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quinta-feira, 10 de novembro de 2016

«Montanha Russa» de Isabel del Toro Gomes

Gerês

Montanha Russa

Cada dia é uma montanha
Que temos de escalar pedra a pedra
E depois descer com mil cautelas
Montanha russa na Feira da Vida
Subimos e descemos
Choramos e rimos
Juramos que nunca mais repetimos
Mas sempre de novo somos atraídos
Já estamos cansados, exaustos
Corpo dorido, pés sofridos
Mas continua a ser preciso
Escalar a montanha do riso.

                                                                                  anos 90



Este foi um dos poemas publicados na antologia de Poesia Portuguesa Contemporânea, Volume VI, coordenada por Ângelo Rodrigues, da Editorial Minerva

segunda-feira, 21 de março de 2016

«Ao longe»



Ao longe

Longe

Quero ficar bem longe daqui

Bem longe

Das cidades empoeiradas

Encaixadas noutras cidades

Onde os prédios são tórridas torres

Onde não se vêem pessoas

Apenas almas penadas, fantasmas

Apenas tijolos vidros paredes pardas


Quero ir para um lugar bem longe daqui

Onde não haja auto estradas, viadutos

Pontes guindastes em suspensão

Atravessando enormes rios poluídos

Tanto trânsito que nem já dá para respirar

Só para morrer e sufocar

Engarrafados em fumo e podridão


Quero ir para um lugar

Onde possa ter uma janela
Aberta de par em par

Com cortinas brancas a esvoaçar

Donde se possa ver à noite o céu escuro

Admirar as estrelas a piscar

Milhões de astros cavalgando pégasos

Que descem até ao meu jardim

De crisântemos, cravos, rosas e jasmim

Dando lugar a novas constelações

Duendes travessos fadas e anões

E o mundo finalmente seria melhor

Com todos esses seres e com todas as cores

                                                      21 de Março 2016


terça-feira, 8 de março de 2016

Maria Inês ou Conceição



No Dia da Mulher de 2016, dedico este poema à memória de todas as mulheres assassinadas pelos seus maridos ou companheiros, que foram vinte e sete no ano de 2015 e uma neste ano de 2016.
Estes crimes hediondos, cometidos muitas vezes «nas barbas das autoridades» e com a conivência por vezes de outros cúmplices gananciosos e sem escrúpulos, é uma terrível consequência (entre outras) do aumento da violência contra os mais frágeis e mais desprotegidos.
Se mais não posso fazer, é com muita mágoa e revolta que as recordo deste modo hoje, da forma que posso, para que esta realidade se vá superando dia a dia.


MULHER

Maria, Inês ou Conceição

Eram os seus nomes

Cuidadosamente escolhidos

Pela madrinha, senhora rica,

Naquele longínquo domingo

De baptismo e de infância feliz

Em que todos pensaram

Que aquelas crianças meninas

Iam ser um dia mulheres.



Mulheres a sério, bem casadas

Com muitos filhos netos e netas…

É isso que costuma acontecer, pois então!?

Manuela, Jessica ou Leonor

Belas, irrequietas ou muito tímidas

À espera do amanhã, porque não?



Tanto sonho perdido

Tanto sonho achado

Um belo príncipe

No seu cavalo branco

Que as ia arrancar de vez

À solidão, ao desespero

Do dia-a-dia duro na fábrica

No campo na seara no tanque

E as tornariam donas duma loja,

Duma casa

Duma mansão

Seriam como aquelas senhoras

Com vestidos e penteados finos

Pois então!?



E num dia, dolorosamente

Tudo desmorona se esfuma

Onde está a minha fada madrinha??

E no outro a seguir, dia tão triste

Tudo lhes foge como areia entre os dedos

Em lugar do belo príncipe encantado

O ciúme, a inveja e o ódio

O dia escuro, a solidão, a morte



Margarida, Andreia ou Joaquina

Tantas mulheres, tantos nomes comuns

Tanto sangue derramado

Tanto filho sem mãe

Tanto pai sem filha

Tanta vida perdida!!!


Tamanho amor, tamanha desilusão

Tamanho crime sem punição

Tudo não passou de falsidade,

De hipocrisia e de indiferença

De nomes e vidas já esquecidos

Maria, Inês, Isabel ou Conceição.             

8 de Março 2016


quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Rostos


Pinóquio, o meu personagem preferido, entre todos os que os autores de livros para crianças imaginaram, cresceu e tornou-se Poeta.
Isso mesmo, Poeta, um entre muitos outros poetas que existem no seu país, que é um país de Poetas.
Lá nesse país, anda toda a gente tão apressada e preocupada com politiquices e toda a espécie de traficâncias, que são poucos os que ainda se lembram que existe a Poesia!

Ao crescer, Pinóquio, começou então a escrevinhar, depois a escrever.
Às vezes até ele próprio fica  a pensar, lá na sua cabecinha:
O quê, fui eu que escrevi isto? Fantástico!!

Aqui vai o poema que Pinóquio escreveu:
Rostos
Evoco-te sentado
Num banco de pedra
Com o rio aos teus pés
A ler um livro de poemas
Escritos por alguém
Sem rosto nem sorriso.


Evoco-te a percorrer de lés a lés
As ruas da cidade minha
E agora também tua
Que já conheces melhor do que eu
A mostrares-me mais e mais.
Evoco-te e já desapareceste
De casa mal entraste
E logo num ápice sais
Ávido do ar mais puro
E me deixas sozinha
Num solilóquio nocturno.
Evoco ainda o teu rosto
Sério de barbas longas
Donde sobressai o silêncio
Exausto dum labor confuso
Já de si inoportuno
E cada vez mais ingrato.


Evoco por fim os teus olhos
Castanho escuros
Como os montes e os vales
Da terra onde nasceste
Onde os sorrisos foram escassos
A infância ingrata e fugaz
E as figueiras pródigas demais.
                                                         Isabel del Toro Gomes


segunda-feira, 7 de julho de 2014

Cores da terra e da ria

 
Na Reserva natural da Ria Formosa, perto de Olhão
A natureza é formosa e pródiga
Para homens animais e plantas
Entre o verde das piteiras e dalguns barcos
O amarelo vivo das azedas
O rosa pintado dos figos maduros
E o azul doutros barcos da ria e do céu
Tudo se mistura e nos enche os olhos
Aqui tudo é um  mundo de sonho
De terra e de pedra e de areia
De pureza e de paixão.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

«Valsa dos dias» de Isabel del Toro Gomes





 Picos da Europa -Espanha

Valsa dos dias

Cada dia é apenas um dia
Nada mais que uma gota
Deste mar em que navegamos
Cheio de nada
Ou vazio de tudo.

Apenas um dia
De cada vida.

Nada mais que uma gota
Desta imensa chuva
Em que nos molhamos.

Apenas um dia
Minúscula malha da grande rede
Em que com desespero nos prendemos
À espera da vida por que lutamos.

Até que chega um dia
Apenas mais um dia
Das nossas vidas
Em que, por fim, morremos.
                                              
                                        Isabel del Toro Gomes

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

«Mãe...é para ti» de Isabel del Toro Gomes







 Mãe… é para ti

 mãe adorada
Jamais te esquecerei
Finalmente chegou
Ao fim a tua caminhada.

Mas o caminho continua
Não vás tu pensar
Que vais ficar parada,
Que era o que tu não querias
Nem por nada.

Parar, isso nunca
Morrer nem pensar
Isso nunca!
E De modo nenhum
Num fatídico dia treze!

E que frio de rachar
Que nos deixa transidos
De paixão e de dor!

Querida mãe
Jamais te deixarei só
Pelos atalhos do teu sonho
O sonho grande de amar
E ser amada
Da família, da paz e da harmonia
Esse imenso sonho
Que em cada dia te fugia
E em pó no ar se desvanecia…
E quanto tu mais atrás dele sorrias
Mais ele desaparecia…
Tanta fatalidade tanta tristeza!

 mãe
Jamais as tuas longas mãos
poderei apertar
o teu misterioso rosto beijar
o teu resistente corpo abraçar
não te digo adeus , só até logo!

 mãe
Para sempre Continuaremos  
a fazer compras
No lugar aprazado
Lado a lado
Numa imensa e infantil cumplicidade.
Agora está na hora
De irmos lanchar,
Agora é a hora maior:
Um chá dois bolos e uma torrada,
Que extraordinário momento de felicidade!
minha mãe adorada
contigo aprendi quase tudo
que tu fazias questão de me ensinar
mais e sempre mais…
que a vida mais nos tira do que nos dá…
mesmo assim é um pequeno prazer
Mesmo um dever…
Nunca disso esquecerei!

Minha mãe
Pois então, o caminho é para continuar…
Eu tão pequena
E tu à minha espera de braços abertos
Lá ao fundo da dor
À espera de mim
Para dos pesadelos da noite me consolar,
noite escura e longa…

minha mãe
que vida e que noite tão longas…
agora  que caminhas livre
finalmente em liberdade
ficas a saber, agora sim,
que todos te amaram
e jamais te esquecerão.
                                                                                      16 de Janeiro de 2014