quinta-feira, 16 de junho de 2011

«Primaveras Românticas - Versos dos vinte anos» de Antero de Quental



Antero de Quental, um dos maiores poetas portugueses, introdutor do socialismo em Portugal e figura complexa das nossas letras, também escreveu poemas de juventude, inocentes, cheios de frescura e de idealismo.
Eis o motivo da sua publicação, pelas próprias palavras de Antero:

Ter sido moço é ter sido ignorante, mas inocente.
..................................................................................................
Fomos todos assim, naquela encantada e quase fantástica Coimbra de há dez anos. Um sopro romântico, cálido mas balsâmico, fazia rebentar tumultuariamente as nossas primaveras em borbotões de flores................................................................

                                                         (1872)
Muitos desconhecem estes versos dos vinte anos de Antero, também eu fiquei surpreendida com a sua jovialidade e pureza. Dos muitos que me encantaram, escolhi alguns que penso representativos desta fase de Antero, muito jovem ainda:


Eu sou a concha das praias
Qua anda batida da onda
E, de vaga em outra vaga,
Não tem aonde se esconda.
Mas se um menino, da areia
A colher e a for guardar
No seio...ali adormece
E é ali seu descansar.
Pois sou a concha da praia
Que anda batida da onda...
Sê tu esse seio infante,
Aonde a triste se esconda.
............................................                                             

                                     in Pepa (1863)



Nós somos loucos, não somos?
D' esta louca poesia,
D' esta riqueza dos pobres
Que se chama fantasia!
..........................................................................
                                                                  
                                                          in Idílio Sonhado (1864)



 
À Guitarra

Três cordas tem a guitarra,
Uma d' ouro, outra de prata...
À terceira, que é de ferro,
Todos lhe chamam ingrata.

Ninguém faça ramalhetes
Com flores que hão de murchar...
Ninguém tenha cordas de ouro,
Se as não quer ver estalar!
....................................................
Das três cordas da guitarra
Uma chora, outra dá ais...
Bastou-me um amor na vida,
Um só amor e não mais!

                                       in Cantigas (1864)



                         Memorial a Antero de Quental, no Jardim do Príncipe Real, em Lisboa

terça-feira, 14 de junho de 2011

«Moinhos da aldeia da Pena» de Isabel del Toro Gomes

Moinhos da aldeia da Pena
Onde estão vossos moleiros?
De tanto pão que fizeram
Só resta a majestade
Tais gigantes com asas
Que não podem mais voar...



O vento continua a soprar
No alto desses montes
Mas os moinhos da aldeia da Pena
Lá continuam serenos imóveis
Lançando olhares nostálgicos
Por esses caminhos vermelhos de papoilas
Por onde dantes chegavam e partiam
Os burricos carregados de sacas

Agora
Só nós os visitamos
Na esperança de os encontrar
Com as mós a rodar
E as velas a esvoaçar
Ao vento.

terça-feira, 7 de junho de 2011

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Para os que gostam de gatos



O gato possui beleza sem vaidade,
força sem insolência,
coragem sem ferocidade,
todas as virtudes do homem
sem os seus vícios.

                                          Lorde Byron (1788-1824)


O gato é o único animal
que conseguiu
domesticar o homem.


                                             Marcel Mauss (1873-1950)

domingo, 5 de junho de 2011

Victor Hugo - Séc. XIX



Não são as máquinas
Que arrastam o mundo,
Mas sim as ideias.


                                                   Victor Hugo

sexta-feira, 3 de junho de 2011

«Avieiros» de Alves Redol

Alves Redol nasceu em Vila Franca de Xira em 1911 e morreu em Lisboa em 1969. Empenhado na luta de resistência contra o regime salazarista, fez da sua escrita uma forma de intervenção social e de luta.
O grande contador de histórias do povo, dá-nos nesta obra com admirável fidelidade e plasticidade a dolorosa faina dos pescadores do sável do rio Tejo. De tal forma, que o seu rosto se assemelha ao rosto dos personagens da sua obra, de todos os Zés,de todos os Tóinos, de todas as suas personagens gigantescas em capacidade de sofrimento e de sobrevivência.
Alves Redol foi mesmo viver para uma das mais conhecidas aldeias avieiras, a Palhota, para melhor conhecer a vida sofrida destes homens, mulheres e crianças, denominados pejorativamente «os ciganos do rio», como se não fossem gente. Ou «vagabundos do rio», hoje talvez uma designação envolvida em algum romantismo e lirismo, ausente naquela época. 

Foi nesta casa que Alves Redol permaneceu e escreveu o seu livro «Avieiros». Este não é o Malagueiro, o cão do pequeno e malogrado João da Vala, cujo nascimento marca o início da obra e que deixa nela uma marca indelével, pois nasce e morre no saveiro que era a sua casa, deixando um enorme vazio na narrativa.







Nestas imagens tiradas noutra localidade avieira, Escaropim, também citada na obra, podem ver-se como eram aproximadamente as barracas dos avieiros, feitas de zinco e de palha, bem como os saveiros que eram as suas habitações e locais de trabalho, enquanto não arranjavam madeiras e outros materiais.
Muitas outras localidades são cenários desta obra, ou apenas citadas, como Muge, Valada, etc, hoje bem diferentes e com bons equipamentos ribeirinhos, como o belo Parque Natural de Valada.





-Assim arrenegado ficas mais velho, Tóino!
-Devia ficar velho depressa e morrer depressa. Que anda a gente aqui a fazer? Não me dizes?!...
-À espera de melhores dias.
Uma semana depois lançam a primeira rede à água. Uma semana depois sabem todos que desapareceram onze barracas e que a palha das outras começa a apodrecer.

À espera de melhores dias, é o destino de toda a humanidade, afinal, ontem como hoje! A nossa condição humana!



quarta-feira, 1 de junho de 2011

«Sonho de criança» de Isabel del Toro Gomes

Hoje, Dia da Criança, um poema para aquelas que não podem ter infância!
    


Sonho de criança
               

Sonho...

Uma criança que brinca

Uma bola no ar

Um papagaio a voar

Um barco à vela ao fundo

Uma concha na areia

Um pensamento profundo

Que leva uma sereia

A um palácio

No fundo do mar.