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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Saul Dias




Pseudónimo de Júlio Maria dos Reis Pereira, irmão do poeta José Régio, Saúl Dias nasceu em Vila do Conde em 1902. Formou-se em Engenharia Civil, frequentou a Escola de Belas-Artes do Porto, realizando em Portugal várias exposições individuais   de pintura e desenho. Colaborou artisticamente em diversas revistas e jornais, nomeadamente a Presença,a cujo grupo pertenceu como poeta e como artista plástico.
A sua poesia caracteriza-se por uma grande delicadeza e pureza de expressão.
Achei muito curioso este poema, por me identificar com ele: também eu tive que eliminar da minha vida, progressivamente, o café, o fumo, e muitas outras coisas. Mas há sempre muito que fica ainda para viver, para além destes pequenos deleites da vida.

Álcool, Fumo e Café

Não mais o álcool,
não mais o fumo,
de azulado rumo,
nem o café.
Resta-me a fé
num áureo aprumo.
Não me consumo.
Sei como é.

Os nervos cansam
e vão partir-se.
A voz de Circe
ouço-a ainda...
E, mais mais linda,
ainda me chama
e, embora lama,
quero-lhe ainda.

Mas quero quietos
os meus sentidos,
comprometidos
em ascensões.
As sensações
hei-de chamá-las,
purificá-las
com comunhões.

Resto sedento,
desalentado...
Quem a meu lado
no funeral?
Negro portal
hei-de quebrá-lo.
Cantar de galo
sobre o coval.
..................

De qualquer forma
sigo o meu rumo,
num áureo aprumo,
cheio de fé.
Sem o café,
sem o tabaco, cortar o opaco
sei com é.

                             in «Tanto»