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sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Natal 2018






Todos os anos há um dia especial a que chamamos dia de Natal, o dia 25 de Dezembro, perto do solstício de inverno (22 de dezembro).
Os pais contam às crianças que há muito muito tempo, num país longínquo, numa noite muito escura, apareceu um anjo a uns pastores que lhes disse que seguissem uma estrela muito brilhante.
Essa estrela indicava que tinha nascido um menino chamado Jesus, em Belém, que estava deitado numa manjedoira. E que esse menino tinha vindo ao mundo para nos salvar.

O resto da história não a vou contar, pois é longa e complicada.

O facto é que todos os anos, que já são muitos, me interrogo nesta época natalícia, para que nasceu esse menino Jesus na realidade, já que os problemas neste mundo não melhoram nada, a pobreza aumenta, as guerras continuam devastando o nosso planeta, há cada vez mais violência.

O Natal de 2018 infelizmente não vai ser melhor do que os anteriores, os falsos brilhos e o desperdício continuam.
Para que nasceu um dia esse menino chamado Jesus, afinal?
Para convencer as crianças que têm de se portar bem para receberem muitos brinquedos? 
Não seria melhor dizer-lhes que foi para tornar o nosso mundo melhor, mais justo, mais digno para todos, com menos desperdício, menos poluição?




Natal 2018

As árvores já brilham
Cheias de estrelas de Natal
Bolas douradas, verdes e vermelhas
Grinaldas de todas as cores
Cobrem as fachadas e as montras
E as pessoas fazem compras
De objectos estranhos
Tablets, computadores cheios de teclas
Qualquer coisa que tenha um écran
Onde aparecem coisas estranhas
E onde se podem receber ou enviar palavras
Que deixaram de ter sentido
Que são códigos estranhos
Para muitos enigmas indecifráveis.



Nos dias seguintes tudo se desvanece
As guerras continuam
Há protestos e violência
E nas ruas dantes iluminadas
Erguem-se agora  novos muros.














segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

«POema do Menino Jesus» de Alberto Caeiro






presépio em frente da Igreja de Moscavide, Dezembro de 2017

Poema do Menino Jesus


Num meio-dia de fim de primavera
Eu tive um sonho, como uma fotografia.
Eu vi Jesus Cristo descer à terra.
Ele veio pela encosta de um monte,
tornado outra vez menino,
a correr e a rolar-se pela erva
e a arrancar flores para as deitar fora
e rir de modo a ouvir-se de longe.

Ele tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
de segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
com flores e árvores e pedras.
No céu, Ele tinha que estar sempre sério
e de vez em quando de se tornar outra vez homem
e subir para a cruz.
Estar sempre a morrer
com uma coroa toda à roda de espinhos
e os pés espetados por um prego com cabeça,
e até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe como as outras crianças.

O seu pai era duas pessoas,
um velho chamado José, que era carpinteiro.
Não era pai dele;
o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo.
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala em que
ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
e nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!





Um dia que Deus estava a dormir
e o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
e deixou-o pregado na cruz que há no céu
e serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.

Hoje Ele vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso natural. 
Ele limpa o nariz no braço direito,
Ele chapinha as poças de água,
Ele colhe as flores e gosta delas e esquece-as. 
Atira pedras aos burros,
rouba fruta dos pomares
e foge a chorar e a gritar dos cães.
E porque sabe que elas não gostam
e que toda a gente acha graça,
Ele corre atrás das raparigas
que vão em ranchos pelas estradas
com aquelas bilhas nàs cabeças
e levanta-lhes as saias.

A mim [...] ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
quando a gente as tem na mão
e olha devagar para elas.




Depois cansado, o menino Jesus adormece nos meus braços.
Levo-o ao colo para dentro de casa
Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

Damo-nos tão bem um com o outro
na companhia de tudo,
que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos, os dois com um acordo íntimo
como a mão direita e a esquerda.
Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens.
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ele ri dos reis e dos que não são reis,
e tem pena de ouvir falar das guerras,
dos comércios, da violência e dos navios
que ficam fumo no ar dos altos-mares.
Porque ele sabe que a tudo isso falta àquela verdade
que uma flor tem ao florescer
e que anda com a luz do sol
a variar os montes, vales,
fazem doer aos olhos os muros caiados.

Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
e como seguindo um ritual muito limpo
e todo materno até ele estar nu.




Ele adormece dentro da minha alma
e às vezes acorda de noite
e brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
põe uns em cima dos outros
e bate as palmas sozinho
sorrindo para o meu sono.
     
Quando eu morrer, filhinho,
seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
e leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
e deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
que tu sabes qual é.

Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba,
não há de ser ela mais verdadeira
que tudo quanto que os filósofos pensam
e tudo quanto as religiões ensinam!


                                                      Alberto Caeiro (heterónimo de Fernando Pessoa)
                                                      VOZ: António Abujamra