segunda-feira, 26 de novembro de 2012

«Ora Tomem lá»


Zé Povinho é uma personagem satírica de crítica social, criada por Rafael Bordalo Pinheiro em 1875, que tem como características principais a revolta e a incredulidade, representadas no gesto do «manguito», o «Toma». 
Surgiu pela 1ª vez na 5ª edição do periódico A Lanterna Mágica, num desenho alusivo aos impostos, onde se representa o então Ministro da Fazenda, Miguel Pacheco, a sacar ao Zé Povinho uma esmola de três tostões para Santo António de Lisboa.
Nas edições seguintes do periódico, a caricatura do Zé Povinho continuou a surgir, tornando-se uma figura identificativa do povo português.
Popularizou-se com a cerâmica da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, a partir do final do século XIX. 

Amanhã, dia 27 de Novembro de 2012, vai ser aprovado na Assembleia da República o pior Orçamento de Estado da nossa história, o orçamento que representa o fim económico e social de Portugal, que nos vai roubar os nossos jovens, as nossas vidas e a esperança num futuro melhor.
Sendo assim, quero expressar aqui o meu protesto e a minha revolta, fazendo o meu «manguito» a todos os deputados que o vão aprovar e a todos os membros deste malfadado e doente Governo que o elaboraram e o permitiram.
A todos eles, tenho o prazer de lhes fazer «Ora tomem lá».
É pouca coisa, eu sei, mas é o que se pode! 
 
 



sexta-feira, 23 de novembro de 2012

«Andar à nora»



 Esta é a nora mais bonita que existe em Portugal e arredores (na minha opinião,claro).
Situa-se em Tomar, junto do rio Nabão.

Nora (do latim vulgar nora-) - engenho de tirar água

Andar à nora - ver-se em dificuldades


É como todos andamos neste momento, à nora! 


Mas como a nora é circular e os alcatruzes sobem e descem, resta-nos a esperança de voltar a subir e eles (os nossos carrascos) a descer!

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

«Infância» de Rilke Maria Rainer


Quem não recorda a sua infância, tenha ela sido boa ou má?
Se me perguntassem se tive uma infância feliz, eu diria nem feliz nem infeliz. Não sou daquelas pessoas bafejadas pela sorte com uma infância fantástica, mas também não posso dizer que fui uma criança infeliz. Houve bons e maus momentos, muita coisa boa e muita coisa má. Talvez isso me tenha modelado e preparado para o resto da vida e me tenha feito sobreviver até hoje.
A infância é a nossa raiz, tudo o que nela se passa deixa uma marca na nossa personalidade e vida futura.
E a escola também.
Para mim a escola foi uma parte boa da infância e juventude, embora uma freira me tenha dado uma bofetada (desobedeci e fui para os baloiços «proibidos») e quase levei uma reguada duma professora primária por ter feito qualquer erro de que já não me lembro. Mas encolhi-me tanto que ela teve pena e só raspou de leve com a régua, vá lá! Não fiquei traumatizada. Era uma injustiça grande, eu era uma aluna esforçada.
A propósito de os pais baterem nos filhos como forma de educação, fiquei a saber ontem, por um programa televisivo, que na Suécia é PROIBIDO dar uma palmada nos filhos. Dá direito a ficar sem eles, são retirados da família, e cadeia para os pais. Exagero? Talvez!!
Este poema de Rilke ilustra bem o que era para alguns a infância e a escola, no passado. 

 
Infância  



Passa lento o tempo da escola e a sua angústia
com esperas, com infinitas e monótonas matérias.
Oh solidão, oh perda de tempo tão pesada...
E então, à saída, as ruas cintilam e ressoam
e nas praças as fontes jorram,
e nos jardins é tão vasto o mundo —.
E atravessar tudo isto em calções,
diferente de como os outros vão e foram —:
Oh tempo estranho, oh perda de tempo,
oh solidão.

E olhar tudo isto à distância:
homens e mulheres; homens, homens, mulheres
e crianças, tão diferentes e coloridas —;
e então uma casa, e de vez em quando um cão
e o medo surdo trocando-se pela confiança:
Oh tristeza sem sentido, oh sonho, oh medo,
Oh infindável abismo.

E então jogar: à bola e ao arco,
num jardim que manso se desvanece
e por vezes tropeçar nos crescidos,
cego e embrutecido na pressa de correr e agarrar,
mas ao entardecer, com pequenos passos tímidos,
voltar silencioso a casa, a mão agarrada com força —:
Oh compreensão cada vez mais fugaz,
Oh angústia, oh fardo!

E longas horas, junto ao grande tanque cinzento,
ajoelhar-se com um barquinho à vela;
esquecê-lo, porque com iguais
e mais lindas velas outros ainda percorrem os círculos,
e ter de pensar no pequeno rosto
pálido que no tanque parecia afogar-se — :
oh infância, oh fugazes semelhanças.
Para onde? Para onde?

Rainer Maria Rilke (1875/1926), in "O Livro das Imagens"

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

«Metamorfoses da casa» de Eugénio de Andrade

 
Eugénio de Andrade (pseudónimo de José Fontinhas) nasceu no Fundão em 1923 e morreu no Porto em 2005.
É considerado um dos maiores poetas de língua portuguesa, que conseguiu impor a sua singularidade, mantendo-se sempre independente de toda e qualquer filiação.
Recebeu o Prémio Camões em 2001. 

Vergílio Ferreira, no seu livro Espaço do invisível 2, escreve:

...na poesia de Eugénio de Andrade não há espaços desocupados para neles nos instalarmos nós. O «fruto» é bem o símbolo da sua arte poética. Fechado, uno, compacto, não há senão que saboreá-lo, admirá-lo, tocá-lo a dedos puros para o não conspurcar. Um Eduardo Lourenço deve ter-nos dado a chave dessa singularidade, ao frisar-nos o que havia de «paraíso sem mediação» nessa poesia de plenitude assumida, de morada que se não contrapõe ao mundo mas é de si a única morada do poeta, transparente de pureza na pureza da palavra.

Foi decerto por tudo isto que a poesia de Eugénio de Andrade me agradou sobremaneira, quando a reli com mais atenção há algum tempo. A ponto de afirmar que era o meu poeta de eleição. Poeta da vida plena, que admite que «a morte não existe», porque «tudo é canto e chama». Não obstante a solidão, a amargura, a tristeza, ele afirma uma enorme vitalidade e plenitude solar.
A água é, deste modo, um elemento que trespassa e unifica a sua poesia. Tal como a pedra, a casa, o barco, o bosque.

 
 
  Metamorfoses da casa


Ergue-se aérea pedra a pedra
a casa que só tenho no poema.


A casa dorme, sonha no vento
a delícia súbita de ser mastro.


Como estremece um torso delicado,
assim a casa, asssim um barco.


Uma gaivota passa e outra e outra,
a casa não resiste: também voa.


Ah, um dia a casa será bosque,
à sua sombra encontrarei a fonte
onde um rumor de água é só silêncio.

                                                             Eugénio de Andrade

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

«Ah, a música» de Ruy Belo



Para ti, querida Susana, um belo poema de Ruy Belo, de que  tanto gostas. E eu também.
Para os dias de chuva! 
Para todos!


Ah, a música


Quem terá deixado esquecida 
Esta música ouvida num canto da rua?
Ninguém de quem passa nela repara
No entanto - é ela - faltava no dia de chuva
No meu dia de chuva?
Meu seria decerto este dia
Pois por mais precário que eu seja
Nenhuma chuva fora podia
Cair se acaso em mim não caísse
Cai chuva e há música em meu coração 
Era mera ilusão o dia de chuva

                                               Ruy Belo (1933-1978)
                                               Todos os poemas 
 

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Colóquio Alves Redol e as Ciências Sociais - a literatura e o real, os processos e os agentes

  De 7 a 10 de Novembro, vai realizar-se um Colóquio sobre a vasta obra  de Alves Redol, um dos escritores portugueses mais lidos à sua época, apesar de muitas vezes desvalorizado por se integrar na corrente neo-realista, por alguns dos seus contemporâneos. 

Terá grande interesse com certeza para todos os que admiram a sua obra e para o dar a conhecer a novos leitores.

Terá lugar no Auditório 1 da Universidade Nova de Lisboa e no Museu do Neo-Realismo. 

 http://www.fcsh.unl.pt/eventos/documentos/ColoquioAlvesRedolPrograma.pdf







domingo, 4 de novembro de 2012

«Trafaria» de Isabel del Toro Gomes


 Trafaria


Adeus Tejo
Adeus Lisboa
Adeus Cristo-Rei 
Abençoando as margens
 

Com o fim da viagem
Vem a alegria
Do regresso
A casa.  



quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Monumento aos mortos da 1ª Guerra Mundial






No dia de Todos-os-Santos (última vez feriado), véspera de dia de finados, é justo relembrar os valorosos soldados portugueses que morreram na Grande Guerra de 1914-11918.


Porque a memória dos tempos e dos homens vai-se apagando, embora o monumento situado na Avenida da Liberdade a procure avivar. Muitos serão os que passam por lá na sua luta diária, e que nem sequer nela já reparam.
Mas a História vai-se repetindo,  de formas diferentes e é bom relembrar que a Alemanha declarou guerra a Portugal e ao mundo em tempos não muito longínquos.

 
Não se trata certamente da mesma Alemanha que agora nos impõe a Troika, os seus mandos e desmandos. Muita coisa mudou entretanto, o certo é que vivemos tempos de retrocesso, de tentativas de apagar o passado e de regresso a situações de caos económico, político e social, as mesmas que deram origem às duas grandes guerras mundiais.
É bom não esquecer, voltar a olhar para o passado e para as lições que ele nos dá!