a forma miserável como as pessoas viviam, sob a ditadura de Pinochet (os mineiros, por exemplo).

Quanto ao Presidente Allende, era bom que os Presidentes do mundo actual lhe seguissem o exemplo no que respeita ao seu interesse pelos Direitos das Mulheres, que continuam a precisar de alguém que se lembre delas e que as defenda.