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sexta-feira, 6 de abril de 2012

«Poemas escolhidos» de Jorge Luis Borges



Este livro de «Poemas Escolhidos» é um dos Cadernos de Poesia, editado pela Publicações dom Quixote, em 1971. Portanto uma preciosidade. Não só porque os poemas publicados foram escolhidos pelo próprio autor e incluídos na sua obra Antologia Personal (1ª edição, 1961), como também porque foram traduzidos por Ruy Belo.
Jorge Luis Borges (Buenos Aires, 1899/Genebra, 1986) foi um escritor, poeta, tradutor, crítico literário e ensaísta argentino. 
De ascendência portuguesa e inglesa, estudou na Suíça, viajou pela Espanha, passou por Lisboa em 1921, esteve nos Estados Unidos e em França. De regresso à Argentina, desempenha várias funções: funcionário municipal, professor, tradutor. Depois da queda de Perón, passa a dirigir a Biblioteca Nacional. A cegueira, provocada por uma antiga lesão, já não lhe permite escrever, obrigando-o a ditar.
Intensamente lido e apreciado na América latina, só a partir da atribuição, em 1961, do Prémio Internacional de Literatura, é que se torna conhecido na Europa. A sua obra incide sobre o caos que governa o mundo e os seus livros mais famosos, Ficciones (1944) e O Aleph (1949) são coletâneas de histórias curtas interligadas por temas comuns: sonhos, labirintos, bibliotecas, escritores e livros fictícios, religião e Deus. A sua escrita contribuiu significativamente para o desenvolvimento do género de literatura fantástica.
De todos eles, escolhi a sua «Arte Poética», um valioso contributo para o estudo e conhecimento da Poesia, como forma privilegiada de arte e de expressão, em todos os tempos. E também de luta!

Arte Poética

Olhar o rio que é de tempo e água
E recordar que o tempo é outro rio,
Saber que nos perdemos como o rio
E que os rostos passam como a água.

Sentir que a vigília é outro sono
Que sonha não sonhar e que a morte
Que teme a nossa carne é essa morte
De cada noite, que se chama sono.

Ver no dia ou até no ano um símbolo
Quer dos dias do homem quer dos anos,
Converter a perseguição dos anos
Numa música, um rumor e um símbolo,

Ver só na morte o sono, no ocaso
Um triste ouro, assim é a poesia
Que é imortal e pobre. A poesia
Volta como a aurora e o ocaso.

                                     Arte Poética, in Poemas Escolhidos