segunda-feira, 16 de julho de 2018

«Lisboa Lisboa» de Isabel delToro Gomes


Mais um poema à minha cidade natal.


Lisboa Lisboa 

nas ruas
nas calçadas

nas lojas
nos cafés

nas praças
nos jardins

tudo é música
das conversas adiadas
das máquinas ruidosas
dos pássaros e das cotovias




 
na cidade toda
nas pessoas que se enamoram

que correm
que compram

que trabalham
que lutam

tudo é música
do Tejo batendo nas rochas
dos cacilheiros que apitam
das gaivotas que gritam



é assim Lisboa dia e noite 

que não acaba nem começa

é assim a cidade do grande rio

e do mais belo pôr-do-sol.





sábado, 14 de julho de 2018

Pablo Neruda


Pablo Neruda, grande poeta chileno nascido em 1904, é considerado um dos mais importantes poetas da língua castelhana do século XX.
Foi cônsul do Chile em Espanha de 1934 a 1938 , e no México.
Recebeu o Nobel da Literatura em 1971.
Em 2016, foi lançado o filme «Neruda», que aborda aspectos da vida política do poeta no final da década de 1940, e na perseguição que sofreu por motivos políticos.
Neste filme, dirigido por Pablo Larraín, Neruda foi interpretado por Luis Gnecco.

Do seu livro Vinte poemas de amor e Uma canção desesperada, aqui fica um dos poemas de que mais gostei (é difícil a escolha), por entrelaçar intimamente aquilo que o poeta sente - tristeza, sentimento de perda, recordação da amada  num passado longínquo - com elementos da natureza - o poente/crepúsculo.


10. Também este crepúsculo…

Também este crepúsculo nós perdemos.
Ninguém nos viu hoje à tarde de mãos dadas
enquanto a noite azul caía sobre o mundo.

Olhei da minha janela
a festa do poente nas encostas ao longe.

Às vezes como uma moeda
acendia-se um pedaço de sol nas minhas mãos.

Eu recordava-te com a alma apertada
por essa tristeza que tu me conheces.

Onde estavas então?
Entre que gente?
Dizendo que palavras?
Porque vem até mim todo o amor de repente
quando me sinto triste, e te sinto tão longe?

Caiu o livro em que sempre pegamos ao crepúsculo,
e como um cão ferido rodou a minha capa aos pés.

Sempre, sempre te afastas pela tarde
Para onde o crepúsculo corre apagando estátuas.


Pablo Neruda, Vinte poemas de amor e Uma canção desesperada, Publicações D. Quixote