Retrato de Fernando Pessoa, por Almada Negreiros
É uma exposição que surpreende pela grandeza e pelos belíssimos efeitos visuais, sonoros e mesmo tácteis. Uma exposição que requereu grandes meios de produção, que o nosso país irmão felizmente neste momento possui. Nós só temos que agradecer ao Brasil, em nome de Fernando Pessoa, que iria ficar «abismado» certamente, e de Portugal. Na famosa arca chamou-me a atenção as muitas marcas (redondas, possivelmente de objectos quentes) que ali ficaram assinaladas para a posteridade, testemunhos dos poucos recursos do escritor, que se serviria dela não só para guardar os seus escritos, como também para suporte ou quem sabe para mesa onde terá tomado algumas refeições. Quanto ao novo acordo ortográfico, esta exposição é um bom local para se tirar algumas conclusões práticas. Os brasileiros continuam a escrever à sua maneira «heterônimos», com acento circunflexo. Nos papéis antigos que por lá se encontram lê-se «portuguêses», entre outras palavras que entretanto mudaram de grafia. Quem hoje se opõe a que a palavra «portuguêses» já não possua acento? Acho que ninguém, o que nos leva a concluir que toda esta polémica em volta do novo acordo não passa de mais uma «polémica» mesmo, com muita política à mistura, e que o tempo se encarregará de levar ou não em frente as mudanças que se impõem pelas necessidades dos falantes. Começar de Almada Negreiros, Fundação Gulbenkian Depois de ter recebido 250 mil visitantes em São Paulo, no Brasil, a exposição Fernando Pessoa, Plural como o Universo chega à Fundação Calouste Gulbenkian. A exposição dedicada a Fernando Pessoa e aos seus heterónimos pretende mostrar toda a multiplicidade da obra do grande poeta português, conduzindo o visitante numa viagem sensorial pelo universo de Pessoa, para que leia, veja, sinta e ouça a materialidade das suas palavras. Com curadoria de Carlos Felipe Moisés e Richard Zenith, nesta exposição podem encontrar-se poemas, textos, documentos, fotografias e pintura, bem como raridades tais como a primeira edição do livro Mensagem, com uma dedicatória escrita pelo poeta. | |||
Horário: Terça a domingo entre as 10h00 e as 18h00. | |||
Preços: €5. (Aos domingos de manhã, é gratuito, aproveitem)! |
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
«Fernando Pessoa, Plural como o Universo»
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
«Lembranças de Salvador da Bahia» de Isabel del Toro Gomes
Para a Manuela e todos os meus primos da Bahia
Lembranças de Salvador da Bahia
Em Salvador da Bahia
Mergulha-se o corpo todo no passado
Feito de pedras antigas e gastas
De ladeiras onde uma imensa gente fervilha
No velho Pelourinho animado
Onde tambores rufam infernais
Antecipando alegres carnavais
Em Salvador da Bahia
Vai-se entrando por todo o lado
Perscrutando todos os recantos
Como se estivéssemos
Num mundo que nos pertence
Como se todo aquele encanto
Fizesse parte da gente
Em Salvador da Bahia
Dentro de nós há magia
Em Salvador da Bahia
Vai-se entrando pelos grandiosos portões
Das mil e uma igrejas de portas abertas
Olhos nas imagens resplandecentes
Na talha barroca nos muitos dourados
Nos tetos pinturas quadros jarras
Ouro e prata doutros tempos
Paredes e muros de azulejo português
Branco dos altares e das bahianas
Santo António São Domingos
Muitos Santos muitos Cristos
Nossas Senhoras e Virgens
E por fim Nosso Senhor do Bonfim
Decorado de mil fitinhas de todas as cores
Como as gentes de Salvador
Em Salvador da Bahia
Os dias são abafados, mornos
As noites quentes e há festivais
Todo o mundo tocando e cantando
No meio da multidão nos botecos
Nas ruas vende-se de tudo
Acarajé batapá picolé de tapioca
Latões sorvetes cocos aos montões
Matando a nossa sede insaciável de mais e mais
Em Salvador da Bahia
Assiste-se com devoção ao pôr do sol
No Farol da Barra
O Sol que se despede no mar
Da Baía de Todos os Santos
Ali é o lugar dos adoradores do sol.
Do começar e do acabar
Naquela terra de Salvador
Que acolheu os nossos antepassados
Ficamos exaustos, corpos suados
Deslumbra-nos o azul do céu e do mar
Do outro lado do Equador
Comemos banana de água, goiaba, mamão,
Maracujá, sapota, eu sei lá
Vemos dançar capoeira
Ouvimos o som do berimbau
E voltamos de lá metade bahianos
Que saudades
Eu parti eles ficaram
Naquela terra de contrastes
De tristezas e de alegrias.
Lembranças de Salvador da Bahia
Em Salvador da Bahia
Mergulha-se o corpo todo no passado
Feito de pedras antigas e gastas
De ladeiras onde uma imensa gente fervilha
No velho Pelourinho animado
Onde tambores rufam infernais
Antecipando alegres carnavais
Em Salvador da Bahia
Vai-se entrando por todo o lado
Perscrutando todos os recantos
Como se estivéssemos
Num mundo que nos pertence
Como se todo aquele encanto
Fizesse parte da gente
Em Salvador da Bahia
Dentro de nós há magia
Em Salvador da Bahia
Vai-se entrando pelos grandiosos portões
Das mil e uma igrejas de portas abertas
Olhos nas imagens resplandecentes
Na talha barroca nos muitos dourados
Nos tetos pinturas quadros jarras
Ouro e prata doutros tempos
Paredes e muros de azulejo português
Branco dos altares e das bahianas
Santo António São Domingos
Muitos Santos muitos Cristos
Nossas Senhoras e Virgens
E por fim Nosso Senhor do Bonfim
Decorado de mil fitinhas de todas as cores
Como as gentes de Salvador
Em Salvador da Bahia
Os dias são abafados, mornos
As noites quentes e há festivais
Todo o mundo tocando e cantando
No meio da multidão nos botecos
Nas ruas vende-se de tudo
Acarajé batapá picolé de tapioca
Latões sorvetes cocos aos montões
Matando a nossa sede insaciável de mais e mais
Em Salvador da Bahia
Assiste-se com devoção ao pôr do sol
No Farol da Barra
O Sol que se despede no mar
Da Baía de Todos os Santos
Ali é o lugar dos adoradores do sol.
Do começar e do acabar
Naquela terra de Salvador
Que acolheu os nossos antepassados
Ficamos exaustos, corpos suados
Deslumbra-nos o azul do céu e do mar
Do outro lado do Equador
Comemos banana de água, goiaba, mamão,
Maracujá, sapota, eu sei lá
Vemos dançar capoeira
Ouvimos o som do berimbau
E voltamos de lá metade bahianos
Que saudades
Eu parti eles ficaram
Naquela terra de contrastes
De tristezas e de alegrias.
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