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domingo, 5 de maio de 2019

José Régio

Estive a reler e a recordar «Mas Deus é grande» de José Régio, o poeta que foi professor de Português e Francês, não porque quisesse realmente ser professor, mas por obrigação, para poder subsistir e tornar-se independente. Mesmo sendo filho de ourives.

Foi em Vila do Conde que José Régio nasceu, filho do ourives José Maria Pereira Sobrinho e de Maria da Conceição Reis Pereira, e aí viveu até acabar o quinto ano do liceu. Ainda jovem publicou os seus primeiros poemas nos jornais vilacondenses A República e O Democrático, dirigidos por seu tio e padrinho António Maria Pereira Júnior.
Depois de uma breve e infeliz passagem por um internato do Porto (que serviu de matéria romanesca para Uma gota de sangue), aos dezoito anos foi para Coimbra, onde se se licenciou em Filologia Românica, em 1925 com a tese As correntes e as individualidades na moderna poesia portuguesa. Esta tese na época passou um pouco ignorada, uma vez que valorizava poetas quase desconhecidos na altura, como Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro; mas, em 1941, foi ampliada e publicada com o título Pequena história da moderna poesia portuguesa.


Foi em 1927 que José Régio começou a leccionar Português e Francês num liceu no Porto, até 1928, e a partir desse ano em Portalegre, onde ensinou grande parte da sua vida no então Liceu Nacional de Portalegre (atual Escola Secundária Mouzinho da Silveira) de 1929 a 1962, ano em que se aposentou do serviço docente. Manteve-se em Portalegre até 1966, quando regressou definitivamente a Vila do Conde. 

Em 1927, com Branquinho da Fonseca e João Gaspar Simões, fundou a revista Presença, que veio a ser publicada, irregularmente, durante treze anos. Esta revista veio a marcar o segundo Modernismo , que teve como principal impulsionador e ideólogo José Régio, que também escreveu em jornais e revistas como Seara Nova, Ler, etc.


Em Coimbra, no Café Central, reunira-se o grupo de jovens da Presença, incluindo Branquinho da Fonseca e João Gaspar Simões , que José Régio também frequentava.
Depois, nos seus anos de Alentejo, Régio presidira a nova tertúlia no Café Central, agora de Portalegre, que integrava entre outros o médico Feliciano Falcão, o pintor Arsénio da Ressurreição e o capitão Carlos Saraiva, entre outros. 
Já nos últimos anos da sua vida, Régio foi de novo a figura tutelar de uma tertúlia que reunia semanalmente no Diana-Bar da Póvoa de Varzim, ou no restaurante Marisqueira em A-Ver-o-Mar (o "grupo dos sábados") a que compareciam regularmente Manuel de Oliveira, Luis Amaro de Oliveira, Orlando Taipa, Flávio Gonçalves e Pacheco Neves e a que se juntou Agustina Bessa-Luis


Durante o tempo que passou no Alentejo, e para apoiar as suas apetências de coleccionador, Régio desenvolveu um pequeno negócio de comércio e restauro de antiguidades, e empregou artífices por sua conta para recuperar as suas próprias peças e aquelas que vendia. 
Veio assim a reunir uma extensa e preciosa coleção de antiguidades e de arte sacra alentejanas que vendeu à Câmara Municipal de Portalegre em 1964, com a condição de esta comprar também o prédio da pensão onde vivera e de o transformar em casa-museu. Providenciou de igual modo para a sua casa de Vila do Conde e hoje em dia ambas as casas de Vila do Conde e de Portalegre são casas-museu, onde se expõe um rico acervo de arte sacra e de arte popular, as duas predileções artísticas de Régio.




Como escritor, José Régio é considerado um dos grandes criadores da moderna literatura portuguesa. Refletiu em toda a sua obra problemas relativos ao conflito entre o Homem e Deus, o artista e a sociedade, o Eu e os outros. Construiu a sua poderosa arte poética e ficcional num tom misticista e num intimismo psicologista com que analisava a problemática das relações humanas e da solidão do indivíduo, procedendo ao mesmo tempo a uma dolorosa autoanálise. 

A escolha dum poema foi difícil, mas aqui vai um que me tocou especialmente.


Ode

Nuvens tocadas pelos ventos, ide!
Lá para além de vós, o céu não passa.
Contra as rochas erguidas e paradas,
Desfazei-vos na vossa eterna lide,
Ondas, flocos de espumas encrespadas…


Que a praia, não há onda que a desfaça.

Desfolhai-vos nas asas do tufão,
Rosas inda em botão esta manhã,
Folhas aos ventos troncos arrancadas!
Cinzas levais, só cinza!, em vossa mão,
Tempestades futuras e passadas!



Sobre a semente, a vossa fúria é vã.

Decorrei, dias meus já sem sentido
Senão o de ficar, que não é vosso.
Dissolvei-vos no ar, mãos revoltadas!
Gestos, formas, visões, sons, pó erguido,
Voltai ao pó das tumbas ignoradas!...

Que não se apaga a luz de além do poço.

Sou, como as nuvens sou que nada são,
E as ondas frágeis como vãs quimeras,
E as pétalas e as folhas desfolhadas,
E as formas fogo-fátuos da ilusão…
Correi, lágrimas fúteis enganadas!

Mas tu canta, minh'alma!, enquanto esperas.

                                                     in Mas Deus É Grande



















sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

«Há mais mundos» de José Régio


José Régio (1899/1969)

José Régio (pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira) foi um poeta, novelista e dramaturgo português que nasceu em Vila do Conde, em 1899. Formou-se em Filologia Românica em Coimbra e foi colocado primeiramente no Liceu Alexandre Herculano, no Porto; depois em Portalegre, no Liceu Mouzinho de Albuquerque.
Colaborou na revista literária coimbrã Presença, na Seara Nova, no Mundo Literário e Primeiro de Janeiro.
O seu primeiro trabalho literário, reunido em volume, e assinado ainda pelo seu verdadeiro nome, foi a sua tese de licenciatura, que tinha por título «As Correntes e as Individualidades da Moderna Poesia Portuguesa» (1925). No mesmo ano saiu o seu primeiro livro de versos, Poemas de Deus e do Diabo, de que saiu uma segunda edição (1933), ambas esgotadas. Foi nesta obra que José Régio se revelou um dos grandes poetas da sua época.
Seguiram-se muitos outros livros de poesia, entre eles Biografia, As Encruzilhadas de Deus, Fado, Mas Deus É Grande.
No romance e na novela revelou-se também o seu mérito, dedicando-se ainda ao teatro : a sua peça Brunilde ou a Virgem Mãe foi representada no Teatro Nacional D. Maria II (1947). Mais tarde, publicou a peça histórica El-Rei Dom Sebastião (1948).


A multidão é volúvel. Os homens gostam de experimentar, de variar, de trair; breve se enfastiam das admirações da véspera, ou aborrecem os ídolos que ainda há pouco incensaram.
                                  
Os três vingadores Ou nova história de Roberto do Diabo, cap.VI in Há mais Mundos, ed. Círculo de Leitores 





sexta-feira, 26 de outubro de 2012

José Régio

José Régio (pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira) nasceu em Vila do Conde em 1901 e viria a falecer na sua terra natal em 1969, embora tenha vivido 34 anos em Portalegre, pois aí foi colocado como professor em 1928, no liceu Mouzinho da Silveira.



















Foi viver para uma pensão e, por necessidade de espaço, foi ocupando todos os quartos, tornando-se o único hóspede. É nesse local que se encontra hoje a Casa-Museu José Régio. Em 1965 vende a sua coleção de antiguidades e de arte sacra (de que se destacam os seus  Cristos) à Câmara Municipal de Portalegre, com a condição desta adquirir a casa e transformá-la em Museu, o que só veio a acontecer em 1971.


 José Régio foi um homem de todas as artes, versátil, revelando o seu talento  em quase todos os géneros literários e artísticos: poesia, teatro, romance, ensaio, crónica, jornalismo, desenhador, pintor, etc.
Foi talvez como poeta que ficou mais conhecido do grande público. É na poesia que vai desenvolver  o seu grande tema: o confronto consigo próprio e a procura da sua identidade, chegando mesmo a ser atacado de umbiguismo (de um verso célebre das Encruzilhadas).


 Poeta sou! cumpro o meu Fado, estranho
Como o dum santo ou um louco:
Só posso dar de mais ou muito pouco,
Que é tudo quanto tenho.


                              José Régio, in Filho da Homem


Deu-nos de mais, de certeza!
Merece continuar a ser lido e lembrado.
E revisitado no seu Museu em Portalegre.