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sábado, 23 de janeiro de 2021

 "Nós temos de conseguir uma resposta e direção contrária à covid-19, ter respeito pelos outros e acatar essas instruções [de prevenção], tão simples", dadas pelas autoridades de saúde, disse o autor à Lusa.

O escritor moçambicano cumpre hoje o 10.º dia de isolamento domiciliar, desde que foi diagnosticado positivo para o novo coronavírus, apresentando-se com sintomas leves, entre cansaço e dores musculares.

Mia Couto alertou para as implicações "profundíssimas" da covid-19 a nível social, económico e humano, além da saúde, considerando que a doença "empurra para uma situação de agonia, solidão e abandono".

"Quando me comunicaram, o medo que me assaltou foi o de um tipo de morte solitária, foi essa a construção que fiz", contou Mia Couto.

"Nós já temos vacina. Chama-se máscara, chama-se distanciamento. Portanto, temos as vacinas que serão, até daqui a alguns meses, a nossa arma principal", declarou (à Lusa).



Mia Couto, que fique bem porque é necessário junto de nós.


O Espelho

Esse que em mim envelhece
assomou ao espelho
a tentar mostrar que sou eu.
Os outros de mim,
fingindo desconhecer a imagem,
deixaram-me a sós, perplexo,
com meu súbito reflexo.
A idade é isto: o peso da luz
com que nos vemos.

No livro “Idades Cidades Divindades


Felizmente, no dia 27 de Janeiro, fomos informados que Mia Couto já se encontra recuperado.
Uma grande notícia.


quarta-feira, 21 de setembro de 2011

«Tradutor de chuvas» de Mia Couto


Ofereceram-me este livro e foi mais uma descoberta: Mia Couto também escreve poesia. Porque poeta sempre ele foi, a sua escrita é toda ela um longo poema. Gostei muito, é um livro inspirador, em que se atinge a beleza completa pela simplicidade, ou vice-versa:
Escolhi alguns poemas que me tocam mais, entre tantos outros:

Flores
Ninguém
oferece flores.

A flor,
em sua fugaz existência,
já é a oferenda.

Talvez, alguém,
de amor,
se ofereça em flor.

Mas só a semente
oferece flores.





Sementeira

O poeta
faz agricultura às avessas:
numa única semente
planta a terra inteira.

Cada lâmina de enxada
a palavra fere o tempo:
decepa o cordão umbilical
do que pode ser um chão nascente.

No final da lavoura
o poeta não tem conta para fechar:
ele só possui
o que não se pode colher.

Afinal,
não era a palavra que lhe faltava.

Era a vida que ele, nele, desconhecia.


                                                Mia Couto, Tradutor de Chuvas