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quarta-feira, 8 de maio de 2019

A República dos Corvos de José Cardoso Pires


José Cardoso Pires é um dos nossos maiores escritores, com uma obra vasta e uma escrita perfeccionista e eivada de ironia. 
Dediquei algum tempo a reler algumas das suas obras, pois já desde os anos 90 que as não lia ( O Hóspede de Job e agora A república dos Corvos, esta última na edição do Círculo de Leitores).
Nos anos 60, 70 e 80 foi um escritor de grande divulgação, com as obras O Delfim (1968), A Balada da Praia dos Cães (1982), ou Alexandra Alpha (1987).



Vale a pena ler ou reler este grande escritor português, que parece esquecido no emaranhado de tanta mediocridade «literária».
Corvos é um pássaro que quase todas as crianças e jovens desconhecem, pois no nosso país já há poucos, ao que parece. Encontrava muitos em França, que se ouviam bem à distância. 
Antigamente também devia de haver bastantes, como prova a Fábula de La Fontaine A Raposa e o Corvo.
Será que é mais uma ave em extinção?

O conto A república dos Corvos é uma história muito bem contada, mas foi do conto Dinossauro Excelentíssimo que retirei este excerto:


O Reino naquela época tremia de frio e desconfiança. Tinha-se deslocado mais para a beira-mar, não se sabe bem porquê mas calcula-se: fome. A fome vinha do interior e varria tudo para o oceano.
(…)
Os restantes, os que não conseguiam enganar os vendavais, fugiam de roldão pelo país, atravessando aldeias e planícies, vinhas e repartições, hoje fazendo família neste ponto, amanhã mais naquele, até se verem diante do mar, acossados. Uma vez ali, entregavam o corpo aos caranguejos ou faziam como o mexilhão: Pé na rocha e força contra a maré. Daí o nome de Reino do Mexilhão que lhe pôs a geografia em homenagem a esse marisco mais que todos humilde, só tripa e casca.


Quando o mar bate na rocha
quem se lixa é o mexilhão
(…)


        biblioteca municipal em Vila-de-rei (com placa danificada)

quarta-feira, 18 de julho de 2012

«Dias comuns II - A Idade do Malogro» de José Cardosos Pires

 https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwc-SGuXsmhu2Wk4WPcVpuQfAT2ss7NMxHtaxXnnsFvSMbo4zPvV9-F9uOuTPMUT-TZWnhAWtBAryPQ-jptyadCOIJwgcos1gi-Zj23Wckvht1vvILtUzSKHDIsBLM3bRwvYB8qO9Q4A/s400/VIEIRA_DA_SILVA_EM_CASA.jpg

José Cardoso Pires escrevia diários todos os anos e todos os dias! Um verdadeiro diarista é assim, capaz de me meter inveja!
Depois relia-os, passados anos, retirava alguns excertos que queria preservar e...queimava-os, atitude também corajosa de que muitos não se poderão vangloriar!
Os dia Comuns estão recheados de histórias e episódios da vida real cómicos, embora transpirando a atmofesra sórdida e mafienta dos tempos inglórios do fascismo e da censura aos escritores e artistas em geral.
Esta é uma delas:


Soube hoje que o Salazar escreveu pessoalmente ao embaixador de Portugal em França a pedir-lhe que organizasse uma homenagem, ou coisa parecida, à pintora Vieira da Silva (que é agora cidadã francesa em virtude do marido ter adquirido essa nacionalidade, depois de lhe negarem a cidadania portuguesa por ser judeu e apátrida).
O embaixador, claro, rata sabida, mandou consultá-la por portas travessas.
Mas a grande pintora europeia limitou-se a responder.
-Salazar? Quem é? Não conheço. Não é das minhas relações.