Mostrar mensagens com a etiqueta Ruy Belo. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Ruy Belo. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

«Ah, a música» de Ruy Belo



Para ti, querida Susana, um belo poema de Ruy Belo, de que  tanto gostas. E eu também.
Para os dias de chuva! 
Para todos!


Ah, a música


Quem terá deixado esquecida 
Esta música ouvida num canto da rua?
Ninguém de quem passa nela repara
No entanto - é ela - faltava no dia de chuva
No meu dia de chuva?
Meu seria decerto este dia
Pois por mais precário que eu seja
Nenhuma chuva fora podia
Cair se acaso em mim não caísse
Cai chuva e há música em meu coração 
Era mera ilusão o dia de chuva

                                               Ruy Belo (1933-1978)
                                               Todos os poemas 
 

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

«Uma Árvore na Minha Vida» de Ruy Belo



Ruy Belo, mais um grande poeta que morreu precocemente aos 45 anos (parece que os tiranos têm vidas mais longas!), nasceu em   São João da Ribeira, Rio Maior, em 1933, e morreu em Queluz, em 1978. 
A sua obra foi organizada em três volumes, sob o título Obra Poética de Ruy Belo, em 1981, tendo sido considerada uma das obras cimeiras da poesia do século XX, apesar da brevidade da vida deste poeta e ensaísta.
Diz-se que todos os homens devem plantar uma árvore durante o seu tempo de vida, por isso escolhi este poema:


UMA ÁRVORE NA MINHA VIDA


Não sei um dia mas alguma coisa me doía
ou talvez não doesse mas havia fosse o que fosse
Era isso sentia a grande falta de uma árvore
e pensei plantar em seguida uma árvore na minha vida
uma árvore ouvida sempre que me sentisse só
e mostrasse ela só na face a compreensão que mais ninguém mostrasse
mesmo que não me queixasse fosse por pudor ou fosse pelo que fosse
Era mesmo uma árvore que me faltava
precisava de sombra mais do que vivia eu envelhecia
não dispunha da companhia de ninguém
e far-me-ia decerto bem conhecer gente nova
gente que se renova no alto de um tronco forte
que não sabe da morte que floresce ou sorri
..........................................................................................................
Tudo mas tudo me sobressalta cansaço ou mentira
a palavra demora há falta de gente
um ramo inocente que me dê a mão
que aparado aproveite para o caixão quando um dia morrer
que eu possa queimar e que me dê lume
Que a sombra serena de uma árvore mesmo sem nome
facilmente se afaça a submeter-se a face
A árvore é vária e resume compaixão ternura
é humana e dura não há nada melhor
Tragam-me a árvore seja ela qual for