terça-feira, 5 de junho de 2018



O mês de Junho deste ano está deveras frio para o habitual e a chuva tem caído em quantidade nalgumas zonas do país.
Nada de muito agradável para os humanos, que esperam desesperados pelo verão ou por uma temperatura mais amena, mas bom para a natureza que se apresenta verdejante e esplendorosa.
Então, lembrei-me do maravilhoso poema de Luis de Camões, cantado pelo grande e saudoso José Afonso (Zeca Afonso). 

https://www.youtube.com/watch?v=WgZTWZligHE




Verdes são os campos

Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.



Luis de Camões






sábado, 26 de maio de 2018

Presidente Allende





O único presidente que falou sobre os direitos da mulher foi Allende in «A aventura de Miguel Littin clandestino no Chile» de Gabriel Garcia Marquez (2011).

Este é um livro que nos conta mais sobre o Chile dos tempos da ditadura de Pinochet do que muitos outros, sem ser um livro de História.
A aventura de Miguel Littin clandestino no Chile»  conta-nos, de uma forma magistral e comovente, a verdadeira história de um realizador chileno (Miguel Littin)  que, expulso do seu país há 12 anos, volta clandestino com quatro equipas de filmagem para fazer uma reportagem sobre o seu país. 


Gabriel Garcia Marquez transcreve o que Miguel Littin lhe contou, reconstituindo as seis semanas desta aventura íntima e comovedora de um chileno que quer mostrar ao mundo como era o seu país nesses tempos , bem como a forma miserável como as pessoas viviam, sob a ditadura de Pinochet (os mineiros, por exemplo).

Quanto ao Presidente Allende, era bom que os Presidentes do mundo actual lhe seguissem o exemplo no que respeita ao seu interesse pelos Direitos das Mulheres, que continuam a precisar de alguém que se lembre delas e que as defenda.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Jardim «Mário Soares» no Campo Grande


Chamam-lhe agora Jardim «Mário Soares», mas sempre foi conhecido por Jardim do Campo Grande (zona sul), juntamente com a zona norte.
Todas as crianças de Lisboa aí brincaram ou nos baloiços, ou na piscina antiga, ou nos lagos, um deles até com pequenos barcos a remos. 
Todos os pais e mães aí levaram os seus filhos a passear e a brincar.


Era e ainda continua a ser um espaço verde incontornável, de grandes dimensões e de grande beleza.
Resolveram homenagear Mário Soares, que morava perto e aí costumava passear, dando o seu nome à zona sul do Jardim, onde agora uma piscina interior «super fina» Go Fit, substituiu a velhinha piscina ao ar livre, que dava para a miudagem apanhar sol e dar pulos para a água.
A grande esplanada que havia ao pé da piscina desapareceu há muito tempo, estando para abrir um quiosque com mesas e cadeiras, o que já é bom.


Quando lá passei, neste mês de Maio, o relvado ainda não estava crescido nalguns lados, e noutros já pisado porque o deixaram sem proteção. As plantas também ainda estão pequenas.
A estátua de Mário Soares já foi vandalizada e retirada (era de material pouco sólido e o vandalismo de alguns levou a melhor).


Resta um monumento com um excerto de «Portugal Amordaçado», da sua autoria.
Se a relva crescer, as plantas ficarem grandes  e o quiosque abrir, vai ficar um bom espaço verde, digno de reavivar memórias antigas.  
Por agora, as crianças divertem-se no parque dos baloiços, onde já têm uma Aranha e muitos divertimentos.







quarta-feira, 2 de maio de 2018

«Sei um ninho» de Miguel Torga


«Sei um ninho...», dizia Miguel Torga.


E agora eu posso dizer também.
No meio da floresta de betão armado, num 12º andar, em frente à minha janela que se tornou num posto de observação, existe um pequeno buraco redondo na parede, debaixo da caixa de ar condicionado, onde se instalou um casal de melros e aí fez o seu ninho. Alimentam os filhotes todo o santo dia, num vaivém incansável. Maravilhas da natureza!




Sei um ninho



Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.

Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar...



segunda-feira, 23 de abril de 2018

Comemoração dos 30 anos da Fundação do Oriente e dos 10 anos do Museu do Oriente


A Fundação do Oriente está a comemorar 30 anos e o Museu do Oriente 10. Encontrámos lá ontem uma espectacular exposição de José de Guimarães. As actividades, muitas de entrada livre, continuam.



quarta-feira, 18 de abril de 2018

«Árvores do Parque» de Isabel del Toro Gomes




Árvores do Parque



Árvores do Parque

Da minha infância

Único jardim não proibido

Árvores grandes e frondosas

Minhas eternas companheiras

Por quem eu trepava ligeira

Com jeito que até eu desconhecia

Pézinho aqui joelho ali

De ramo em ramo

Me içava para o céu

Eu tão pequena e frágil

Que sonhava mais alto

E mais e mais acima

Tu de ramos grossos e fortes

Me recebias num estreito abraço

De amor e união

Tu árvore grande do meu Parque

Tu maravilhosa natureza

Transbordando de vida e seiva

Eu criança pequena e frágil

Empoleirada na tua verde beleza.





segunda-feira, 9 de abril de 2018

«O Menino da Sua Mãe» de Fernando Pessoa




Em memória de todos os bravos soldados que morreram em França, na Batalha de La LYs, que se deu no dia 9 de Abril de 1918, durante a I Guerra Mundial, aqui fica este poema de Fernando Pessoa.





O MENINO DA SUA MÃE


No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas traspassado
— Duas, de lado a lado —,
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe».
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lha a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
«Que volte cedo, e bem!»
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.
O cemitério militar português de Richebourg, no norte de França, com 1.831 campas de soldados lusos da I Guerra Mundial.