segunda-feira, 13 de abril de 2015

Jardim da Fundação Gulbenkian - um paraíso com segredo


 
Jardim da Gulbenkian
 
O  Jardim da sede da Fundação Calouste Gulbenkian foi implantado no antigo Parque  de Santa Gertrudes, concebido pelo jardineiro suíço Jacob Weiss em 1866-70. Foi  construído, nesse período, um lago como elemento central e dinamizador do parque,  mantido no projecto do século XX para a Gulbenkian.
 
 
Localizado no coração dum dos centros de negócios da cidade de Lisboa (Avenida de Berna - São Sebastião da Pedreira), este moderno jardim cobre quase 8 hectares e foi desenhado por António Viana Barreto em 1957, tendo tido a colaboração de Gonçalo Ribeiro Teles nos anos sessenta e constitui um marco incontornável da arquitectura  paisagista portuguesa contemporânea.
 

 
O jardim organiza-se em diferentes espaços  e ambiências, que se vão sucedendo com subtileza através dos caminhos, por  vezes atravessando percursos de água. A flora é plantada recriando paisagens  portuguesas, pontuadas por esculturas modernas.
 
 
 
Um anfiteatro permite  actividades ao ar livre e acolhe um ciclo de música jazz em Agosto. 
 
 
Os que tiveram a sorte de aí assistir a espectáculos de dança, nos tempos em que a companhia do  Ballet Gulbenkian ainda existia (foi extinta pela esposa de Azeredo Perdigão há dez anos, precisamente), lembram-se de que os bailarinos entravam e saíam por um túnel, com uma abertura ali perto do anfiteatro.
 
 
O que não sabiam (nem muitos sabem agora), é que, por baixo dos jardins, passam alguns túneis, que foram construídos por altura da construção deste magnífico espaço. Com que intenções? Não sei, confesso, mas penso que dariam muito jeito como refúgio, em caso de necessidade.
Um mistério por desvendar, do próprio Calouste Gulbenkian, talvez.
 
 
É um belo e fresco refúgio com um lago, riacho, terraços ajardinados, trilhos por entre arvoredo e até um anfiteatro ao ar livre onde, nas noites mais quentes, se podem ver concertos e espectáculos.
 

 
O conjunto formado pelos edifícios da Fundação Calouste Gulbenkian (sede, museu e auditório), plenamente integrados nos seus jardins, são uma referência mundial da arquitectura do século XX.
 
Em 2005 iniciou-se uma renovação e reformulação dos espaços verdes, obra a cargo de Gonçalo Ribeiro Teles, que muito admiro por este se ter lembrado de fazer uns pequenos lagos destinados a atrair as aves migratórias, que vendo os reflexos da água, desceriam para aí descansar. Uma ideia genial e de louvar, não sei se bem aproveitada ou não por muitas aves que sobrevoam os céus de Lisboa, mas de muito agrado, de certeza, de pombos, pardais e melros.
 
Aqui deixo algumas das minhas impressões fotográficas desta primavera de 2015, dedicada desta vez às pequenas flores campestres, porque o pequeno pode ser grande e bonito também.
 
 
 
 

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Manoel de Oliveira


Manoel de Oliveira (Porto, 11 de Dezembro 1908- Porto, 2 de abril 2015)

Manoel de Oliveira morreu há alguns dias apenas,  mais precisamente na quinta-feira antes do Domingo de Páscoa.
Depois de uma longa vida, sempre produtiva, e de ser autor de 32 longas metragens, o Mestre do Cinema Português morreu. Ninguém esperava, pois todos os que chegam a uma tão provecta idade, são considerados «à partida», imortais.
Mas ninguém é imortal, de facto, só a sua obra o pode ser.
E a obra de Manoel de Oliveira é já uma grande obra, que irá ser passada e mostrada por «todo o sempre», possivelmente.
Porque o merece, sem dúvida.



Fui ao cinema ver alguns filmes de Manoel de Oliveira, não obstante a sua duração (o meu «assento» ainda o permitia). Agora, já era mais difícil, o tempo passou por mim de forma diferente de Oliveira, pelos vistos.



Vi e revi a sua 1ª longa metragem de ficção, Aniki-Bobó, filmado em plena 1º Guerra Mundial e no auge do regime de Salazar, 1942.
É um filme memorável, que se tornou um clássico, não obstante a má recepção que teve na altura.
Impressionava-me sobretudo a liberdade de que gozavam aquelas crianças pobres e desprotegidas, a ternura com que nos são apresentadas, o binómio candura da infância versus maldade do mundo,  todo o ambiente criado à sua volta.
Revelava um realizador cheio de emoções que queria transmitir, desperto para a realidade que o rodeava, conhecedor do que fazia. Ainda hoje esse filme  me continua a impressionar.

Relembro a magia daquela lengalenga das crianças:
Aniki Bebé,
Aniki Bobó
Passarinho Totó
Birimbau,
cavaquinho
Salmonão,
Sacristão
Eu sou polícia,
tu és ladrão
Eu não quero ser ladrão
Tenho medo à prisão
Aniki Bebé
Aniki Bobó

Manoel de Oliveira continua presente, através dos seus filmes e dos seus personagens, e será sempre lembrado.


O Cahiers du Cinéma vai dedicar-lhe o seu próximo número, e aguardamos com curiosidade o filme que ele deixou para ser mostrado apenas após a sua morte: Visita ou memórias e confissões (1982). 
A sua exibição será feita "nas próximas semanas", disse o diretor da Cinemateca, José Manuel Costa.




terça-feira, 7 de abril de 2015

Abril em Portugal - elevador da Bica

 
 
Hoje, 7 de abril, foi dia de ir até à Bica, fazer o belo do corte do cabelo para enfrentar esta voluntariosa Primavera 2015, que se anuncia desde o dia 21 de Março, como é da praxe, mas que vem e vai conforme lhe dá na gana, deixando todos desorientados, ora com calor ora com frio. 
 
 
Enfim, o corte está feito, resta-me continuar a andar com a boina na mala, para o frio, e com o chapéu de palha, para o calor. Para além do chapéu de chuva, porque as nuvens andam por aí.
 
 




segunda-feira, 6 de abril de 2015

100 anos da revista Orpheu - comemorações

 
Revista Orpheu
 
2015 é o ano da comemoração do Centenário da Revista Orpheu.
 
Em finais de Março de 1915, sai o primeiro número da revista Orpheu, que apesar da sua breve existência, terá um papel importante na renovação da literatura portuguesa. Este 1º volume inclui os poemas O Marinheiro, assinado por F. Pessoa, e Opiário e Ode Triunfal, do heterónimo Álvaro Campos.
 
Em finais de Junho de 1915, sai Orpheu 2, com Chuva Oblíqua de F. Pessoa, e Ode Marítima, A. de Campos.
 
 
Os CTT procederam a uma emissão filatélica comemorativa do centenário da revista Orpheu, composta por dois selos e um bloco filatélico, cuja apresentação foi seguida de uma visita guiada à exposição Os caminhos de Orpheu, na Biblioteca Nacional de Lisboa.


 
Os dois selos reproduzem as capas dos dois números da revista, e o bloco a obra Almada Negreiros lendo Orpheu 2, que integra uma coleção privada. Os selos têm uma tiragem de 300 mil exemplares e o bloco de 40 mil, sendo o design da autoria do Atelier B2.  




















 
 
 

domingo, 5 de abril de 2015

Parque Eduardo VII em tempo de Primavera



O Parque
Passear no Parque Eduardo VII é um dos maiores prazeres que um simples mortal pode ter, quer seja Lisboeta ou não, português ou estrangeiro.

E quando se deu os primeiros passos neste parque, se passeou desde a tenra infância nele, se brincou nele desde sempre, se descobriu a natureza e os segredos do mundo aqui, com os irmãos que ainda eram uma família, maiores do que eu e a quem tinha de obedecer, ainda é um prazer maior.
Aqui se passaram momentos importantes de todas as fases da minha vida, desde a infância à idade da sabedoria (?), e continuam a passar. Aqui aprendi a subir às árvores e a dar saltos de grandes muros para cima da relva (que aparava o salto), a fazer jogos fantásticos e o sabor da liberdade quase total. Coisas irrepetíveis e secretas, que não se podiam contar a ninguém, muito menos à mãe. Só nossas.

Calcorreei estes mesmos caminhos e recantos, debaixo de árvores frondosas que dão ouriços com castanhas não comestíveis mas tão maravilhosas como as outras, olhando fascinada para todos as direções, na expectativa da aparição do lago, dos seus patos e cisnes encantados (agora existe um cisne negro, será o do Lago dos Cisnes?).


E o que mais me fascina e agrada é que o Parque continua lindo, vivo e com poucas diferenças estruturais, para além das impostas pelas agruras da meteorologia e pelos sinais do tempo. E com uma das melhores vistas sobre Lisboa e o Tejo.


Estátua de Euclides Vaz, 1958, situada no grande lago do Parque, junto da esplanada e do restaurante «Botequim do Rei» 

Que assim continue, que perdure e se renove nesta primavera de 2015 e em todas as primaveras que estão por vir.



No fim de Julho de 2017, quando lá voltei, passeando pela minha cidade e pelo parque da minha infância, o grande lago encontrava-se encerrado para obras, sem água nem cisnes. A esplanada e restaurante «O Botequim do Rei» estão, assim, também fechados. É pena que não se tenham feito estas obras antes do verão, pois muitos seriam os turistas a usufruírem desta zona.



Felizmente que no alto do Parque a outra esplanada está em funcionamento, e com um novo snack-bar self-service, com saladas e outros pratos, à beira do outro lago, mais recente,  também lugares aprazíveis e frescos. Os cães aproveitam mesmo para se banharem, e fazem eles bem. O dia está quente.


Outro sinal positivo é que o Pavilhão Carlos Lopes está finalmente restaurado, embora sem os azulejos primitivos, que se encontravam muito deteriorados. Compreende-se que tenha sido necessário abdicar-se deles, pelo custo que a sua reabilitação representaria.






sábado, 14 de março de 2015

«O Angolano que comprou Lisboa (por metade do preço)» de Kalaf Epalanga


O Angolano Que comprou Lisboa (por metade do preço)
de Kafaf Epalanga
 
 
Este é um livro que cativa logo pelo título, com chamada de atenção para as palavras angolano e Lisboa, tendo pelo meio o apelativo verbo comprar, ainda por cima no pretérito perfeito do indicativo, e que realmente vem a mostrar-se até mais interessante do que poderíamos pensar.
 

 Os belos telhados de Lisboa, mencionados e admirados pelo autor  (com o Tejo ao fundo)
 
Kalaf Epalanga (nome também sonante para o público em geral, e mais ainda para os que viveram em Angola) revela-se-nos como um homem-jovem que domina várias artes performativas (escrita e música) , bem como um jovem-homem que sabe bastante da arte de viver, principalmente quando recém-chegado a uma cidade desconhecida, o que é deveras raro, nos tempos que correm (mesmo em pessoas com mais idade do que Kalaf).
Interessa muito também para nós, lisboetas, o facto de ele ter escolhido ficar a viver nesta cidade, que ele diz ser a mais africana da Europa.
O que é uma coisa importantíssima de se saber, para todos os que gostam do seu país e das suas cidades, pois a diversidade sociocultural é um dos factores mais importantes para um país tão antigo e que tem vindo a empobrecer cada vez mais, como Portugal.
 

 

 
Morrer por morrer, que Portugal não morra já!
Que os angolanos, guineenses, caboverdeanos e todos os outros que viajam até Lisboa e nela decidem ficar, virados para o azul da sua luz e do seu rio , permitam que ela se vá prolongando no tempo e no espaço, resistindo à acção destruidora dos seus implacáveis governantes e caterpílares.
Foi neste livro de crónicas que recolhi muitas informações sobre Angola e os angolanos, a sua maneira de viver e de contornar os problemas decorrentes da precária existência do dia-a-dia, traço que me parece aliás comum aos dois povos, que contactaram e se influenciaram mutuamente, por força das circunstâncias históricas.
Foi neste livro que aprendi que as múcuas são o fruto do imbomdeiro, que têm muita vitamina e que fazem um ótimo sumo. Aprendi sobre a Kizomba, o Kuduro, o banho de caneca e muitas coisas mais.
A ler (muito)!
 
Mas como olhar para a história do Velho Continente e da sua relação com a África negra sem acordar sentimentos de culpa e toda a negação que geralmente associamos ao embaraço e que se manifesta com actos defensivos e justificações naif? Soluções que combatam injustiças não nascem, de palavras. As mudanças só serão efectivas quando acreditarmos que só o amor nos salvará, pretos e brancos. O racismo não se combate com discursos demagógicos, nem por decreto; combate-se com amor.
 
                                   Kalaf E., Fernando in O Angolano que Comprou Lisboa (por metade do preço)
 
Imbondeiro



segunda-feira, 9 de março de 2015

«Paroles» por Dalida e Alain Delon


PALAVRAS PALAVRAS
 
Que ninguém se preocupe com as palavras, que o que importa são as acções!
Já o dizia a bela Dalida, a quem a vida pregou umas partidas bem traiçoeiras, levando-a ao suicídio.

Palavras leva-as o vento sabe-o povo e põe-o em prática, a maior parte das vezes.
Ouvir a voz de Dalida e ver Alain Delon vale mais a pena.

www.youtube.com/watch?v=b6pIJyfpDZo