quarta-feira, 19 de junho de 2019

Ponte Vasco da Gama




A Ponte Vasco da Gama é a mais bela ponte de Portugal (na minha opinião), a mais longa da Europa Ocidental e uma das mais extensas do mundo (12,3 Km de comprimento).
Lembro-me bem de quando estava em construção, em 1998, dos acidentes que houve (a morte de um dos engenheiros principais, duma criança que morreu afogada numa poça), da feijoada que fizeram aquando da sua inauguração, enfim, das críticas que gerou, como tudo neste país.



Agora ali está ela em frente às minhas janelas, sem a poder ver no entanto, por ter outro prédio-gigante em frente.
Quando se ilumina à noite então fica magnífica, o que só acontece nos dias festivos. Andamos pela rua e, de repente, aparecem aqueles veleiros brancos como navios fantasmas.
Gosto de fotografá-la e de imaginar que vou viajar atravessando-a rumo ao sul. 
O pensamento e a imaginação podem sempre viajar mais que o corpo, por vezes já cansado.




Pela grande ponte se chega
Pela grande ponte se parte
A viagem é longa
Como um belo dia de sol
Que nunca acaba.






segunda-feira, 17 de junho de 2019

As trotinetes


Nos tempos idos da minha infância, a trotinete era um brinquedo para meninos ricos brincarem nos jardins, nos pátios, etc.
Eu não tive nenhuma, nem isso fazia parte dos meus sonhos.
Não tinha inveja dos miúdos que podiam ter essas coisas. Preferia subir a uma árvore do Parque Eduardo VII ou saltar de um muro alto que lá havia. A adrenalina construía-se.
Não sei se agora continua a ser assim, nestes tempos de materialismo e consumismo. 



Andar nestas tábuas de 2 rodas deve dar um gozo danado. Ontem lá vi passar uns tantos todos contentinhos no Parque das Nações. Gostava de lhes perguntar para onde iam, se precisavam mesmo de gastar dinheiro naquele «transporte» ou se o faziam só para se divertir. Enfim, estão no seu direito...O que não está certo é deixar a trotinete num local qualquer, bem no meio do caminho dos outros cidadãos.

Legislação precisa-se com urgência.


quinta-feira, 6 de junho de 2019

A profissão de escritor


Estou a ler o livro O que eu ouvi na barrica das maçãs, que consiste numa selecção das Crónicas que Mário Carvalho escreveu nos anos 80 e 90, no Jornal de Letras e no Público.
Vale a pena ler estas crónicas, não só pela sua qualidade mas também pela actualidade dos seus assuntos, mostrando como a História é cíclica e alguns autores proféticos.

Os que acreditam que a História nunca se repete têm aqui um bom exemplo do contrário, a História repete-se muitas vezes e quase de idêntica maneira.


Aqui fica uma pequena passagem:

O que leva uma pessoa  escrever, a querer ser escritor? Há resmas e resmas de depoimentos a propósito. Vão do solene, com o ridículo das pompas («ai, esta divinal missão»), ao jocoso e airado, com as ligeirezas da pusilanimidade («deu-me para aí»), passando pelo espírito interventor, com a incomodidade do suor militante(«isto é preciso é que…». A melhor resposta ainda me parece a de Guerra Junqueiro, no prefácio d' A Velhice do Padre Eterno: Pela mesma razão por que o pinheiro faz resina, a pereira pêras e a macieira maçãs: é uma simples fatalidade orgânica.
(in Fatalidade Orgânica)

Nem mais, concordo plenamente.



sexta-feira, 31 de maio de 2019

Termas de Cabeço de Vide

Termas de Cabeço de Vide

Estou mais uma vez nas termas de Cabeço de Vide, onde as águas emanam de dentro da terra a uns cento e tantos metros de profundidade. Andaram por aqui os americanos, claro, a meter o bodelho e a dizerem que se houver água em Marte, será muito parecida com esta. O que faz de nós, que vimos a águas aqui, e aos alentejanos, os Marcianos do futuro.
Os gatinhos também vêm a águas termais, passeiam-se altivos pelo parque e à porta da residencial, onde são protegidos por um funcionário boa pessoa. Hoje foi com este felino que dividi o almoço.

Tenho vindo para estas termas para me tratar de uma rinite crónica que me apoquenta há 5 anos. As águas aliviam bastante as doenças respiratórias e outras, a mim têm-me feito bastante bem e gosto de tudo aqui.
Só há um inconveniente este ano: o restaurante a que costumávamos ir almoçar e jantar está fechado, por motivos de doença (ou de outro), tendo nós de ir aos grelhados ali no Parque em frente, onde se goza até mais do fresco das lonas e do fio de água que corre na ribeira.




A praia fluvial também ainda não está pronta, outra desvantagem porque aqui o calor aperta a sério, nos próximos dias.
Estava com alguma esperança de conseguir boas fotos de borboletas, elas andam por aí, mas até agora nada.
Fica a esperança, ainda estou no princípio dos tratamentos.



E quanto a bicharada, contento-me por tirar fotos aos muitos gatos que por aqui andam, protegidos aqui nas termas. E a alguns melros que cantam e assobiam logo pela manhã nas ramadas dos plátanos.



























segunda-feira, 27 de maio de 2019

Sua excelência, de corpo presente» de Pepetela


Pepetela, pseudónimo de Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, nasceu em 1941 em Benguela e é um dos mais importantes escritores angolanos. Recebeu o Prémio Camões em 1997, confirmando o seu lugar de destaque na literatura lusófona.
Neste livro, Pepetela faz uma crítica mordaz ao abuso de poder e aos sistemas de governo totalitários disfarçados de democracia, usando um sentido de humor inteligente, em que qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.
A ideia de colocar um presidente-ditador defunto no seu velório, num enorme salão cheio de flores, a ver todos os que lá vão (as suas várias mulheres e filhos…) e a recordar toda a sua vida, é uma ideia de génio que agarra o leitor logo ao primeiro parágrafo.
O ditador está morto, mas vê, ouve e pensa.

É um livro que se deve ler, pela sua actualidade e originalidade.


Somos de uma terra de mistérios, mas há limites.
Uma ideia estranha me martelava o cérebro morto ou quase. Porque ainda me fazia certa confusão estar morto, saber disso e pensar, o que foge a toda a racionalidade. Se o mundo fosse como sempre pensámos, esquecendo ou desconhecendo a tal outra dimensão.
(…)
Os ladrões tecem sempre muitos laços e escondem-nos bem, já devia o Maquiavel ter explicado aos pretendentes a políticos.

(capítulo nove).

segunda-feira, 20 de maio de 2019

A Borboleta de Odylo Costa, Filho



Odylo Costa, filho, nasceu em 1914 na cidade de S.Luis no Maranhão, e morreu no Rio de Janeiro em 1979.

Foi um jornalista, cronista, novelista e poeta brasileiro.


A Borboleta

De manhã bem cedo
uma borboleta
saiu do casulo.
Era parda e preta.

Foi beber ao açude.
Viu-se desntro da água.
E se achou tão feia
que morreu de mágoa.

Ela não sabia
-boba!- que Deus deu
para cada bicho
a cor que escolheu.

Um anjo a levou,
Deus ralhou com ela, 
mas deu roupa nova
azul e amarela. 

Odylo Costa, Filho in Brasil



quarta-feira, 15 de maio de 2019

«Trem de Ferro» de Manuel Bandeira


Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (Recife,1886 - Rio de Janeiro, 1968) 

Manuel Bandeira foi um poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro. 
É considerado como parte da geração de 1922 do modernismo no Brasil.



Quando vemos aqueles filmes antigos com comboios a carvão, perece-nos mesmo que ele diz «Café com pão café com pão» como diz Manuel bandeira neste seu engraçado poema. 
Há quem diga que também pode ser «Pouca terra pouca terra». De qualquer maneira já não os podemos ouvir para confirmar. Eu ainda andei num deles, que me levou do Porto para Ofir, onde havia uma Pousada da Juventude. Nunca mais me esqueci desta viagem mítica, ainda para mais porque ia carregada duma mala muito pesada, eu pequena com 15 anos, a mala grande e pesada. Mas lá consegui  chegar e valeu a pena o esforço. 


Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virge Maria que foi isto maquinista?
 
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
 
Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
 

Oô...
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
 
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matá minha sede
Oô...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no Sertão
Sou de Ouricuri
Oô...
 
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...



Fonte:
Antologia Poética. Rio de Janeiro: J.Olympo, 1976