terça-feira, 18 de janeiro de 2011

«O Principezinho» de Antoine de Saint-Exupéry



Em tempos tão conturbados e de tanto egocentrismo como aqueles em que vivemos, vale a pena relembrar esta obra magnífica e o seu autor, Antoine de Saint-Exupéry, que, não obstante ser filho de condes, serviu o seu país durante a Segunda Guerra Mundial, acabando por morrer num desastre de aviação numa missão de reconhecimento, aos 44 anos.
Apaixonado desde a infância pela mecânica e pelos aviões, este escritor francês começa a sua carreira de piloto em 1926, que acaba por lhe ser fatal, morrendo em 31 de Julho de 1944. O seu avião só foi encontrado cerca de 50 anos depois.
Ficou mundialmente conhecido como autor do livro «O Principezinho», para mim, uma obra-prima e um dos livros mais emocionantes e verdadeiros de sempre. O mais impressionante é o facto de Saint-Exupéry o ter escrito em 1943, em plena Guerra Mundial, em tempos de enormes atrocidades, enquanto estava exilado nos EUA.


Como foi possível a este escritor, no meio duma Guerra Mundial, manter o seu espírito criativo e imaginar a personagem sensível e maravilhosa do Principezinho ? Ou talvez fosse por isso mesmo que o inventou, pelo facto do mundo e dos homens estarem tão carenciados e privados de beleza e de amor.
Todos os capítulos são maravilhosos, mas escolhi um excerto do capítulo XVI, por falar da Terra:

O sétimo planeta foi, portanto, a Terra.
A Terra não é um planeta qualquer. Tem cento e onze reis (contando, claro está, com os reis pretos), sete mil geógrafos, novecentos mil homens de negócios, sete milhões e meio de bêbedos, trezentos e onze milhões de vaidosos, ou seja, aproximadamnte, dois biliões de pessoas grandes.

E podíamos continuar por aí fora a lista de Saint-Exupéry, mas é melhor ficarmos assim.

«Se vieres, por exemplo, às quatro da tarde, a partir das três começarei a sentir-me feliz.»  (Principezinho)





quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

José Saramago




José Saramago, Prémio Nobel 1998
 
 
Visitei no dia 18 de Junho o edifício da Fundação José Saramago, instalada na famosa Casa dos Bicos, no Campo das Cebolas. Precisamente no dia em que passaram 4 anos após a sua morte.


Só agora! Mas mais vale tarde do que nunca!
O dia estava cheio de sol, o autocarro ondulava e saltitava que nem um barco no mar alto pelo meio dos inúmeros obstáculos do caminho, mas lá chegámos, a minha amiga e eu.
Valeu a pena, no entanto. O edifício é muito bonito e ricamente decorado, com os seus mármores, madeiras ricas, vitrais... Também gostei das exposições e vídeos.

Aproveito para colocar aqui este power-point que me enviaram e de que gostei muito.
Palavras com sentido, cada vez com mais sentido!xa.yimg.com/kq/groups/13772410/1155245910/name/Saramago.pps


sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

«Perto do Coração Selvagem» de Clarice Lispector






Primeiro livro de Clarice Lispector, escrito aos 19 anos apenas, tornou-se uma obra decisiva nos novos caminhos da ficção brasileira  e elevou a sua autora ao primeiro plano das letras do Brasil, seu país de acolhimento.
Na realidade, sendo de origem judaica e tendo nascido na Ucrânia em 1920 , quando a sua família foi perseguida durante a Guerra Civil Russa de 1918-1921, antes da viagem de emigração para o Brasil, aí chegou com apenas 2 meses de idade. Por iniciativa de seu pai, todos mudaram de nome, à excepção da irmã Tânia, passando Haia (seu nome verdadeiro) a chamar-se Clarice..
 Clarice Lispector começou a escrever logo que aprendeu a ler, na cidade do Recife, onde passou parte da infância. Falava vários idiomas, entre eles o francês e inglês. Cresceu ouvindo em casa o idioma materno, o iídiche.
Revelando nesta obra uma penetrante capacidade de análise psicológica, grande domínio da linguagem,  força e  originalidade expressivas, Clarice Lispector afirma desde logo o seu talento para a escrita.
Faleceu com cancro no dia 9 de dezembro de 1977, um dia antes de seu 57° aniversário.
Sendo ela conhecedora e falante de várias línguas, escreveu sempre em língua portuguesa, a sua língua do coração, como ela afirmava.

«Amo esta língua. Não é uma língua fácil.É um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve querendo roubar às coisas e pessoas a sua primeira camada superficial. É uma língua que por vezes reage contra um pensamento mais complexo.»
















domingo, 2 de janeiro de 2011

Ano Velho Ano novo

Para todos que vão seguindo este blogue, que não deixem que se apaguem o fogo da vida e as luzes que viram brilhar nos céus no início do ano novo.
Muita luz, muita paz e muitas leituras para 2011!


terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Bom Natal a todos

Para todos os meus leitores e amigos, faço votos que tenham um Natal Feliz, com a prenda principal que é a Paz e amor. E a Poesia também!




Chove. É dia de Natal.


Lá para o Norte é melhor:

Há a neve que faz mal

E o frio que ainda é pior.



E toda a gente é contente

Porque é dia de o ficar.

Chove no Natal presente.

Antes isso que nevar.



Pois apesar de ser esse

O Natal da convenção,

Quando o corpo me arrefece

Tenho frio e Natal não.



Deixo sentir a quem quadra

E o Natal a quem o fez,

Pois se vai mais uma quadra

Sinto mais Natal nos pés.



Não quero ser dos ingratos

Mas, com este obscuro céu,

Puseram-me nos sapatos

Só o que a chuva me deu



Fernando Pessoa



quarta-feira, 24 de novembro de 2010

«Elogio da Loucura» de Erasmo



Nestes tempos e lugares em que todos parecem estar loucos, ou fazer de nós loucos, é talvez pertinente relembrar esta obra escrita por Erasmo de Roterdão.
«O mundo é um palco e a vida um jogo de som e de fúria, representado por um louco» - esta metáfora é-nos cada vez mais muito familiar, ressoa na literatura europeia e surge com intensidade na obra de Erasmo.
No turbilhão de revoltas, guerras e contendas religiosas dos fins do século XV, este monge e reformador sensato e moderado, resolve fazer, em 1509, o elogio da loucura, da estultícia e da ignorância. Claro que ele o faz de forma irónica, num jogo de duplicidade genial, como o mágico que nos mostra a realidade sob a capa do irreal, o sério escondico sob o jocoso.
Se eu tivesse lido este livro há uns meses atrás, de certeza que tinha feito outras opções muito mais vantajosas. Ou talvez não!
Aqui ficam alguns excertos, para vos aguçar o apetite:
Os mortais têm a meu respeito opiniões díspares, e não ignoro o mal que se ouve dizer da loucura, mesmo entre os loucos. No entanto, sou eu, e eu só, quem alegra os deuses e os homens.
Sou sempre igual a mim própria e nunca uso de disfarce, como os que pretendem passar por sábios e se passeiam como macacos vestidos de púrpura ou asnos cobettos com uma pele de leão.
Instante a instante, a vida seria triste, aborrecida, enfadonha,insípida, insuportável, se a ela não se misturasse o prazer, isto é, a Loucura. Poderia aqui invocar o testemunho de Sófocles, poeta jamais suficientemente louvado, que diz a meu respeito: «Quanto menos prudência e sabedoria maior a felicidade».

Para quê  prudência e  sabedoria, realmente? Atiremo-nos de cabeça para a Loucura e sejamos todos felizes!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

António Souto, «O Tempo das Palavras»


António José Souto Marques nasceu em Angeja, Albergaria-a-Velha em 1961, é Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas e pós-graduado em Teoria e Criação Literária. Entre outras funções, foi professor em França, leccionando neste momento em Lisboa. É autor de Arcanas Carícias, Na Lavra do Dizer e Caprichos, colaborou em várias publicações e publicou em Setembro deste ano O Tempo das Palavras, livro de poemas, em parceria com outro poeta, Armindo S.
A poesia de António Souto reflecte as suas vivências, as suas emoções, os seus pensamentos através de palavras vivas, que têm o poder de nos atrair e de nos contagiar. É uma poesia que nos transmite de uma forma simples e verdadeira os mistérios da vida, a magia do quotidiano, como o poema que vou transcrever aqui, dedicado às suas filhas, de que gostei especialmente:

                                                    
Para a Mariana e Margarida

Nasceu o sol de madrugada só para mim
ia alta a noite e o vento cirandava
grávido de dor e cor em frenesim
que o desejo da espera revelava

pouco a pouco o contorno se acentua
aconchego de capricho que se tem
resplendor de beleza inocente e nua
com rosto e nome agora que convém

saber-vos assim florindo ao ritmo dos dias
cercadas de mimos, requebros, fantasias
cuidando que o mundo é todo vosso

e nestes versos celebrar-vos a vida
a sorte oculta que sabeis comedida
no vingar de um sonho agora nosso.

                                       António Souto, in O Tempo das Palavras