O mistério do amolador
Dia de chuva é dia de amolador passar.
Ou antes de chover, a preanunciar o evento molhado, ou depois, é certo que o amolador vai soltar pelas ruas a sua música.
A sua melodia soa-me sempre bem, além de ser um convite para ir à janela, arredar mais ou menos timidamente a cortina e espreitar quem lá vem.
A curiosidade é sempre mais forte que a certeza.
Nós temos a certeza de quem vem lá, ou quase, é o nosso conhecido amolador, artista que conserta as coisas todas, desde as rachas dos pratos, pondo-lhes uns desengraçados e fortes gatos, que remedeiam para mais uns tempos, até às varetas dos chapéus de chuva. E afiam também as facas e as tesouras, utensílios tão elementares e úteis que ninguém os pode dispensar.
Ninguém é capaz de explicar que mistério liga este homem simples e andarilho à chuva. Ou a chuva ao amolador. O certo é que eles estão intimamente relacinados, não existindo um sem o outro, na maior parte das vezes.
Vamos lá ver se não é verdade: da próxima vez que chover, vamos todos esperar pela aparição do misterioso amolador.
Com o nosso chapéu de chuva avariado.
Ou a nossa faca de estimação por afiar.
Ou a tesoura da costura, quem sabe...
Isabel del toro Gomes