sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

«Perto do Coração Selvagem» de Clarice Lispector






Primeiro livro de Clarice Lispector, escrito aos 19 anos apenas, tornou-se uma obra decisiva nos novos caminhos da ficção brasileira  e elevou a sua autora ao primeiro plano das letras do Brasil, seu país de acolhimento.
Na realidade, sendo de origem judaica e tendo nascido na Ucrânia em 1920 , quando a sua família foi perseguida durante a Guerra Civil Russa de 1918-1921, antes da viagem de emigração para o Brasil, aí chegou com apenas 2 meses de idade. Por iniciativa de seu pai, todos mudaram de nome, à excepção da irmã Tânia, passando Haia (seu nome verdadeiro) a chamar-se Clarice..
 Clarice Lispector começou a escrever logo que aprendeu a ler, na cidade do Recife, onde passou parte da infância. Falava vários idiomas, entre eles o francês e inglês. Cresceu ouvindo em casa o idioma materno, o iídiche.
Revelando nesta obra uma penetrante capacidade de análise psicológica, grande domínio da linguagem,  força e  originalidade expressivas, Clarice Lispector afirma desde logo o seu talento para a escrita.
Faleceu com cancro no dia 9 de dezembro de 1977, um dia antes de seu 57° aniversário.
Sendo ela conhecedora e falante de várias línguas, escreveu sempre em língua portuguesa, a sua língua do coração, como ela afirmava.

«Amo esta língua. Não é uma língua fácil.É um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve querendo roubar às coisas e pessoas a sua primeira camada superficial. É uma língua que por vezes reage contra um pensamento mais complexo.»
















domingo, 2 de janeiro de 2011

Ano Velho Ano novo

Para todos que vão seguindo este blogue, que não deixem que se apaguem o fogo da vida e as luzes que viram brilhar nos céus no início do ano novo.
Muita luz, muita paz e muitas leituras para 2011!


terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Bom Natal a todos

Para todos os meus leitores e amigos, faço votos que tenham um Natal Feliz, com a prenda principal que é a Paz e amor. E a Poesia também!




Chove. É dia de Natal.


Lá para o Norte é melhor:

Há a neve que faz mal

E o frio que ainda é pior.



E toda a gente é contente

Porque é dia de o ficar.

Chove no Natal presente.

Antes isso que nevar.



Pois apesar de ser esse

O Natal da convenção,

Quando o corpo me arrefece

Tenho frio e Natal não.



Deixo sentir a quem quadra

E o Natal a quem o fez,

Pois se vai mais uma quadra

Sinto mais Natal nos pés.



Não quero ser dos ingratos

Mas, com este obscuro céu,

Puseram-me nos sapatos

Só o que a chuva me deu



Fernando Pessoa



quarta-feira, 24 de novembro de 2010

«Elogio da Loucura» de Erasmo



Nestes tempos e lugares em que todos parecem estar loucos, ou fazer de nós loucos, é talvez pertinente relembrar esta obra escrita por Erasmo de Roterdão.
«O mundo é um palco e a vida um jogo de som e de fúria, representado por um louco» - esta metáfora é-nos cada vez mais muito familiar, ressoa na literatura europeia e surge com intensidade na obra de Erasmo.
No turbilhão de revoltas, guerras e contendas religiosas dos fins do século XV, este monge e reformador sensato e moderado, resolve fazer, em 1509, o elogio da loucura, da estultícia e da ignorância. Claro que ele o faz de forma irónica, num jogo de duplicidade genial, como o mágico que nos mostra a realidade sob a capa do irreal, o sério escondico sob o jocoso.
Se eu tivesse lido este livro há uns meses atrás, de certeza que tinha feito outras opções muito mais vantajosas. Ou talvez não!
Aqui ficam alguns excertos, para vos aguçar o apetite:
Os mortais têm a meu respeito opiniões díspares, e não ignoro o mal que se ouve dizer da loucura, mesmo entre os loucos. No entanto, sou eu, e eu só, quem alegra os deuses e os homens.
Sou sempre igual a mim própria e nunca uso de disfarce, como os que pretendem passar por sábios e se passeiam como macacos vestidos de púrpura ou asnos cobettos com uma pele de leão.
Instante a instante, a vida seria triste, aborrecida, enfadonha,insípida, insuportável, se a ela não se misturasse o prazer, isto é, a Loucura. Poderia aqui invocar o testemunho de Sófocles, poeta jamais suficientemente louvado, que diz a meu respeito: «Quanto menos prudência e sabedoria maior a felicidade».

Para quê  prudência e  sabedoria, realmente? Atiremo-nos de cabeça para a Loucura e sejamos todos felizes!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

António Souto, «O Tempo das Palavras»


António José Souto Marques nasceu em Angeja, Albergaria-a-Velha em 1961, é Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas e pós-graduado em Teoria e Criação Literária. Entre outras funções, foi professor em França, leccionando neste momento em Lisboa. É autor de Arcanas Carícias, Na Lavra do Dizer e Caprichos, colaborou em várias publicações e publicou em Setembro deste ano O Tempo das Palavras, livro de poemas, em parceria com outro poeta, Armindo S.
A poesia de António Souto reflecte as suas vivências, as suas emoções, os seus pensamentos através de palavras vivas, que têm o poder de nos atrair e de nos contagiar. É uma poesia que nos transmite de uma forma simples e verdadeira os mistérios da vida, a magia do quotidiano, como o poema que vou transcrever aqui, dedicado às suas filhas, de que gostei especialmente:

                                                    
Para a Mariana e Margarida

Nasceu o sol de madrugada só para mim
ia alta a noite e o vento cirandava
grávido de dor e cor em frenesim
que o desejo da espera revelava

pouco a pouco o contorno se acentua
aconchego de capricho que se tem
resplendor de beleza inocente e nua
com rosto e nome agora que convém

saber-vos assim florindo ao ritmo dos dias
cercadas de mimos, requebros, fantasias
cuidando que o mundo é todo vosso

e nestes versos celebrar-vos a vida
a sorte oculta que sabeis comedida
no vingar de um sonho agora nosso.

                                       António Souto, in O Tempo das Palavras



                                                             

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Outubro - Isabel del toro Gomes


(Finalmente, um poema meu. Ganhei coragem!)



Outubro



É Outubro ainda...

Mês das despedidas dos amores de verão


Outubro ameno, cheio deste sol


Que tão meigamente nos aquece, sem agressão


Mais um dia feliz


Em que me sinto feliz aqui sentada


Na nossa sala, sem frio, sem calor


No nosso sofá que tão comodamente


Me ampara o corpo e a alma


Quase adormecidos, sem medo


Sem sofrimento, sem depressão


Mais um dia de Outono amarelecido


Em que me deixo estar aqui quase imóvel


Feliz languidez e lassidão


Em paz à espera de ti meu amor


Do mês de Outubro.




















quarta-feira, 20 de outubro de 2010

D. Carlos I e os «Vencidos da Vida» de F.A. Oliveira Martins

                                                           Estátua de D. Carlos I, em frente à Baía de Cascais

Enquanto o país se entretinha a comemorar o centenário da Implantação da República,   tentando branquear a crise e a penúria com muita música e festanças, os nossos dilectos governantes preparavam pela calada da noite o «prato de fome» que se iria seguir à festa. Enquanto isso, eu lia um livrinho de folhas amarelas, editado pela Parceria António Maria Pereira, de 1942, intitulado D. Carlos I e os «Vencidos da Vida», de F.A. Oliveira Martins, que encontrei por acaso numa prateleira e que custou 10 escudos.
Fiquei logo curiosa por lê-lo, pois pouco ou nada sabia nem do rei D. Carlos I, nem dos «Vencidos». Aprendi um manancial de coisas interessantes, entre as quais que Portugal se encontrava à época do rei-mártir exactamente na mesma situação da que se encontra agora: com o tesouro saqueado, o Estado em bancarrota e a precisar de um «endireita». E também pelas mesmas razões, salvas as devidas distâncias: « A política pessoal de D.Carlos I fazia e a política partidária desfazia» (pág. 107). Só que agora, não se sabe quem faz e quem desfaz, nem o quê...

São tantas as semelhanças entre estas duas épocas históricas, a de D. Carlos I e a nossa (a de D. Sócrates...ou a de D. Cavaco???) que vale a pena ler esta obra. É o nosso retrato, quase, só os nomes são diferentes.
 Alexandre Herculano escrevia : «Dá vontade de morrer». Que diria ele agora?