domingo, 16 de março de 2014

«Ó sino da minha aldeia» de Fernando Pessoa

 

Ó sino da minha aldeia 


Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.

E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.



Por mais que me tanjas perto,
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho,
Soas-me na alma distante.

A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.

                                                                Fernando Pessoa


                                                                  retrato de Fernando Pessoa por Almada Negreiros

Em 1964, por encomenda da Fundação Calouste Gulbenkian, Almada Negreiros realiza uma réplica do Retrato de Fernando Pessoa, executado em 1954 para o restaurante Irmãos Unidos, estabelecimento de que era sócio Alfredo Pedro Guisado, colaborador de Orpheu, frequentado por Almada e outros nomes ligados à célebre revista modernista. 

quarta-feira, 12 de março de 2014




Pablo Neruda (1904 - 1973 ) foi um dos mais importantes poetas chilenos e da língua castelhana do século XX.
Escreveu um dos mais belos poemas sobre as mulheres.

 
Mulheres






Elas sorriem quando querem gritar.

Elas cantam quando querem chorar.

Elas choram quando estão felizes.

E riem quando estão nervosas. 

Elas brigam por aquilo que acreditam.

Elas levantam-se para a injustiça.

Elas não levam "não" como resposta quando 
acreditam que existe melhor solução. 




Elas andam sem novos sapatos para
suas crianças poder tê-los.

Elas vão ao médico com uma amiga assustada.

Elas amam incondicionalmente.

Elas choram quando suas crianças adoecem
e se alegram quando suas crianças ganham prémios.

Elas ficam contentes quando ouvem sobre
um aniversário ou um novo casamento.

                                                                   Pablo Neruda



domingo, 9 de março de 2014

Exposição de Máquinas de Cena para o espectáculo «Romagem de Agravados» de Gil Vicente


Foi uma agradável surpresa encontrar esta exposição de extraordinárias Máquinas de Cena, criadas e construídas por José Carlos Barros, para o espectáculo Romagem de Agravados,  de Gil Vicente.
Foram inspiradas nas pinturas de H. Bosh, As Tentações de S. António.
Nos jardins do Museu do Teatro, no Lumiar.



 

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Paco de Lucia , a morte de uma guitarra




Hoje, dia 26, última quarta-feira de Fevereiro de 2014, mês rigoroso e gelado por esta Europa fora, morreu Paco de Lucia, em Cancun, no México, aos 66 anos.

Ouvi na Euronews que o coração o tinha atraiçoado, depois de ter estado a brincar na praia com os filhos, coisa possível no México no mês de Fevereiro e muito estranha para nós, portugueses, neste ano de temporais e de muitas vidas roubadas pelos mares enfurecidos.

Quanto ao coração, este não o atraiçoou certamente, pois era dele que nascia o seu talento e eram dele que brotavam as vibrantes notas que tirava da sua guitarra. 
O seu coração apenas parou, porque o momento tinha chegado.

Mas os homens têm a tendência de dar um significado a tudo, mesmo à morte, que não pede razões para chegar, chega e pronto. A uns mais cedo, a outros mais tarde.

O que mais me chamou a atenção nesta triste notícia, é sempre triste quando um artista morre, é que o nome artístico de Paco de Lucia foi adoptado em honra de sua mãe Luzia, que nasceu em terras de Castro Marim, Algarve. Esta, por sua vez, adoptou o nome de Lucía Gómez.  

Este génio da música flamenca, era pois um pouco português e corria-lhe no sangue certamente reminiscências da alma lusa e das suas sonoridades.
Paco de Lucia não morreu, a sua guitarra é que ficou parada.


terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

«Tiro liro liro»


Ao ler certas obras de Aquilino Ribeiro, por exemplo Cinco Réis de Gente, regressamos instintivamente aos tempos da nossa infãncia, em que cantávamos coisas como estas.
É bom recordar, mesmo que ainda agora não entendamos que palavras eram estas.
Era a magia dos sons, palavras que eram só nossas, dos miúdos que, como nós, viviam num mundo habitado por seres fantásticos


Tiro liro liro


 Lá em cima está o tiro-liro-liro,
Cá embaixo está o tiro-liro-ló!
Lá em cima está o tiro-liro-liro,
Cá embaixo está o tiro-liro-ló!

Juntaram-se os dois à esquina
A tocar a concertina, a dançar do solidó!
Juntaram-se os dois à esquina
A tocar a concertina, a dançar do solidó!


Comadre, minha comadre,
Ai eu gosto da sua pequena!
Comadre, minha comadre,
Ai eu gosto da sua pequena!

É bonita, apresenta-se bem,
Parece que tem a face morena!
É bonita, apresenta-se bem,
Parece que tem a face morena!


Lá em cima está o tiro-liro-liro,
Cá embaixo está o tiro-liro-ló!
Lá em cima está o tiro-liro-liro,
Cá embaixo está o tiro-liro-ló!


Juntaram-se os dois à esquina,
A tocar a concertina, a dançar do solidó!
Juntaram-se os dois à esquina,
A tocar a concertina, a dançar do solidó!

Comadre, ai minha comadre,
Ai eu gosto da sua afilhada!
Comadre, ai minha comadre,
Ai eu gosto da sua afilhada!


É bonita, apresenta-se bem,
Parece que tem a face rosada!
É bonita, apresenta-se bem,
Parece que tem a face rosada!

Lá em cima está o tiro-liro-liro,
Cá embaixo está o tiro-liro-ló!
Lá em cima está o tiro-liro-liro,
Cá embaixo está o tiro-liro-ló!

Juntaram-se os dois à esquina,
A tocar a concertina, a dançar do solidó!


 Picos da Europa

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

«Mundo do fim do Mundo» de Luis Sepúlveda




Luis Sepúlveda nasceu no Chile em 1949.

Depois de  O VELHO QUE LIA ROMANCES DE AMOR, lido por milhões de leitores em todo o mundo, que o tornou um autor latino-americano de referência, a Editora Asa publica em 1994 o seu livro MUNDO DO FIM DO MUNDO, uma obra fascinante que aborda o tema polémico da pesca ilícita de baleias por barcos japoneses, às escondidas do mundo.
Estes barcos-fantasma japoneses destroem sistematicamente a vida marítima, pondo em causa o equilíbrio dos eco-sistemas naturais e submetendo-os aos impiedosos interesses financeiros mundiais.

Se este tema já era pertinente nos finais do século XX, é com indignação e tristeza que vemos que continuam actuais no século XXI, pelo que se torna importantíssimo que este livro seja lido por jovens e adultos que se preocupam com a natureza e o planeta em que vivem, duma forma mais racional e global.



O Greenpeace operava em frente das costas atlânticas dos Estados Unidos promovendo uma zona livre de armas e transportes nucleares, e o Beluga, o incansável anão fluvial, percorria as veias do velho continente impedindo novos despejos químicos nos seus rios, acabando por defender a vida dos mares.
Sim, era uma frota pequena diante da magnitude da barbárie moderna. E, além disso, faltava um barco, o mais querido.
Faltava o velho Rainbow Warrior, o navio-insígnia da frota do Arco-Íris.
Quinze minutos antes da meia-noite de 10 de Julho de 1985, duas poderosas bombas colocadas no seu casco por homens-rãs dos serviços secretos franceses tinham-lhe aberto brechas mortais no porto de Auckland, na Nova Zelândia. e as mesmas bombas assassinaram o ecologista português Fernando Pereira, que se encontrava a bordo.

                  Luis Sepúlveda, Mundo do Fim do Mundo
 


                                          Fernando Pereira, ecologista morto em 1985

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Primavera








O frio não consegue apagar o desejo de primavera

O sol vai espreitando atrás das nuvens

E todos vamos sonhando com ela

Como a primavera é bela!! 

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