sexta-feira, 12 de abril de 2013

Ericeira- Forte de São Pedro da Ericeira


 Aqui está uma das vantagens de se ler livros: ontem à noite, ao ler o livro de Álvaro Guerra (magnífico escritor), Razões de Coração, Romance de paixões acontecidas em Mafra ocupada pelos franceses no ano de 1808 (magnífico livro e um documento imperdível sobre a invasão francesa por terras de Portugal), descobri o nome e a história do forte da Ericeira, por onde já várias vezes passeei, não sabendo nada sobre ele, pois nada consta no local.
Quando Álvaro Guerra menciona o Forte de Milreus, pus a cabeça a trabalhar e relacionei o nome de Mil Regos (nome do Parque de Campismo da Ericeira), descobrindo «a pólvora»: era este o nome do forte por onde eu tantas vezes passeei. Eureka!



Estas são as informações principais sobre este forte, de longa e interessante história:
 
O Forte de São Pedro da Ericeira, também conhecido como Forte de Mil Regos, Forte de Milreu ou Forte da Ericeira, localiza-se na povoação da Ericeira, no concelho de Mafra, distrito de Lisboa, em Portugal.
É o último remanescente dos poucos fortes erguidos à época da Restauração da Independência, para defesa daquele trecho do litoral. Destinava-se a controlar o acesso marítimo à Ericeira pelo setor norte e, ao mesmo tempo, prevenir qualquer tentativa de desembarque na baía vizinha, formada pela praia de Ribeira de Ilhas.
Em 1735, o forte contava com sete peças de artilharia. 


Danificado pelas fortes intempéries registadas na região em 1751, procedeu-se à reconstrução de alguns elementos estruturais, cuja estabilidade foi seriamente agravada pelo terramoto de 1755, entrando o forte em processo de ruína.

 No início do século XIX a 3 de Janeiro de 1819, o governador do forte e a Câmara solicitaram auxílio ao soberano, visando a reconstrução do cais, desmoronado por ação do mar.

No contexto da Guerra Civil Portuguesa (1828-1834), foi reparado entre 1831 e 1832, sendo utilizado pelas forças miguelistas. Entretanto, em meados do século recaiu outra vez em abandono, levando a que por requerimento endereçado em 1871 ao Ministro da Guerra, fosse solicitada a utilização de algumas das suas lajes no restauro e construção dos anexos da igreja de São Pedro da Ericeira, o que foi prontamente anuído, enquanto que, na década de 1880, foi recolhida a artilharia remanescente.



Em 1891, a Guarda Fiscal instalou-se nas dependências do Forte da Ericeira e na antiga Casa do Governador, anexa ao mesmo, utilizada à época como escola para meninas. Nesse período, em 1896, tendo desabado parte da muralha do forte, o orçamento para os reparos devidos elevou-se a 35 contos de réis.

No início do século XX, o antigo forte foi reequipado de artilharia por determinação de D. Manuel II (1908-1910).
Novamente abandonado, em 1940, foi reedificada a muralha subjacente, passando o imóvel a ser tutelado pelo Ministério das Finanças. Nesse período, em 1945, foram feitos projetos pela Junta de Turismo da Ericeira, contemplando a adaptação do antigo forte a miradouro, a instalação de uma casa de chá e o estabelecimento de uma pousada.



Classificado como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto 129/77, publicado em 29 de Setembro de 1977, o forte apenas foi objeto de conservação na década de 1980, quando a DGEMN procedeu à reconstrução da muralha e do pavimento do terraço.
Atualmente conservam-se os seus espaços mais importantes: a bateria, formada por uma ampla esplanada voltada para o mar, a casa-forte, pelo lado de terra, com compartimentos abobadados.




Pergunto-me a mim mesma, como é que é possível que um monumento com esta importância histórica esteja hoje sem uma placa sequer de identificação, pois a Ericeira é um local de muito turismo e o Forte facilmente visitável, por um caminho de terra.
Excelentíssimos senhores da Câmara de Mafra ou quem de direito: por favor, mandem fazer uma placa para este monumento e ponham-no bem visível. Não levem a mal, é um conselho de uma amiga da Ericeira e dos monumentos, mesmo dos esquecidos. 


terça-feira, 9 de abril de 2013

«Dança lenta» - anónimo


 A autora deste poema é uma jovem anónima italiana, doente terminal de cancro. Esse facto torna-o num poema único, que nos comove pela sua mensagem mas também pelas circunstâncias em que foi escrito.
Esta jovem, nos seus últimos dias de vida, preocupa-se com os outros seres humanos, fazendo-lhes um apelo: é preciso parar um pouco e aproveitar cada momento para gozar os pequenos prazeres da vida: ouvir o som da chuva, olhar o pôr do sol, dar atenção aos nossos filhos quando eles precisam dela...
A música não durará sempre!!! 

Ouçam este apelo e transmitam-no! Isso vai tornar esta jovem um pouco mais feliz, de certeza!




DANZA LENTA

Hai mai guardato i bambini in un girotondo ?
O ascoltato il rumore della pioggia
quando cade a terra?
O seguito mai lo svolazzare
irregolare di una farfalla ?
O osservato il sole allo
svanire della notte?
Faresti meglio a rallentare.
Non danzare così veloce.
Il tempo è breve.
La musica non durerà.
Percorri ogni giorno in volo ?
Quando dici "Come stai?"
ascolti la risposta?
Quando la giornata è finita
ti stendi sul tuo letto
con centinaia di questioni successive
che ti passano per la testa ?
Faresti meglio a rallentare.
Non danzare così veloce
Il tempo è breve.
La musica non durerà.
Hai mai detto a tuo figlio,
"lo faremo domani?"
senza notare nella fretta,
il suo dispiacere ?
Mai perso il contatto,
con una buona amicizia
che poi finita perché
tu non avevi mai avuto tempo
di chiamare e dire "Ciao" ?
Faresti meglio a rallentare.
Non danzare così veloce
Il tempo è breve.
La musica non durerà.
Quando corri cosi veloce
per giungere da qualche parte
ti perdi la metà del piacere di andarci.
Quando ti preoccupi e corri tutto
il giorno, come un regalo mai aperto . . .
gettato via.
La vita non è una corsa.
Prendila piano.
Ascolta la musicà.


 

sábado, 6 de abril de 2013

Olhos que são espelhos

  • Os olhos são o espelho da alma





«O silêncio» de Teolinda Gersão



O Silêncio (1981), de Teolinda Gersão (Coimbra, 1940), escritora e professora, foi um dos livros que reli nos últimos tempos e que gostei de reler.
Esta é, sem dúvida, uma autora que se dedica a uma escrita livre, que flui como o pensamento ou como as ondas do mar que vão e vêm ao sabor das luas, uma escrita de grande beleza natural.
Embora o título do livro seja O Silêncio, que nos faz lembrar a expressão «O silêncio é de ouro», só de verdadeiro alcance para alguns mais expeditos na arte do entendimento entre humanos, este é apenas uma das temáticas sobre que a autora quer falar. O silêncio é o do mar, que quase submerge a casa na falésia, o interior da casa e sua relação com as personagens, as flores e plantas, o jardim, a solidão.E nós, os leitores.
Um belo livro para ler ou reler. Este diálogo que se transcreve aqui, é tão real que me faz lembrar outros diálogos e outras palavras trocadas tantas vezes, numa praia ou noutro local qualquer.

 A revista de novo fechada, dobrada no cesto de vime, o relógio batendo, e não é nada disto que eu quero,
-recusar tudo e recomeçar de outra forma,
-mas não há outra forma possível,
-corpos que brevemente se entendem e de novo partem, soltos, separados,
-porque você recusa o real, você recusa,
-porque sempre sonhei viver de outro modo,
-mas só existe o real e é preciso resignar-se,
-mas quem vai definir o que é real,
 -o real é o contrário do  sonho,
-e se for o sonho que é real,
-está de novo mentindo ,
-a vida não se repete apenas, é possível uma súbita alteração qualitativa,
-a vida é uma coisa sem brecha, não há nunca rotura nem milagre,
-não sonhamos talvez o suficiente,
-é preciso parar de imaginar.
-Vou-me embora, disse-lhe, depois de uma pequena pausa.........


    



domingo, 10 de março de 2013

«Luna» de Isabel del Toro Gomes






Luna
A minha gata Luna
É meiga como uma pluma
De duas cores se enfeitou
É Lua é sol é estrela cadente
-Gata do mundo eu sou
Gata de toda a gente.



quinta-feira, 7 de março de 2013

«De onde vimos? O que somos? Para onde vamos?» -Gauguin1897

Paul Gauguin
1848-1903


 Paul Gauguin, eterno inconformado, que abandonou emprego, família e tudo o que representava estabilidade,  auto exilou - se no Taiti e noutras ilhas dos Mares do Sul para poder pintar o que o seu talento natural lhe ditava.
Este quadro foi pintado no final da sua vida,  quando se encontrava já doente, como se se tratasse da sua última mensagem ao mundo. Gauguin queria deixar um legado, mostrar à gente que o ridicularizara e que se rira dele o que perdia com a sua morte. 
 https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdpf4DISF61hPcU0u9DN7laa1UV2GalKbWxyaraPOjXoF7KrG_T0Mfii9Erw_crF2_bBQcc66_QdJE7_sJrBqriYeBF4Bo3xSE6aYwt8pQPfs9IcxfdzC53rrQvK25wSQFwL3-DtQJEE0d/s1600/Woher_kommen_wir_Wer_sind_wir_Wohin_gehen_wir.jpg

Concentrou todas as suas forças vitais nesta obra que representava a sua imagem da humanidade. Já não tinha nada a perder, nem receio de revelar toda a sua veemência artística, com todo o volume grosseiro das suas pinceladas, que a crítica tinha difamado como «demasiado primitivo».
No fundo, era Gauguin quem estava certo: o mais importante era pintar  a sua visão do mundo, sem se preocupar em ser compreendido pelos outros, interpretando a vida como um grande segredo.



quarta-feira, 6 de março de 2013






Nos anos 60 e 70, Daniel Filipe era uma espécie de lenda para as novas gerações que despertavam para a luta anti-fascista através da arte e da poesia.
Não se sabia muito bem quem era este poeta da Invenção do Amor, mas todos achavam que este era um poema magnífico, não só pela temática e sua exploração, como pelo dom de transformar palavras poéticas carregadas de emoção numa luta comprometida e acusatória contra o regime de Salazar, realçando a urgência deste tipo de mensagens que resistem a tudo e a todos, e persistem para além da censura.
Também desconhecia que Daniel Filipe tinha nascido em Cabo Verde, em 1925, na ilha da Boavista. Veio para Portugal ainda criança, onde fez os estudos liceais. Iniciou a sua vida profissional como funcionário da Agência - Geral do Ultramar e como jornalista, colaborando em várias publicações e coleções de poesia.
Combateu a ditadura de Salazar, sendo perseguido e torturado pela Pide.
Faleceu em 1964, em Cabo Verde. 
A Invenção do Amor é o seu poema mais conhecido, hoje talvez esquecido, como acontece a tantos outros e que vale a pena relembrar e dar a conhecer aos jovens.
Aqui fica a declamação do poema pelo próprio autor, com acompanhamento musical do seu filho. 
Um registo documental e histórico fabuloso que nos permitem as novas tecnologias. 

Transcrevem-se aqui apenas algumas estrofes do poema, devido à sua extensão.
 




A Invenção do Amor de Daniel Filipe




Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor...........



 























 
Os jornais da manhã publicam a notícia
de que os viram passar de mãos dadas sorrindo
numa rua serena debruada de acácias
Um velho sem família a testemunha diz
ter sentido de súbito uma estranha paz interior
uma voz desprendendo um cheiro a primavera
o doce bafo quente da adolescência longínqua
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