No Dia da Mulher de 2016, dedico este poema à memória de todas as mulheres assassinadas pelos seus maridos ou companheiros, que foram vinte e sete no ano de 2015 e uma neste ano de 2016.
Estes crimes hediondos, cometidos muitas vezes «nas barbas das autoridades» e com a conivência por vezes de outros cúmplices gananciosos e sem escrúpulos, é uma terrível consequência (entre outras) do aumento da violência contra os mais frágeis e mais desprotegidos.
Se mais não posso fazer, é com muita mágoa e revolta que as recordo deste modo hoje, da forma que posso, para que esta realidade se vá superando dia a dia.
MULHER
Maria, Inês
ou Conceição
Eram os seus
nomes
Cuidadosamente
escolhidos
Pela
madrinha, senhora rica,
Naquele
longínquo domingo
De baptismo
e de infância feliz
Em que todos
pensaram
Que aquelas
crianças meninas
Iam ser um
dia mulheres.
Mulheres a
sério, bem casadas
Com muitos
filhos netos e netas…
É isso que
costuma acontecer, pois então!?
Manuela,
Jessica ou Leonor
Belas,
irrequietas ou muito tímidas
À espera do
amanhã, porque não?
Tanto sonho
perdido
Tanto sonho achado
Um belo
príncipe
No seu
cavalo branco
Que as ia
arrancar de vez
À solidão,
ao desespero
Do dia-a-dia
duro na fábrica
No campo na
seara no tanque
E as
tornariam donas duma loja,
Duma casa
Duma mansão
Seriam como
aquelas senhoras
Com vestidos
e penteados finos
Pois então!?
E num dia, dolorosamente
Tudo
desmorona se esfuma
Onde está a
minha fada madrinha??
E no outro a seguir, dia tão triste
Tudo lhes
foge como areia entre os dedos
Em lugar do
belo príncipe encantado
O ciúme, a
inveja e o ódio
O dia
escuro, a solidão, a morte
Margarida,
Andreia ou Joaquina
Tantas
mulheres, tantos nomes comuns
Tanto sangue
derramado
Tanto
filho sem mãe
Tanto pai
sem filha
Tanta vida
perdida!!!
Tamanho
amor, tamanha desilusão
Tamanho
crime sem punição
Tudo não
passou de falsidade,
De
hipocrisia e de indiferença
De nomes e
vidas já esquecidos
Maria, Inês,
Isabel ou Conceição.
8 de Março
2016