domingo, 24 de julho de 2011

Férias


A palavra «férias» vem do latim «feria» que significa feira. Entre os romanos, era o dia em que se prescrevia a cessação do trabalho. Talvez, digo eu para que as pessoas estivessem livres para feirar. Hoje, quando se diz que os alunos têm férias, isso não significa que vão às feiras. Claro que podem ir, se quiserem, mas a palavra já tomou um significado mais amplo.Férias são o tempo de repouso. A tarefa está cumprida, agora merecemos um bocadinho de liberdade...
Bom. O que sucede é que um rapaz ou rapariga não vão passar dois meses de papo para o ar. Depois é muito vaga a noção de descanso. Há pessoas que, para descansarem de uma semana de trabalho intenso, vão fazer campismo, por montes e vales, com uma pesada mochila às costas. Fiquemo-nos com esta sugestão: descansar é mudar de actividade... (diz Mário Castrim no livro O Lugar do Televisor).

Faço minhas as palavras de Mário Castrim: aproveitem bem as férias, mudem de actividades (mesmo em casa), façam coisas diferentes das que passam o ano todo a fazer. E se tiverem a possibilidade de ir à praia ou ao campo, às terras dos vossos pais e avós, descubram os tesouros que por lá estão escondidos. Abram bem os olhos que encontram, de certeza. Ah, e leiam um bom livro, claro! Boas férias! (digo eu)

sábado, 23 de julho de 2011

O sonho


















Bem haja quem inventou o sonho,capa que protege todos os humanos pensamentos, manjar que tira a fome, água que apaga a sede, fogo que afasta o frio, frio que tempera o calor e, finalmente, moeda geral com que todas as coisas se compram. (diz D. Quixote).

                                                              Cervantes

Nunca deixes de sonhar, o sonho é o que nos faz caminhar, o que nos mantém vivos. Só estamos vivos enquanto sonhamos.
Mas mantém-te ligado à terra! (digo eu)

sexta-feira, 22 de julho de 2011

«Jardim Suspenso» de Isabel del Toro Gomes


Jardim suspenso

 No quarto obscuro

Às sete horas e vinte e cinco minutos
E trinta segundos

O rádio tocava Chopin

As mãos saltitavam no piano

Ta-ta-ta-ta    ta-ta-ta-taaaa

Um allegro qualquer

E um pássaro talvez ciumento

Veio pousar na janela ou jardim suspenso

Dum 12º andar qualquer

E pôs-se a cantar com toda a garra

Ti-ti-ti-ti    ti-ti-ti-tiiii

Depois  o pássaro voou
E no quarto tudo mudou.


quinta-feira, 21 de julho de 2011

«Satírica» de Mendes de Carvalho


Nas minhas últimas pesquisas pelas estantes da casa, encontrei mais um livro precioso, «Satírica» de um autor que me suscitou a curiosidade a ponto de o comprar em maio de1974: Merndes de Carvalho.
Nesses tempos de revolução, estávamos todos ávidos de ler coisas que eram proibidas até aí, ou de muito difícil acesso. O Círculo de Leitores publicou este livro em Março de 1974, arriscando muito. E eu comprei-o logo em maio, admirada certamente de haver mais para além das Cantigas de Escárnio e Maldizer, que constavam nos manuais do liceu e que «estudara» na Faculdade.
Mendes de Carvalho(1927-1988) foi poeta, dramaturgo e novelista, foi também na vida um homem de sete instrumentos, sempre muito próximo de grupos teatrais ("Casa da Comédia", "Teatro Estúdio de Lisboa e "Clube Palco"), orientou páginas literárias e colaborou em jornais e revistas literárias com poemas, artigos e ensaios sobre literatura e artes plásticas.
Hoje, visto que a poesia crítica e satírica de Mendes de Carvalho está praticamente esquecida, merece a pena ser lida e relembrada aqui:

Lua Nova
A lua foi dos poetas
dos habitantes do sonho
dos mendigos do luar
das donzelas
dos ciganos
e amiga dos ladrões
calendário dos amantes
e candeeiro da noite.
Vai ser um apeadeiro
em viagens de ida e volta
até que um self made man
a compre em quarto minguante
para várias luas de mel.


                              in «Satírica», de Mendes de Carvalho


terça-feira, 19 de julho de 2011

«Em nome da mãe» de Armando Silva Carvalho


Armando da Silva Carvalho nasceu em Olho Marinho, Óbidos, em 1938. Licenciou-se em Direito, foi advogado, jornalista, professor, tradutor e publicitário, mas acabou por se afirmar como escritor e poeta.
A sua escrita é marcada por um tom mordaz e satírico, que faz dela uma leitura bastante agradável e divertida, com tiradas de grande actualidade. 
Como esta, por exemplo:

Aos trinta a gente amadurece, aos trinta e cinco chega-se a velhinho e não encontra lugar na plateia da vida, e muito menos no palco. Olhai, vós que passais, viris, ao sol nascente, cuidai dos vossos anos, tratai dos vossos sonhos, que o tempo não engana, sois vós que insistis em ser enganados. E de repente é tarde.

                            in «Em nome da mãe», de Armando S. Carvalho



 

domingo, 17 de julho de 2011

«Regresso do Gerês» de Isabel del Toro Gomes




Regressámos do Gerês
Neste domingo ventoso
Lá ficaram os trilhos
Das verdes montanhas
Que calcorreámos sem cessar
Lá ficaram os bancos de pedra
As fontes as cascatas as lagoas translúcidas
Que refrescaram os nossos corpos
E saciaram a nossa sede




Lá ficou o sol que se vislumbra na manhã
Através dos verdes ramos emaranhados
Lá ficaram a lua e as estrelas
Iluminando o céu na noite sem luz
Lá ficaram as hortenses azuis
As lilazes flores do campo
Chorosas nos seus cachos





Lá ficaram os pinheiros bravos
Os eucaliptos brancos os vidoeiros
Os pastores solitários
E os seus rebanhos na vezeira
Lá ficaram as cabras montanhesas
A saltar de rocha em rocha
Com os lobos a espreitá-las

Lá ficaram o nosso rio Gerês
O pobre cavalo branco
Sozinho no meio do mato
As nossas borboletas amarelas
E de todas as cores esvoaçando sem parar
O nosso lagarto os nossos pássaros trepadores
O nosso canto debaixo do grande carvalho



Regressámos do Gerês
Neste domingo de vento
Mas não lhe dissemos adeus
Pois lá ficou um pouco de nós
Lá continua o nosso pensamento.

domingo, 3 de julho de 2011

«Se morrer é isto» de Isabel del Toro Gomes

Se morrer é isto

Desaparecer num segundo apenas

Desistir de tudo mesmo

Deixar a luta  labuta

Ir embora simplesmente

Desligar a máquina

Então adeus até nunca

Nem um até breve

À bientôt  je vous aime

Se morrer é isto

Então deve ser fácil demais


Se morrer é isto

Não sentir mais nada

Amor paixão dor

Ficar inerte e mais nada

Não acenar a mais ninguém

Olá viva tudo bem

Se morrer é isto

Deixar de cantar dançar pular

De fazer asneiras de falhar

De se aborrecer de ler  escrever

Então não tenho a certeza

Se quero este morrer.