quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

«Valsa dos dias» de Isabel del Toro Gomes





 Picos da Europa -Espanha

Valsa dos dias

Cada dia é apenas um dia
Nada mais que uma gota
Deste mar em que navegamos
Cheio de nada
Ou vazio de tudo.

Apenas um dia
De cada vida.

Nada mais que uma gota
Desta imensa chuva
Em que nos molhamos.

Apenas um dia
Minúscula malha da grande rede
Em que com desespero nos prendemos
À espera da vida por que lutamos.

Até que chega um dia
Apenas mais um dia
Das nossas vidas
Em que, por fim, morremos.
                                              
                                        Isabel del Toro Gomes

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

«Azul e verde» de Isabel del Toro Gomes






Azul e verde

Gostava de poder deixar
Os meus olhos aqui
Quando partisse para outro lado

Ficavam assim como estou agora
A olhar os campos, o céu e o mar
Espantados de tanto ver
Ofuscados de tanto ser

Ficariam aqui fixos no céu alto
Perdidos no mar que brilha
De tons verdes em ritmo de azul

E para onde quer que eu fosse
Caminharia às cegas pelas ruas
E só veria as coisas belas
Em fundo azul e verde.

                                                                  Isabel del Toro Gomes 


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

«Como se faz o poema» de Nuno Júdice

 

COMO SE FAZ O POEMA 

 

Para falarmos do meio de obter o poema,  

a retórica não serve. Trata-se de uma coisa simples, que não

precisa de requintes nem de fórmulas. Apanha-se

uma flor, por exemplo, mas que não seja dessas flores que crescem

no meio do campo, nem das que se vendem nas lojas

ou nos mercados. É uma flor de sílabas, em que as

pétalas são as vogais, e o caule uma consoante. Põe-se

no jarro da estrofe, e deixa-se estar. Para que não morra,

basta um pedaço de primavera na água, que se vai

buscar à imaginação, quando está um dia de chuva,

ou se faz entrar pela janela, quando o ar fresco

da manhã enche o quarto de azul. Então,

a flor confunde-se com o poema, mas ainda não é 

o poema. Para que ele nasça, a flor precisa

de encontrar cores mais naturais do que essas

que a natureza lhe deu. Podem ser as cores do teu 

rosto – a sua brancura, quando o sol vem ter contigo,

ou o fundo dos teus olhos em que todas as cores

da vida se confundem, com o brilho da vida. Depois,

deito essas cores sobre a corola, e vejo-as descerem

para as folhas, como a seiva que corre pelos

veios invisíveis da alma. Posso, então, colher a flor,


e o que tenho na mão é este poema que 

me deste.




                                                                        Nuno Júdice




Para a maioria das coisas da vida a sério, a Retórica não chega. É preciso a acção. E mais alguns elementos secretos.
Um grande e belo poema este, de Nuno Júdice.





                                                         Prímulas ou Primaveras

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

«Mãe...é para ti» de Isabel del Toro Gomes







 Mãe… é para ti

 mãe adorada
Jamais te esquecerei
Finalmente chegou
Ao fim a tua caminhada.

Mas o caminho continua
Não vás tu pensar
Que vais ficar parada,
Que era o que tu não querias
Nem por nada.

Parar, isso nunca
Morrer nem pensar
Isso nunca!
E De modo nenhum
Num fatídico dia treze!

E que frio de rachar
Que nos deixa transidos
De paixão e de dor!

Querida mãe
Jamais te deixarei só
Pelos atalhos do teu sonho
O sonho grande de amar
E ser amada
Da família, da paz e da harmonia
Esse imenso sonho
Que em cada dia te fugia
E em pó no ar se desvanecia…
E quanto tu mais atrás dele sorrias
Mais ele desaparecia…
Tanta fatalidade tanta tristeza!

 mãe
Jamais as tuas longas mãos
poderei apertar
o teu misterioso rosto beijar
o teu resistente corpo abraçar
não te digo adeus , só até logo!

 mãe
Para sempre Continuaremos  
a fazer compras
No lugar aprazado
Lado a lado
Numa imensa e infantil cumplicidade.
Agora está na hora
De irmos lanchar,
Agora é a hora maior:
Um chá dois bolos e uma torrada,
Que extraordinário momento de felicidade!
minha mãe adorada
contigo aprendi quase tudo
que tu fazias questão de me ensinar
mais e sempre mais…
que a vida mais nos tira do que nos dá…
mesmo assim é um pequeno prazer
Mesmo um dever…
Nunca disso esquecerei!

Minha mãe
Pois então, o caminho é para continuar…
Eu tão pequena
E tu à minha espera de braços abertos
Lá ao fundo da dor
À espera de mim
Para dos pesadelos da noite me consolar,
noite escura e longa…

minha mãe
que vida e que noite tão longas…
agora  que caminhas livre
finalmente em liberdade
ficas a saber, agora sim,
que todos te amaram
e jamais te esquecerão.
                                                                                      16 de Janeiro de 2014

                       




segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

NATAL EM LISBOA 2013





presépio concebido pelo professor de Expressão Plástica Paulo Costa com o apoio dos alunos e dos professores das AEC,da Escola EB1 Luisa Ducla Soares, numa parceria com a Plataforma LX, e a Associação Passeio Público


Lisboa meu Amor


vem à minha cidade 
Bela De lisboa
Onde vim ao mundo
Num anónimo 3º andar
Duma rua COM plátanos
Que espreitavam pelas janelas
Únicas testemunhas
Daquele destemido e
Desesperado acontecimento.



Vem á minha cidade
Bela De lisboa
Onde te espero
Desde sempre
Por Onde vou passando
E dando quedas à toa
Em qualquer buraco
E tu me amparas
Quando vais ao meu lado.




Vem à minha cidade
Bela De lisboa
Onde mesmo assim é natal
Neste ano da graça
De dois mil e tal.

                                                 Isabel del Toro Gomes, Natal 2013


 

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

«Nevoeiro» de Fernando Pessoa

 

 

Dia de nevoeiro, frio e chuva junto ao grande Tejo, que o torna enigmático.

Porque será que as pessoas nunca sabem se o nevoeiro vem ao seu encontro, impreciso, desleal, traidor?Vem sempre tão sorrateiro que, de repente, deixamos de ver o Mundo.

Será isso mesmo que ele nos quer comunicar?

Fernando Pessoa retrata como ninguém esta ausência de tudo.

Portugal a entristecer, a esvair-se pela terra adentro...

 

Nevoeiro 

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer-
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.

Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora!
Valete, Frates


Fernando Pessoa, Mensagem