quarta-feira, 24 de julho de 2013
Jean Paul Sartre
O que interessa (...) é o que os homens fazem daquilo que fizeram deles.
Jean Paul Sartre
Concordo e partilho este pensamento de Sartre.
Não interessa o que dizem de nós, mas o que fazem de nós.
E depois, o que nós somos capazes de fazer com isso.
Aplica-se a todos os tempos e a todas as pessoas!
segunda-feira, 22 de julho de 2013
«As portas que Abril abriu» de José Carlos Ary dos Santos
Ainda há quem se lembre de Ary dos Santos, e da poesia de Ary dos Santos. Parece mentira mas é verdade!
Por muito que custe a alguns mercenários e à gente medíocre e inculta que por aí anda no poder, fazendo todos os possíveis por apagar o passado recente e a História, nada nem ninguém irá conseguir fechar as portas que Abril abriu. Pela simples razão que a História não se apaga nunca. E ela está sempre do lado dos justos e das pessoas que fazem este País dia a dia, corajosamente.
As Portas Que Abril Abriu
(...)
Foi então que abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.
Disse a primeira palavra
na madrugada serena
um poeta que cantava
o povo é quem mais ordena.
(...)
Dizia soldado amigo
meu camarada e irmão
este povo está contigo
nascemos do mesmo chão
trazemos a mesma chama
temos a mesma ração
dormimos na mesma cama
comendo do mesmo pão.
Camarada e meu amigo
soldadinho ou capitão
este povo está contigo
a malta dá-te razão.
José Carlos Ary dos Santos
sexta-feira, 19 de julho de 2013
«Verão» de Isabel del Toro Gomes
Verão
Cerejas e figos
Já comi tantas cerejas
Que tu já nem me beijas
E de mim tens inveja!
Figos e cerejas
Já comi tantos figos
Que nem conto aos meus amigos
Que me querem salvar destes perigos!
Cerejas e figos
Figos e cerejas...
quarta-feira, 17 de julho de 2013
«Tabacaria» de Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa)
Casa Álvaro de Campos em Tavira
Álvaro de Campos nasceu em Tavira, no dia 15 de Outubro de 1890,é
engenheiro naval(por Glasgow), é alto(1,75 de altura), magro, cara rapada,
cabelo liso.(…)
Pus em Álvaro de Campos toda a emoção que não dou nem a
mim nem à minha vida.» - carta de Fernando Pessoa, falando do seu heterónimo.
Tabacaria
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
(...)
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Álvaro de Campos
Álvaro de Campos
O que é fantástico neste poema é como o amargo pessimismo
sobre si próprio e sobre a sua vida é contrabalançado pela doce aparição do chocolate e da pequena que o devora gulosamente. E a percepção de que esse gesto equivale a uma metafísica mais verdadeira do que muitas outras a sério.
segunda-feira, 15 de julho de 2013
«Dies Irae» de Miguel Torga
Os tempos em que viveu Miguel Torga não eram fáceis. Os tempos em que vivemos agora também não, salvaguardadas as distâncias históricas. Mas, no essencial, são Dias da Ira, em que nos apetece chorar, gritar, fugir.... Muitos de nós temo-lo feito, é necessário continuar a fazê-lo para que nos deixem viver a vida que ainda temos. A escrita e a poesia é uma das armas contra a tirania dos medíocres e incultos que se atrevem a querer governar o mundo.
Dies Irae
Apetece cantar, mas ninguém canta.
Apetece chorar, mas ninguém chora.
Um fantasma levanta
A mão do medo sobre a nossa hora.
Apetece gritar, mas ninguém grita.
Apetece fugir, mas ninguém foge.
Um fantasma limita
Todo o futuro a este dia de hoje.
Apetece morrer, mas ninguém morre.
Apetece matar, mas ninguém mata.
Um fantasma percorre
Os motins onde a alma se arrebata.
Oh! Maldição do tempo em que vivemos,
Sepultura de grades cinzeladas
Que deixam ver a vida que não temos
E as angústias paradas!
Miguel Torga
domingo, 14 de julho de 2013
«Elogio da Dialética» de Bertolt Brecht
Em todos os tempos assim foi e assim será.
Brecht não nos dá conselhos, não nos avisa, não nos força a nada.
Brecht aponta para a realidade que será nossa em breve, um qualquer dia das nossas vidas, se não desistirmos.
Bertolt Brecht (1898/1956)
Elogio da Dialética
(tradução de Arnaldo Saraiva e Sylvie Deswarte)
A injustiça avança hoje a passo firme.
Os tiranos fazem planos para dez mil anos.
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são.
Nenhuma voz além da dos que mandam.
E em todos os mercados proclama a exploração: isto é apenas
o meu começo.
Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem:
Aquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremos.
Quem ainda está vivo nunca diga: nunca.
O que é seguro não é seguro.
As coisas não continuarão a ser como são.
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados.
Quem pois ousa dizer: nunca?
De quem depende que a opressão prossiga? De nós.
De quem depende que ela acabe? Também de nós.
O que é esmagado, que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aí que o retenha?
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã.
E nunca será: ainda hoje.
sexta-feira, 12 de julho de 2013
«Para ser grande, sê inteiro: nada» de Ricardo Reis (heterónimo de Fernando Pessoa)
Que bem que estes versos se aplicavam, com certeza, aos tempos em que viveu Fernando Pessoa, e que bem que se aplicam a todos os tempos!
Versos como estes, intemporais e universais, só os grandes poetas os sabem fazer.
Para ser grande, sê inteiro: nada
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
Ricardo Reis
Subscrever:
Mensagens (Atom)