segunda-feira, 9 de março de 2015

«Paroles» por Dalida e Alain Delon


PALAVRAS PALAVRAS
 
Que ninguém se preocupe com as palavras, que o que importa são as acções!
Já o dizia a bela Dalida, a quem a vida pregou umas partidas bem traiçoeiras, levando-a ao suicídio.

Palavras leva-as o vento sabe-o povo e põe-o em prática, a maior parte das vezes.
Ouvir a voz de Dalida e ver Alain Delon vale mais a pena.

www.youtube.com/watch?v=b6pIJyfpDZo

sexta-feira, 6 de março de 2015

«Tudo o que resta» de Maria Isabel

 
 
Tudo o que resta...
 
o sol
no inverno
é quente e belo
como o sol de verão
 
 
só é preciso
descobri-lo e vê-lo
no ponto certo
no meio da tarde fria
 
tudo o resto
é como este sol
no inverno
fugaz
fugitivo
efémero
apenas
um rastro cor-do-fogo
 
                                   Maria Isabel, in Di Versos, nº 3, Revista semestral de Poesia e Tradução, Bruxelas, 1996
 
 

 

Elevador Lacerda e vista sobre a Baía de todos os Santos, Salvador da Bahia

quarta-feira, 4 de março de 2015

«Cantar de Emigração» de Rosália de Castro

 
 
Rosalía de Castro
 

Rosalía de Castro nasceu em Santiago de Compostela,  em Fevereiro de 1837, e morreu em Padrón, em Julho de 1885, com apenas 45 anos, tendo sido uma das mais importantes escritoras galegas.
Considerada como a fundadora da literatura galega moderna, 17 de Maio, Dia das Letras Galegas, é feriado por ser a data de edição da sua primeira obra em língua galega, Cantares Galegos.
 
Em tempos difíceis e de emigração, como são os nossos desde há uns anos até hoje (nada melhorou não, senhores, ao contrário do que dizem os ministros da propaganda), recordemos este belo poema e canto de dor, de partida e de saudade.
 
                                                                     Estátua de Rosalía de Castro, no Porto

Cantar de emigração
 
 
Este parte, aquele parte

e todos, todos se vão.

Galiza, ficas sem homens

que possam cortar teu pão

Tens em troca orfãos e órfãs

e campos de solidão

e mães que não têm filhos

filhos que não têm pais.

Corações que tens e sofrem

longas horas mortais

viúvas de vivos-mortos

que ninguém consolará.
 
Rosalía de Castro
                                                                  (Traducão de José Niza)


Adriano Correia de Oliveira foi o cantor português que melhor eternizou este poema. Uma grande voz para um grande poema.
Recordemos também, já agora,  esse magnífico canto-autor de poemas de protesto contra a desigualdade e a injustiça sociais de ontem e de sempre.
 

terça-feira, 3 de março de 2015

«A culpa é do sistema» de António José Ribas




A culpa é do sistema

Quando a penúria é 'xtrema
E sai furado o esquema
E pões as mãos n'algema
-A culpa é do sistema.

Quando disseste que ias ao cinema
Mas propõem-te um estratagema
E ficas com um dilema
-A culpa é do sistema.

Quando ela não responde ao tel'fonema
E a desculpa é sempre a me'ma
E ficas com um problema
-A culpa é do sistema.

Quando o ovo tem clara, mas não tem gema
E ser pelintra é o teu lema
E não sai bem o poema
-A culpa é do sistema.

                       António José Ribas, Poemas Impopulares
 


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

«De tarde» de Cesário Verde



Passam hoje 160 anos do nascimento deste grande poeta português, Cesário Verde (1855-1886), menosprezado pelos seus contemporâneos, que não atribuíram grande valor aos seus belíssimos poemas, cheios de naturalidade e de musicalidade.
Coisas que acontecem aos precursores, em muitos casos. A juntar à infelicidade de ter morrido apenas com 31 anos, vítima da terrível tuberculose que tantas pessoas dizimou, nos sécs. XIX e XX.
Esta narrativa em verso de um pic-nic de burguesas, é para mim, um dos seus mais belos poemas.




                                                                 DE TARDE

Naquele pic-nic de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.



Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via.
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas.


                                       O Livro de Cesário Verde, Lisboa, 1887


domingo, 8 de fevereiro de 2015

«SEI DE UM RIO» de Camané

 
 
Um belo poema de Camané para um belíssimo rio, o rio Douro.
 

SEI DE UM RIO
 
 
                                                                                          Rio Douro e barco rabelo

 
Sei de Um Rio
 
Sei de um rio...
Sei de um rio
Em que as únicas estrelas
Nele sempre debruçadas
São as luzes da cidade
Sei de um rio…
Sei de um rio
Rio onde a própria mentira
Tem o sabor da verdade
Sei de um rio
Meu amor, dá-me os teus lábios!
Dá-me os lábios desse rio
Que nasceu na minha sede!
Mas o sonho continua…
E a minha boca (até quando?)
Ao separar-se da tua
Vai repetindo e lembrando
- Sei de um rio…
Sei de um rio…
Sei de um rio…
Ai!
Até quando?

                                                                                   Camané

                                 Rio Douro, comboio para Tormes 


domingo, 25 de janeiro de 2015

Elevador de Santa Justa - Lisboa


Elevador de Santa Justa
 
O elevador de Santa Justa, também designado como elevador do Carmo, é o único ascensor público vertical de Lisboa, liga a rua do Ouro à rua do Carmo e é o monumento mais bonito e interessante, na minha opinião, da Baixa lisboeta.

 
Foi inaugurado em 1902, altura em que funcionava a vapor, e em 1907 passou a trabalhar a energia eléctrica. As obras para a sua construção iniciaram-se em 1898.



Foi considerada uma obra arrojada à época e inaugurada num dia de chuva e trovoada, com banda a tocar o hino nacional e foguetes.
Foi construído todo em ferro fundido, enriquecido com trabalhos em filigrana, em estilo neogótico com projecto do engenheiro francês Mesnier du Ponsard (ao contrário do que se diz, não está provada a ligação deste com Gustave Eiffel) e do arquitecto também francês Louis Reynaud, que aplicaram neste elevador algumas das técnicas e materiais já usados em França. A diferença entre os dois pisos é de trinta metros.
 


 
A bilheteira situa-se debaixo dos degraus da rua do Carmo, por trás da torre. Normalmente, a fila dos turistas que querem subir aos céus neste engenho maravilhoso é grande, pelo que é necessário calma e paciência. O elevador tem duas elegantes cabines de madeira e belos acessórios em latão (leva 45 pessoas em cada cabine) e o panorama que se avista lá de cima sobre a cidade de Lisboa é verdadeiramente deslumbrante.

 
É indispensável ir até ao seu topo e beber um café na pequena esplanada aí instalada, com a magnífica vista de Lisboa e do Tejo aos nossos pés. Em dias de clima temperado, claro.