segunda-feira, 12 de setembro de 2011
sábado, 3 de setembro de 2011
«Todas as marés» de Isabel del Toro Gomes
Todas as marés
Maré vida e ternura
Maré morte e lonjura
Maré doce e quente
Maré salgada e poente
Maré alegria e pureza
Maré dor e tristeza
Tudo é e assim será sempre
Nas marés das nossas vidas.
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
«Canção» de Papiniano Carlos
Papiniano Carlos (donde terão tirado este nome?) nasceu em 1918 em Lourenço Marques, onde fez os estudos primários. Veio depois para para o Porto, onde continuou a estudar e onde frequentou a Faculdade de Engenharia. Não tendo terminado o curso, dedicou-se à administração de uma propriedade agrícola. Mas o seu talento estava na escrita e começou a colaborar em jornais e revistas. Foi um dos diretores de Notícias do Bloqueio.A sua poesia apareceu em vários volumes entre 1942 e 1957. Integrando-se no movimento neo-realista, a sua poesia apresenta um carácter francamente protestativo. O seu Moçambique natal deu-lhe a matéria de alguns poemas, sendo ele um dos divulgadores dos poetas moçambicanos e angolanos.
Em 9 de Novembro de 2008, quando fez 90 anos de idade, Papiniano Carlos foi homenageado como Poeta-Cidadão. A homenagem foi organizada pela Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto, pelo Ateneu Comercial do Porto, pelo Círculo de Cultura teatral/TEP, pela Cooperativa Árvore, pelo setor intelectual do PCP, pela Unicepe, pela URAP e por uma Comissão constituída por um significativo número de pessoas de diversas áreas cívicas e culturais.
Muita poesia sua está publicada em vários países e gravada em discos, salientando-se a sua história para crianças «A Menina Gotinha de Água».
Fica aqui o registo da sua canção, apaixonada pela vida e pelo sentido positivo que lhe temos de imprimir, nos bons ou nos maus momentos.
Canção
Descansa, amor,
entre os meus cabelos;
os sonhos descansa
e o desejo de vê-los
ainda em flor.
Descansa, amor,
tua esperança;
em mim descansa
o que em ti arde:
aquilo que se quer
sempre se alcança,
e nunca é tarde.
Descansa, amor,
entre os meus cabelos;
felizes ou infelizes,
(os dias é vivê-los)
em mim descansa
os braços, as raízes
e as palavras
que me dizes.
in As Florestas e os Ventos
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
«Sonho acordado» de Isabel del Toro Gomes
Sonho acordado
Acabem de vez todos os pesadelos
Sonhos grotescos e ridículos
Fantasmas do passado ou do futuro
Que todas as noites ou
Ao nascer da aurora
Se entranham pelo corpo silente
Se insinuam na nossa mente
Nos percorrem as veias, a pele, os ossos
E nos deixam num delírio confuso
Acabem de vez todos os pesadelos
Não queremos mais sonhar
Não queremos mais dormir
Apenas ficar acordados
Em vigília permanente
E sonhar…sonhar…sonhar
O momento presente
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
«Uma mulher quase nova...» de Mário Dionísio
Mário Dionísio nasceu em Lisboa em 1916 e aqui faleceu em 1993. Foi um homem das artes e do ensino, de múltiplos talentos, pois além de professor, escritor e de crítico literário, foi também pintor.
Tem larga colaboração dispersa por jornais e revistas: O Diabo,Sol Nascente, Vértice, Ler e outras.
A sua actividade de crítico foi importante durante o período áureo do neo-realismo, tendo prefaciado autores como Manuel da Fonseca, Carlos de Oliveira, Alves Redol, entre outros.
Como pintor, usou os pseudónimos de Leandro Gil e José Alfredo Chaves. Participou em diversas exposições coletivas, estando as suas obras patentes na Casa da Achada, em Lisboa.
Esta Casa, assim chamada porque fica na Rua da Achada, nº11, em Lisboa, também designada Centro Mário Dionísio, foi fundada em Setembro de 2008, por familiares, amigos, ex-alunos, conhecedores e estudiosos da sua obra. Nela se desenvolvem diversas actividades culturais, leituras, conferências, cinema ao ar livre, com o intuito de divulgar a obra e o espólio do escritor, que nasceu, viveu e morreu nesta cidade.
Embora tenha tido muitas vezes vontade de a conhecer, confesso que ainda não me desloquei até lá, o que farei em breve. Descobri que no sábado, dia 27 de agosto, pelas 16h, vai continuar a leitura da obra de Mário Dionísio A Paleta e o Mundo.É um bom motivo para ir finalmente até lá e descobrir esta casa.
Para os interessados, deixo aqui o site, para consultarem a programação, muito útil para quem está em férias e quer ocupar o seu tempo de forma útil, agradável e pouco dispendiosa. E cinema ao ar livre, no verão, é apetecível. Na segunda-feira, dia 29, vai ser exibido o filme A Regra do Jogo, de Jean Renoir, às 21.30h. Tudo boas notícias.
Aqui fica também este pequeno poema, quase genial:
Uma mulher quase nova...
uma mulher quase nova
com um vestido quase branco
numa tarde quase clara
com os olhos quase secos
vem e quase estende os dedos
ao sonho quase possível
quase fresca se liberta
do desespero quase morto
quase harmónica corrida
enche o espaço quase alegre
de cabelos quase soltos
transparente quase solta
o riso quase bastante
quase músculo florido
deste instante quase novo
quase vivo quase agora.
in O Riso Dissonante
L
terça-feira, 23 de agosto de 2011
«Sargaceiro» de Álvaro Feijó
Álvaro Feijó (sobrinho-neto de um grande poeta português - António Feijó) nasceu em Viana do Castelo em 1916 e morreu em Lisboa em 1941, com vinte e cinco anos apenas. Mais um poeta malogrado, a juntar a tantos outros da sua época, que não teve tempo para viver nem para desenvolver o seu talento literário.
Em Coimbra, onde estudava Direito, foi um dos primeiros jovens que a Guerra de Espanha despertou para uma poesia polémica, «engagée», que veio a concretizar-se na coleção Novo Cancioneiro.
Publicou apenas um livro em vida, Corsário, onde revela o seu lirismo sarcástico e peculiar.
Lembremos aqui este nome e a sua poesia, que merece um lugar no rol dos poetas infelizes, do início do séc. XX.
Sargaceiro
É longo e pesado o engaço!
A barca vem cheia
de suor e de sargaço
e fome.
Tanto e nada!
Sargaceiro!
Limpas sargaço
do fundo deste mar
que, para ti, é baço
e não tem aquele aspeto sonhador
que nós lhe damos.
Ele, o mar...
Empresta-me o teu engaço:
há tanto que limpar!
in Os poemas, de Álvaro Feijó
domingo, 21 de agosto de 2011
«Na estação deserta» de Isabel del Toro Gomes
Na estação deserta
Alguém se sentou
No banco solitário
E à espera ficou
Que o comboio chegasse
E que duma janela qualquer
O seu amor lhe acenasse
E dissesse
Voltei! Aqui estou!
E ali mesmo
Dois corpos se enlaçaram
Num eterno abraço de saudade
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